Daniel “Gatão” Fala Sobre Sua Carreira Como Dealer

Daniel GatãoUm dos dealers mais conhecidos do poker brasileiro, Daniel “Gatão” Lima trabalha em todos os grandes eventos que passam por aqui, como LAPT, BSOP e o agora extinto BPT. Nessa entrevista, ele conta alguns detalhes de sua carreira.

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O que fazia antes de ser dealer?

Eu estudava administração em Belo Horizonte, na Faculdade PROMOVE, e trabalhava como gerente administrativo de um clube de livros, onde fiquei por 8 anos.

Depois disso fui pra uma multinacional, que tinha uns 700 funcionários. Trabalhei no departamento pessoal lá por 1 ano, até conhecer o poker.

Mas já fui até entregador de flores, trabalho desde novo.

Você já conhecia o poker antes de trabalhar como dealer?

Um amigo meu, “PCAYOBH” se tornou jogador de poker, conheceu através de um amigo dele, e me falou sobre o jogo.

Eu, sem conhecimento nenhum e a fim de fazer alguma coisa pra ganhar uma grana, fui chamado pra dar cartas num home game, ai tudo se iniciou.

E como se tornou dealer profissional?

Vi o potencial do poker e a possibilidade de ter uma boa rentabilidade, além da falta de preparo dos profissionais da época. Aí fui em busca de conteúdo e orientação adequada, mas com pouco sucesso, já que o trabalho era apenas desenvolvido na prática.

Aí passei a viajar pra observar os dealer de outros estados em seus trabalhos, e adquiri boa postura e informações pra criar meu método de trabalho, buscando facilitar o desenvolvimento do jogo sem favorecimento a nenhum jogador.

Como você aprendeu? Teve treinamento?

A principio sentei na mesa de poker e já achei uma grande novidade, sem desconsiderar o medo de chegar policia e me prender por estar ali (risos).

Aí sentavam ao meu lado alguns amigos e com 10 minutos de orientação eles já começavam a apostar entre eles e o que seria um treinamento virava um jogo.

Depois tive dois dealers que me deram orientação. Um dealer das antigas e muito conhecido na época com um apelido muito engraçado, o Luiz CORRERIA. Ele era muito bom e tinha uma boa técnica, e também a Gabriela Belizario que foi a única mulher campeã do BSOP.

Tive uma media de 2 horas com cada um, mas eu busquei vários vídeos de poker, filmes, etc. Mas na época não existia muito material, isso dificultou muito.

Nos primeiros dias de trabalho eu não sabia quem era o vencedor, aí entregava o pote pro que comemorava!

A galera morria de rir, mas ninguém queria dar cartas, todos queriam jogar.  Nem se preocupavam se eu sabia ou não, o jogo não podia parar.

Isso ainda em home games, ou já trabalhando em clube?

Em Belo Horizonte não tinha clubes, eram só home games na época, isso em 2008.

Em clube só fui trabalhar quando vim pra São Paulo. Só tinha o endereço do H2 e um email com convite pra ser dealer do BSOP e mesmo assim este convite era um que jogadores do BSOP receberam.

Aí eu peguei um ônibus em BH e fui pra SP sem endereço e sem trabalho, só com uma mochila nas costas.

Fiz uma entrevista pra participar do BSOP e por SP fiquei por quase 2 anos. Trabalhei em vários clubes, H2, VEGAS e outros.

Então seu primeiro emprego como dealer profissional já foi no BSOP?

Trabalhei quase 2 anos só em home games, e a partir de janeiro de 2010 iniciei no BSOP, participando ativamente até hoje.

A referência de profissional na verdade não existia muito, não tinha uma classificação pra ser profissional. Ou você fazia bem o trabalho ou tava fora. E quanto mais desenvolvimento tinha o jogo melhor você era considerado.

O que eu considero eficaz no meu trabalho foi a simpatia que tinha com todos os jogadores, que mesmo tendo passado por alguns perrengues, sempre buscava ser educado e paciente

O BSOP criou padrões e uma super estrutura que deu outros olhares pra profissão, que agora está recebendo o respeito merecido.

