Como filme de poker, Bem-Vindo ao Jogo é um péssimo romance. Não é a toa que a obra é mal vista pela maioria dos jogadores de poker, já que a única coisa boa que tem em relação ao jogo é o grande número de referências.
Bem-Vindo ao Jogo é desrespeitoso com o poker e toda a cultura que o cerca. Na trama, o personagem principal, Huck Cheever (Eric Bana), é um ótimo jogador que tenta conseguir US$ 10 mil para pagar o buy-in do evento principal da World Series of Poker – mas há uma série de problemas a partir dessa pequena premissa.
Apesar de ser um dos mais talentosos jogadores de poker do meio, reconhecido por todos seus companheiros de mesa, Cheever tem sérios problemas psicológicos, supervalorizando sua capacidade e falhando em uma das habilidades mais essenciais para os jogadores de sucesso: ele não sabe quando parar de apostar, o que invariavelmente o leva a perder tudo o que ganha. E depois de perder todo o lucro de suas sessões de poker, ele sempre recorre a trapaças e enganações, chegando ao ponto de se rebaixar a um vil batedor de carteiras para poder se manter no jogo.
Huck Cheever é filho de L.C. (Robert Duval), jogador veterano e duas vezes campeão da World Series of Poker que busca seu terceiro título. Um dos grandes problemas de Huck é sua relação com o pai, apesar dos (não tão grandes) esforços deste em se aproximar do filho. E curiosamente, o pai é um dos poucos personagens que não é enganado por Huck – provavelmente porque, mesmo Huck sendo um ótimo jogador de poker (que por isso mesmo não deveria precisar ser tão desonesto, como o filme mostra em uma ou duas cenas em que ele sai com os bolsos cheios depois de limpar os amadores), ele não consegue vencer o pai, que além de mais experiente e controlado, joga sempre da maneira mais segura e “seguindo a cartilha”, enquanto seu filho frequentemente ignora o senso comum para seguir seu instinto – e se dar mal no processo.
Bem-Vindo ao Jogo tenta ainda mostrar a cultura dos apostadores nativos de Las Vegas mas é mal sucedido ao caracterizá-los como personagens unilaterais, que passam todo seu tempo tentando vencer apostas cada vez mais esdrúxulas.
O pouco que se salva em Bem-vindo ao Jogo em relação ao poker são as diversas referências que faz à historia do jogo. O filme tem participações de vários jogadores e figuras do meio: Daniel Negreanu, Barry Greenstein (antes da barba), Sam Farha, Chau Giang, Ted Forrest, Minh Ly, Erick Lindgren, Jennifer Harman, Doyle Brunson, Johnny Chan, Hoyt Corkins, Antonio Esfandiari, Chris Ferguson, David Oppenheim, John Hennigan, John Juanda, Mike Matusow, Phil Hellmuth, Dan Harrington, Mimi Tran, Eric Seidel, Jack Binion e o diretor do WPT Matt Savage. E como o filme se passa em 2003, há ainda uma óbvia referência na fatídica mesa final à Chris Moneymaker e a impressionante vitória que transformou o mundo do poker, mas esta só é válida para quem conhece a história do poker, que é uma parcela mínima do público.
Quanto ao romance, o roteiro de Bem-vindo ao Jogo é ainda mais mal desenvolvido, colocando a personagem Billie Offer (Drew Barrymore) como interesse romântico de Huck Cheever apenas porque sim. Offer é uma inocente aspirante a cantora que chega a Las Vegas em busca de sua grande chance e cai nas graças do trapaceiro que, sem surpresa, acaba se apaixonando por seu alvo. A personagem de Drew Barrymore é vazia de qualquer sentido que não seja dar suporte ao astro principal, o que a reprova no teste de Bechdel desde sua primeira cena.
Pelo menos, a atuação de Eric Bana é convincente. Seu jeito canastrão é perfeito para o cafajeste “bem-intencionado” que é o personagem principal de Bem-vindo ao Jogo, enquanto Drew Barrymore é mais uma vez a mocinha ingênua e apaixonada, o que não foge aos costumeiros papéis da atriz.
Em tempo, os nomes dos personagens, Huck Cheever, L.C. e Billie Offer (e até alguns coadjuvantes como o “chino-mexicano” Chico Bahn), parecem ser propositalmente ridículos para combinar com a brega velha Las Vegas por onde o filme se passa, o que sinceramente não sei se conta como um ponto a favor para o roteiro.
Para resumir, Bem-vindo ao Jogo é um filme masturbatório para jogadores e fãs de poker que busca agradar apenas com suas referências ao mundo do jogo, mas esquece de ter um roteiro ligeiramente interessante para a maior parte do público, o que explica porque o filme falhou miseravelmente nas bilheterias.
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[…] que o personagem L.C. Cheever no filme Bem-vindo ao Jogo foi inspirado em Doyle Brunson. O fato é que Brunson foi consultor de poker no filme e treinou por […]
[…] que o personagem L.C. Cheever no filme Bem-vindo ao Jogo foi inspirado em Doyle Brunson. O fato é que Brunson foi consultor de poker no filme e treinou por […]