"A ciclovia não foi feita para ser usada.
Há algum tempo atrás, Fernando Haddad respondeu em um programa de rádio que sim, ele achava que a ciclovia foi e é um sucesso.
E ao ser questionado sobre a qualidade das ciclovias, o prefeito disse que "foi a maneira que eu consegui tirar do papel".
Achei a resposta interessante e pensei por que raios uma rua dentro do bairro, as vezes uma baita ladeira, tem ciclovia e não tem uma bicicleta.
Cheguei a conclusão que a ciclovia não é para ser usada. Ou, de forma menos polêmica, a ciclovia não é exatamente para o ciclista.
A ciclovia foi feita para a cidade, e foi feita também para o motorista ver a ciclovia, mesmo que esteja vazia.
O motorista de carro precisa ter a consciência que existe um espaço em cada uma das ruas que não é dele. Que o seu motor, a sua gasolina, o teu vidro blindado não pode estar ali, naquele espaço vermelho feito para um outro cidadão.
Fazendo uma analogia, reclamar que uma ciclovia não é usada seria a mesma coisa que dizer que uma rua deserta não precisa de calçadas, já que ninguém anda naquela rua.
Pra que fazer uma calçada e sinalização, se ninguém anda ali?
Seria isso. Mas a calçada está lá pois um dia alguém pode estar. Uma mulher sozinha, uma criança, uma família, ou qualquer um.
Não existe rua oficial sem calçada.
Uma ciclovia não está lá para ter uma marcha de bicicletas em todo o tempo. Uma ciclovia tá lá pois potencialmente pode ter um outro cidadão, seja hoje, amanhã ou quando quiser.
Uma ciclovia está numa rua deserta para o carro saber que existe um espaço onde ele tem que respeitar.
Criar 400km de ciclovias na cidade não está justamente ali para que se ciclistas se locomovam entre 400km, mas sim para que o motorista saiba, durante 400km, que ele tem que respeitar o próximo.
Então, o que acho é que a ciclovia não foi feita para ser usada. Foi feita para ser respeitada."