Falando em simpatia e paciência com os jogadores, sempre ouvimos falar sobre jogadores que culpam o dealer pelas cartas que recebe, ficam nervosos e etc. Isso acontece muito com você? Como lida com isso?

Acontece sempre, mas hoje menos devido ao poker atualmente ser mais estudado e provado que habilidade é maior que a sorte.

Hoje temos jogadores novos e mais preparados pras bad runs e também por muitas vezes já perceberem que tiveram uma ação errada quanto a sua jogada, tipo mãos consideradas marginais. Aí acabam dizendo não deviam ter pagado, etc.

Isso mudou muito em relação ao passado, quando o jogador considerava o poker um jogo de sorte e sempre esperava que as cartas dele fossem as vencedoras.

Eu brincava muito quando o jogador pegava no meu pé dizendo “você não me dá sorte, ou você nunca bate minha carta” e sempre falava que existe um documentário muito bom que se chama THE SECRET que trata do poder do pensamento, que a gente atrai o que pensamos.

Sempre levei pro lado brincadeira, e quando o cara me xingava todo eu apenas respirava fundo e acelerava o jogo.

Tem um tópico em nosso fórum onde vários dealers contam historias engraçadas que aconteceram com eles. Qual é a história mais divertida que você tem para contar?

Aconteceu muita coisa e vou tentar passar alguma aqui. Tinha um cara que jogava loucamente… ele estava no cash game, tinha $1200 em ficha, o jogo era $1/$2 e a média de fichas era de $300 a $550.

Ele recebeu as cartas e o jogo na sua ação já tinha sido reaumentado pra 70 sendo que o big era de 2, e ele ficou pensando e dizia alto se ia ou não… depois de um tempo ele foldou, aí abri o flop e bateu 5, 2 e 10, e ele ficou louco. Levantou da mesa e disse alto que não devia ter foldado a mão, e todos rindo dele. No turn, abre outro 5 e ele ficou desorientado e começou a gritar “eu devia ter ido”.

Apos a mão terminar ele disse que tinha 5 e 2, começou a gritar que estava de all-in eterno e colocou suas fichas todas a frente e foi pro banheiro lavar o rosto todo desequilibrado. E todo mundo na mesa rindo.

Foi uma sequencia de 8 all-ins sem ele olhar as cartas, aí ele ficou conhecido como All-in eterno.

E qual foi o caso mais sério que você teve, de jogador nervoso na mesa?

Uma vez quase vi um jogador desmaiar na mesa. Estavam jogando há cerca de 14 horas seguidas, e havia um jogador muito bêbado que se envolvia com todas as cartas que recebia, e todos adoravam, um verdadeiro derrame.

Tinha outro que havia jogado a noite toda no maior cuidado, sempre seguro pra não perder e ganhar cada vez mais, esperando sempre a boa oportunidade pra se envolver. Aí ele se envolveu num pote muito grande e a jogada foi a all-in no turn. Ele trincado com flush e o jogador já em estado de embriagues apresenta sua trinca todo alegre.  Me senti mal quando vi a trinca, e o jogador flushado me olhou e disse “Gatão não faz isso comigo”. E virei a quadra do bêbado, o rapaz que estava a frente no turn chegou a amarelar, se calou e ficou alguns segundos totalmente estático, e o bêbado comemorando sem noção. Mas ele se conteve acho que já tem uns 2 anos, e sempre se lembra disso na mesa.

Agora, caso mais serio nunca rolou comigo porque eu já antecipava a situação, não deixava uma situação chata chegar a um desentendimento. Eu sempre resolvi de uma forma mais amena as diversas situações menos agradáveis antes de ficarem serias e causarem um descontrole no jogo.

O que muito me preocupou foi proporcionar ao jogador tranquilidade pra ele jogar, uma vez que vejo que o poker é um jogo emocional, e tranquilidade é fundamental.

Junto com outros dealers, você já foi chamado pra trabalhar em eventos do LAPT. Como foi a experiência de trabalhar em um circuito internacional?

