Entrevista – José Irineu

Danilo Telles: Entrevistamos hoje o jogador profissional José Irineu, bastante conhecido no Fórum MaisEV e nas mesas de poker live de São Paulo. Irineu, obrigado por aceitar o convite, e fale sobre você.

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José Irineu: Tenho 30 anos, moro em SP. Jogo poker apenas e no momento estou grindando um cash muito bom live.

Moro com a namorada Renata que entende perfeitamente o jogo e me da tranqüilidade pra viver essa vida que é bem difícil.

Já fui jogador de basquete profissional, mas o máximo que eu cheguei foi a um time de segunda divisão estadual. Pensando hoje vejo que eu sempre gostei mesmo era da parte pensante do jogo, tanto que antes de abandonar tudo fui técnico. Joguei mais dois anos pela faculdade de Ed. física, mas acabei trancando.

Cheguei a jogar Xadrez na faculdade também, levando um vice campeonato universitário.

Eu sempre gostei da competição, do desafio, acho que por isso, mesmo jogando cash e torneio eu ainda tenho uma certa predileção por torneio.

Sou um cara muito sossegado, amo a Renata e no final das contas o que pra mim faz a vida valer a pena é ouvir Cartola batendo um papo com ela e tomando uma cerveja trapista ou uma barley wine ou ainda uma stout.

É nessa hora que eu percebo como é bom viver e o quanto sou sortudo por tudo o que eu tenho na vida.

Danilo Telles: Há quanto tempo você joga poker? Seu início foi difícil? Como você construiu o seu bankroll?

José Irineu: Comecei no final de 2005. Tive um início tranqüilo porque eu nunca pensei em viver de poker, as coisas foram acontecendo naturalmente. Até porque como todo mundo sabe, eu era totalmente quebrado antes do poker, nunca passou pela minha cabeça depositar.

No final de 2005 existiam uns freerolls no Party Poker de $5k e eram 3 por noite. Eu grindei esses torneios e consegui juntar $100. Logo na seqüência fiz uma FT de um torneio pra brasileiros e ganhei mais $100. Com esses $200 eu comecei a grindar sit go de $11 no Party Poker e comecei a jogar mtt´s também. Depois ganhei um MTT e ai as coisas foram acontecendo.

Daí passei a jogar live também e peguei uma fase muito boa no antigo Paradise, onde ganhei vários mtts regulares da casa, além de ter feito uma boa grana no cash game. O cash game de 4 anos atrás era muito mais explorável que o atual, foi muito fácil fazer dinheiro, mesmo com o meu nível de poker na época que era muito fraco. Era bem normal sair ganhando 3 buy-in.

Danilo Telles: Você se considera um jogador tight ou loose? Quão agressivo?

José Irineu: Como eu jogo sng, mtt e cash, tenho que me adaptar a cada jogo. Mas me divirto muito mais quando eu posso jogar mais loose. Meu jogo é muito agressivo, se eu achar que existe chance de o vilão foldar eu vou pressionar.

O que tem me divertido muito nesse cash live atualmente é que posso jogar muito loose e muito agressivo. Reencontrei o prazer de jogar poker, essa semana fiz uma session de 12 horas bem lucrativa.

Danilo Telles: Quais são as suas maiores qualidades no game?

José Irineu: Meta game, sem dúvida. Não é raro eu conseguir entrar na cabeça do adversário e conseguir alguns hero calls ou excelentes blefes.

Danilo Telles: Qual foi o seu melhor resultado jogando poker?

José Irineu: Já ganhei alguns mtts online, mas o resultado de maior expressão foi uma mesa semi final do Sunday Warm-Up, foi o torneio de maior relevância. Cash fiz uma sessão live de 25/25 de umas 14 horas que foi meu maior lucro de sempre, foi uma sessão absurda.

Danilo Telles: Você já teve um mês “down” no poker? Como foi essa experiência?

