Acachapante vitória de Pluribus contra nomes como Linus “LLinusLLove”Loeliger e Greg Merson é a primeira de inteligência artificial contra mais de um humano.
Dias atrás comemorou-se os 50 anos da chegada do homem à Lua a bordo da nave Apollo 11 e, talvez com alguns traços de ironia, também poucos dias atrás a Inteligência Artificial deu um grande salto para os robôs ao vencer, pela primeira vez, um jogo de No-Limit Hold’em contra mais de um humano ao mesmo tempo.
A façanha foi obtida pelo “superbot” Pluribus, uma máquina desenvolvida pela Universidade de Carnegie Mellon e com parceria do Facebook.
E a vitória não foi uma simples vitória, mas uma verdadeira lavada no NLH 6-Max, o jogo mais popular do poker: o bot registrou um ganho de US$ 1.000/hora quando encarou os cinco humanos, em um jogo com blinds $50/$100.
O desafio consistiu de dois formatos, com cinco cópias do Pluribus encarando um humano, e cinco humanos enfrentando a máquina. No experimento envolvendo cinco jogadores contra a máquina, foram disputadas 10.000 mãos ao longo de 12 dias, com os jogadores identificados apenas pelos screen names “Player 1, Player 2” (mas sempre o mesmo jogador), e alguns dos maiores nomes do jogo foram responsáveis por “defender” a honra humana, entre eles o super craque suíço Linus “LLinusLLove”Loeliger, Greg Merson, Anthony Gregg, Nick Petrangelo e Seth Davies. Também participaram do desafio Jimmy Chou, Michael Gagliano, Dong Kim, Daniel McAulay, Sean Ruane, Trevor Savage, Jacob Toole e Jason Les.
JOGADAS E ELOGIOS
Todos os participantes, sem exceções, se renderam ao nível de jogo do superbot. Les chamou o Pluribus de “uma verdadeira máquina de blefar”.
“É um verdadeiro e monstruoso blefador. Diria que é um blefador muito mais eficiente do que a maioria dos humanos. E é isso que o torna tão difícil de jogar contra. Você está sempre em uma situação com uma tonelada de pressão que o AI está colocando sobre você, e você sabe que é muito provável que ele pode estar blefando”.
Tal exemplo pode ser conferido no vídeo abaixo, onde o bot adota uma linha pouquíssimo usual em um multiway pot.
Já o controverso Chris Ferguson, que também participou do desafio, disse que a inteligência é extremamente boa em extrair valor de mãos não tão fortes, e fazer as thin value bets, como você pode ver no vídeo abaixo.
Para Seth Davies, adaptar-se aos sizes pré-flops foi um grande e estimulante desafio, e essa mão onde ele aplica uma 4-bet serve de exemplo.
Michael Gagliano, por sua vez, afirmou que o Pluribus fez muito movimentos que um humano não faria em hipótese alguma, especialmente em relação aos bet sizings.
CRESCIMENTO DA IA E APLICAÇÕES DO BOT
O feito impressiona pela dificuldade que o poker representa: um jogo de informação incompleta, onde o jogador deve ser capaz de blefar, adaptar aos oponentes e ter uma gama de estratégia nas mangas, sempre significou uma dificuldade para as máquinas de AI. No longínquo 1997, a super máquina da IBM Deep Blue levou a melhor contra Garry Kasparov, no xadrez, e em 2017, um bot desenvolvido pelo Google venceu o melhor do mundo no go. No mesmo ano o Libratus, também desenvolvido pela Universidade de Carnegie Mellon, venceu duelos de heads-up contra Les, Dong Kim, Daniel McAulay e Jimmy Chou.
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No artigo de Tuomas Sandholm e Noam Brown Superhuman AI for multiplayer poker, publicado na Revista Science, os dois desenvolvedores do código explicam o interesse pelo poker em sua pesquisa: “Nenhum outro jogo recreativo captura os desafios da informação incompleta tão efetivamente e elegantemente como o poker”.
Segundo os pesquisadores, boa parte das aplicações do bot podem ser usadas na prevenção de fraudes e em sistemas de segurança, além de inúmeros outros campos onde múltiplos agentes fazem parte e podem organizar conluios.
Já sobre a preocupação de jogadores com os bots nas mesas, os desenvolvedores explicaram que o poker nunca foi o objeto primário da pesquisa, mas sim o desenvolvimento de sistemas de inteligência artificial, e que as principais salas possuem técnicas avançadas de detecção de bots.