Foi algo ímpar na minha carreira. Pra mim o mais importante foi trabalhar a auto estima: sou capaz e vou conseguir, foi minha linha de pensamento.

Fui pro LAPT de Rosario, a Grande Final, um evento grande com todas as estrelas reunidas, vários americanos. Tudo era diferente desde a alimentação, e as dificuldades já eram na recepção do hotel.

O recepcionista do hotel não conseguia entender a gente nem o próprio amigo argentino que estava com ele conseguiu nos compreender. Mas logo deu tudo certo.

O primeiro contato com a equipe foi algo engraçado, o caminho do hotel pro cassino era realizado numa van, todos juntos, sendo que os argentinos eram a maioria. Mas particularmente não tive nenhum problema e ao contrario sou amigo de alguns até hoje, aprendi muito com eles.

São totalmente educados e rigorosos com horários. Todo dealer teria 30 minutos de almoço, eu era o único q tinha 1 hora. A comida era diferente de mais e eu comia muito, era muito bom.

Eles tem um conceito diferente de equipe, lá cada um pega e faz. Cada dia era um dealer que coordenava a equipe, não tinha um coordenador de dealer com se costuma ter no Brasil. Claro que tinha um com maior referencia. Eles sempre são pontuais com troca de dealer nas mesas, eu aprendi muito.

O idioma sempre será um problema, porque não importa em que país, fala-se muita gíria. Mas não tive muitos incômodos com isso. Só tive algumas dificuldades em me relacionar fora da mesa quando um jogador americano chegava pra conversar e eu esclarecia que não tinha inglês pra desenvolver a conversa. Mas no geral não foi nada que me atrapalhasse no trabalho.

Em alguns países, como recentemente no Panamá, há muitos problemas com dealers. Esse também foi um dos motivos pelos quais vocês foram chamados pra torneios fora do Brasil. Como você compara os dealers daqui com os de fora?

Em relação ao Texas Hold’em, o Brasil realmente tem os melhores, digo isso em proporção. Sendo que em um torneio de grande porte que acontece uma certa vez no ano também se tem dificuldades de conseguir pessoal totalmente preparado, pois muitos bons dealers têm seus trabalhos fixos.

Mas mesmo assim aqui no Brasil, pegando os dealers novos e mesclando aos mais antigos, o resultado é muito superior. Eu acompanhei a transmissão do LAPT Panamá, analisando o trabalho dos dealers, e o pouco que deu pra ver foi algo até diferente dos padrões que trabalhamos aqui e que também são mais seguros e fáceis para o desenvolvimento do jogo

Na Argentina trabalhei com dealers que são profissionais em blackjack, roleta e outros jogos que não temos contato aqui, aí acontece o que eu interpreto como falta de prática e do bom desenvolvimento, uma vez que só tem contato com o Texas Hold’em em eventos de grande porte.

Falando nisso, você é preparado para quais modalidades de poker?

Texas e Omaha. Outras modalidades não são comuns, são pouco jogadas aqui. Eu só vi um torneio de Razz, e foi pra poucos jogadores.

Isso não traz pro dealer brasileiro um bom retorno, e pro clube de jogo nem se fala, devido ao publico interessado ainda ser pequeno.

Você já pensou em trabalhar em cassinos e clubes fora do país?

Quando analisei o poker como meu futuro profissional busquei sim o exterior, mas apenas pros grandes eventos como LAPT, PCA e WSOP.

Comecei o trabalho no BSOP com o objetivo de chegar ao PCA, e pra isso eu teria que conseguir trabalhar no LAPT no Brasil e no exterior. Minha carreira toda foi objetivada e movida pelo desejo de estar nas Bahamas no tão conceituado PokerStars Caribbean Adventure.

Uma vez recebi um convite pra um cassino em Mar Del Plata, mas o exterior realmente não me interessava muito pra morar, apenas pra eventos.

Acredito muito no potencial do Brasil, economicamente. É claro que a vida fora do país sempre foi algo que nós brasileiros ficamos sempre interessados, mas viver no Brasil e ter um bom salário é o que todos nós buscamos.

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