José Irineu: Sim, ano passado. Foi uma bad run sinistra, mas foi tranquilo porque eu sempre analiso meu jogo e não tinha nada de muito errado. Eu não tilto, posso momentaneamente perder um pouco o foco, mas paro por uma hora e passa, o que evita maiores problemas. Alias um jogador de poker precisa de uma vida equilibrada, um relacionamento que não cause problemas, paz em casa. Tudo isso somado ajuda muito a evitar o tilt, que é o maior inimigo de um jogador. Além disso sempre tive um bom gerenciamento de bankroll, não sentir a pressão da grana ajudou muito

Cheguei a conclusão que bad runs ocorrem quando algo na sua vida está errado, tanto que é comum bad run somado a problemas fora poker, como depressão. No meu caso específico foi bom pra repensar aspectos da minha vida e mudar conceitos. Nisso a terapia ajudou bastante, pra mim a terapia é fundamental na preparação como jogador.

Danilo Telles: Como é a sua rotina atualmente?

José Irineu: Minha rotina atualmente é a falta de rotina. Eu comprei um apartamento recentemente e a mudança está me deixando louco, não consegui internet ainda e tem uns detalhes que estão me consumindo. Mas tenho ido sempre ao final do dia jogar live, quase não tenho visto a Renata, quando ela chega eu já sai pra jogar, as vezes eu volto e ela já saiu pra trabalhar, mas está valendo a pena.

Após o BSOP Rio, quero ver se consigo engatar uma rotina de exercícios e poker live e online. To pensando em fazer kung fu. Mas meu foco mesmo é um grind insano até o fim do ano, então minha rotina vai ser otimizada pra que isso se concretize.

Danilo Telles: Qual(is) jogador(es) estrangeiros você admira e por quê? E brasileiros?

José Irineu: Isso é uma coisa que eu deveria fazer mais, ver os outros jogar, quase não vejo então não tenho muita referência de outros players. Já vi algumas vezes o Stevie444 jogando e curto o estilo dele. Pelos posts no 2+2 eu admiro o Spamz0r, jogador de HUSNG. O aaaaaaa (eu nunca sei quantos a tem no nick dele) joga muito também.

Brasileiros o melhor jogador que eu vi jogando foi o Federal e não sou só eu que digo, ele tem um estilo de jogo que me agrada muito, é uma pena ele ter parado de jogar – por outro lado também não vejo ninguém mais capacitado pra tocar o barco como ele está fazendo.

Sou muito fã da Maridu, além do poker pela pessoa que é. Gosto do jogo do Akkari, admiro demais o Decano, possivelmente o melhor mtt´er brasileiro. CK e Raul são os mestres, joguei uma vez live com o CK e o cara tem outro nível, muito experiente.

No cash online não tem como não citar o Dexx, manja muito do jogo e sabe viver a vida. Outro cara que me ensinou muito foi o MGP, minha fase atual no cash game se deve muito a ele, além de ser o cara mais honesto e gente fina que eu conheço. Gosto do Bueno, pela solidez do estilo dele. Royal Salute é um cara animal também. Outro que admiro é o Squallz, o cara consegue ter um nível excelente de jogo, jogando sng, mtt e cash, gosto de jogadores completos. Meu amigo rfl81 grinda de uma maneira insana e a história dele foi bacana, comprou 20 fichas de mim há 3 anos e nunca mais depositou.

Agora, o cara que mais me impressionou é o Goffi, é unanime que ele é o melhor jogador de live atual. O nível de pensamento dele, a maneira como ele lida com os parceiros e a humildade que ele tem são fora do comum.

Eu dei a sorte de conhecer muito cara bom e pude aprender muito com cada um deles. Sketch, Caio Brites, Will, Salsicha, Popeye, Amarula, Vitão, Vini, Marra, Norson… Tem muitos jogadores bons e provavelmente estou esquecendo alguns.

Eu fiz algumas amizades que acabaram se tornando off poker, são pessoas diferentes, que vêem o mundo de uma maneira muito parecida comigo. Capellani que virou uma super amiga, muito gente fina, maluca, totalmente parceira. Ratone que apesar de a gente se falar pouco, quando eu passei minhas férias no Rio foi super parceiro, esse fica até o fim da night e o Ekalil que no final do ano passado me deu alguns conselhos que me fizeram enxergar a vida de outra maneira.

Ainda vale uma menção honrosa, Juju Maesano pela força que ele vem fazendo desde o começo na divulgação do poker, um cara super coração bom, sempre disposto a ajudar qualquer um e de uma elegância na mesa que é difícil de ver.

Danilo Telles: Você já leu livros sobre poker? Quais lhe trouxeram mais benefícios?

José Irineu: Li muitos, alguns acho que hoje em dia estão bem defasados pro online. Psicologia do Poker me ajudou muito. Ace on the River mudou meu conceito de live. O livro do Joe Navarro (não lembro o nome agora) é muito interessante pra quem quer se aprofundar em tells.

Danilo Telles: Você usa algum software de poker? Se sim, qual?

José Irineu: SNG Wizard, Poker Stove, Poker Tracker e Tourney Manager. Abomino HUD, principalmente pra MTT. Eu não jogo massive multi tabling.

Danilo Telles: Se você tivesse que dar um único conselho para um iniciante, qual seria?

José Irineu: Não fique tão feliz na vitória e não fique tão triste na derrota.

Danilo Telles: Se você tivesse que começar hoje do zero a sua carreira, com um bankroll de $150 dólares, como o faria? O que jogaria e em o que investiria? E se o bankroll fosse de $1000 dólares?

José Irineu: Eu jogaria heads up sng de $5 com $150, fazendo o move up com $350. Com $1k eu jogaria live 1/2.

Danilo Telles: Qual é o jeito mais rápido de aprender a jogar poker?

José Irineu: Errando. Eu ainda não vi um jeito melhor de aprender do que errando, isso pra tudo na vida. As vezes um conselho não é tão levado a sério quanto a experiência vivida.

Depois jogando e estudando, mas de uma maneira intensa. Se existe semelhança entre poker e esporte, ela reside na dedicação. Eu já fui atleta profissional e a dedicação que o esporte exige é igual ao poker. Aqui vale a máxima, mais vale um mais ou menos esforçado do que um talentoso preguiçoso.

Danilo Telles: Você já fez alguma loucura com o dinheiro ganho jogando poker? Faria-a novamente? Como você gasta e administra as suas finanças atualmente?

José Irineu: Sim, ir jogar um torneio na Argentina totalmente fora do meu bankroll. Eu não me arrependi, mas não faria de novo.

A única coisa que eu gasto dinheiro é com cerveja especial. É uma paixão e não me importo de pagar R$50 em uma garrafa de cerveja, o que nem é tão caro fazendo a comparação com vinho. Por esse preço se toma uma cerveja top, já com vinho nessa faixa de preço se toma um vinho mediano.

A Renata administra nossa grana. Temos gastos normais, condomínio, luz, comida. Ela gerencia tudo.

Danilo Telles: O que você pretende fazer daqui pra frente na sua carreira de jogador de poker? Onde você se vê daqui a 3 anos?

José Irineu: Esse ano eu pretendo voltar com tudo ao live e não só em cash game. Voltei a estudar muito o jogo, estou muito motivado e é natural que os resultados apareçam, como tem acontecido. Tenho alguns projetos em andamento e esse ano vai ser um ano diferente pra mim. Tomei a decisão de ser o melhor jogador que eu puder ser, ainda tenho muito potencial pra desenvolver.

Daqui há 3 anos me imagino jogando o circuito live internacional, mas minha meta é que isso aconteça em dois anos.

Danilo Telles: Como você conheceu o MaisEV? E que parte(s) do MaisEV você mais gosta/freqüenta e porquê?

José Irineu: Através do blog do Riccio. Eu não freqüento uma parte específica do fórum, sempre olho o postados recentemente e respondo os tópicos que me agradam mais. A única parte que eu evito é BBV e Esportes, mas devo participar mais das discussões de mãos.

Danilo Telles: Você já falou no Fórum MaisEV que tem TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção / Hiperatividade). Como isso influencia na sua carreira de jogador?

José Irineu: Isso influencia bastante, para o bem e para o mal. Se eu acordar em um dia em que eu não quero jogar, não adianta forçar a barra. Eu não consigo me concentrar, esqueço que estou jogando, jogo spewy. Ja cheguei ao cumulo de inicar um mtt e parar no break pra ir no banheiro e esquecer que eu estava jogando. Quando voltei pro pc depois de umas 3 horas vi só a janela de table closed.

Mas também tem o lado do hiperfoco que é uma concentração absurda, quando eu entro nesse estado, consigo ignorar o mundo a minha volta e ter 200% de atenção no jogo. Quando eu hiperfoco em um jogo fica bem dificil pro field.

Danilo Telles: E como você busca melhorar nesse ponto da concentração?

José Irineu: Eu tento melhorar a questão da concentração estabelecendo uma rotina (ok eu sei que rotina pra um TDAH é um crime) o que é bem difícil pra mim. Atualmente eu saio de casa e penso, agora é hora de jogar e vou focar nisso nas próximas 6 horas pelo menos. Nesse periodo fico prestando atenção a todo momento em mim. A qualquer sinal de falta de concentração, eu levanto lavo o rosto e tento achar algum desafio na mesa. Acho que quem tem o TDAH não pode achar o jogo fácil, por isso fico a todo tempo me criando desafios que me mantém entretido no jogo.

Danilo Telles: Alguma dica para os jogadores que tenham o mesmo problema?

José Irineu: A dica pra quem tem TDAH é se conhecer, existem algumas coisas que a gente nunca vai fazer igual a um não TDAH, ficar se punindo por isso não ajuda.

Se conhecer também ajuda a definir qual jogo é melhor pra você. Eu tenho a teoria que um TDAH não tem um bom perfil pra jogar cash game, ou pelo menos não jogar por muitas horas seguidas. No cash o jogo não muda tanto. Ao contrário de um torneio que contém diferentes fases. Não estou dizendo que um é melhor ou pior, apenas que o cash não oferece tanta emoção quanto um MTT e isso pra um TDAH é péssimo. A tendência a jogar spewy depois da primeira hora é grande.

É importante quem está a sua volta saber e principalmente entender o que é o TDAH. A ajuda que a Renata me dá é fundamental na minha vida. Se ela não entendesse isso, viver de poker seria impossível.

Procurar algum tipo de ajuda profissional. Eu definitivamente decidi que não vou tomar medicação, mas faço terapia pra me ajudar com algumas questões como a impulsividade, característica bem comum do TDAH. Mas em casos graves de desatenção, de repente a ritalina pode ajudar.

Ter autoestima, é comum pra quem tem o transtorno ser muito criticado ao longo da vida. Aceite que você é diferente, porque quem te critica, tambem tem defeitos. Não deixe se abater. O transtorno tem características negativas, mas tem muitas outras positivas. Ache isso em você.

E por último e mais importante, ter garra e força de vontade, colocar a culpa no TDAH para os fracassos depois que você ja sabe o que é o transtorno não vai ajudar em nada. Existem muitas pessoas com o transtorno e grande parte delas vive normalmente, cada um tem sua maneira de amenizar o problema de atenção ou da hiperatividade, ache o seu.

Danilo Telles: Mande uma mensagem aos usuários do MaisEV.

José Irineu: Grindar é muito importante, mas viver a vida fora do PC é o que faz a diferença. A vida é curta, então aproveitem, arrisquem e não tenham medo de errar.

Não se comparem com outros players cada um tem sua velocidade.

Se pretende levar o poker a sério cuide da sua mente, o que eu vejo de mais errado são jogadores que ignoram isso. Considero autoconhecimento no poker fundamental.

De resto relaxe e aproveite, life is good!

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