Minha Transição de MTTs Para Cash Games – Parte 2

Olá usuários do MaisEV!

Primeiramente gostaria de pedir desculpas pela minha ausência no fórum tanto para escrever artigos como para participar ativamente das discussões.

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Não tenho dúvidas quanto ao fato de que na época em que eu participava mais das discussões sobre estratégia, além de dar uma força para os demais jogadores eu colocava a minha cabeça pra pensar e com isso ajudava a refinar meu jogo.

Mas cá estamos, em 2011. Ano novo, vida nova, objetivos e metas novos como sempre fazemos. Por esse motivo gostaria de começar a segunda parte deste artigo me comprometendo a participar mais do fórum novamente daqui pra frente. Espero que deixando isso explícito eu consiga me policiar mais e voltar a contribuir como sempre fiz antes. Vamos o resultado disso até o final do ano. 😉

No meu último artigo, me comprometi a escrever uma sequência sobre a minha transição de MTTs para cash games. Embora não tenha me aprofundado, falei basicamente das principais dificuldades enfrentadas, principalmente com relação às mudanças técnicas de uma modalidade para outra.

Nessa próxima parte, porém, tentarei enfocar um pouco mais na rotina, como ela muda e de que forma me adaptei mais facilmente a ela. Falarei ainda sobre como a margem de jogo nos dias de hoje influencia na acumulação do nosso capital de giro (bankroll) e por fim como meu estilo de vida de certa forma mudou.

Adaptando-se à nova rotina de trabalho

No artigo anterior, comentei sobre como uma rotina de um jogador de MTTs é bastante exaustiva. Você nunca sabe quando seu torneio vai acabar. A única coisa que tem certeza é que se jogar X torneios, vai ficar no mínimo Y horas jogando. E essa foi uma das maiores dificuldades que encontrei no início no cash, modificar a rotina.

Muitos jogadores utilizam stop loss para controlar suas perdas e eu não sou diferente. Frequentemente as coisas não funcionam como o esperado e embora você esteja jogando seu melhor jogo, ainda assim acredito que deve fazer uma pausa quando as coisas não vão bem. Algumas bad beats são suficiente para induzi-lo a jogar uma única mão pelo seu stack de forma equivocada, o que irá prejudicar muito sua winrate no longo prazo, e até hoje tento combater esses momentos de tilt que eventualmente ocorrem.

A utilização de um stop loss é algo extremamente difícil de se acostumar quando se vem do mundo dos MTTs por um motivo simples. Quando me dedicava aos torneios, sabia que ficaria às vezes no mínimo 6, 7 horas jogando, pois o intervalo entre o início do primeiro torneio da minha grade e o último era de 5, 6 horas de diferença. Com isso era certo que por pelo menos X horas eu estaria ali trabalhando.

Mas e quando você possui stop loss? Caso seu stop loss seja de 5 buyins, o que acontece quando você os perde em 45 minutos? Vai continuar jogando ou vai seguir sua estratégia de parar? Mas parar sendo que trabalhou por apenas por 45 minutos quando está acostumado a trabalhar por 7 ou 8 horas seguidas? O que vai fazer o restante do dia?

Embora aprender a parte técnica do jogo tenha sido bastante penosa, esse conflito entre “ter” que parar muito rápido e a necessidade de continuar jogando é muito difícil de absorver. E isso necessariamente vai acontecer vez ou outra quando as coisas não vão bem. Pra mim sempre foi difícil parar e tentar fazer outra coisa, como ler um livro, ver um vídeo de poker, tentar rever minhas sessions. Não tinha cabeça pra isso.

Hoje em dia consigo fazer pausas quando necessário de forma mais eficiente pois me tornei um “quitter” melhor. E confesso que o que me ajudou muito mesmo a entender e superar tudo isso foi livro daquele que todos conhecemos, Tommy Angelo, Elements of Poker. Este é de longe o livro que mais me ajudou a superar muitas das deficiências não técnicas que eu possuía (e ainda possuo) no meu jogo e que considero leitura obrigatória para qualquer jogador sério de poker. Hoje em dia consigo parar e fazer outras atividades quando as coisas não vão muito bem, mas isso é algo que vem com o tempo, experiência e, o mais importante, tentando. Somente a força do hábito consegue com que você trabalho sua mente a fazer algo que não tem vontade embora saiba que é necessário fazer.

Margem de jogo, fator sorte e bankroll

Um outro livro que gostei bastante e também me permitiu adaptar melhor ao mundo dos cash games foi o “Treat Your Poker Like a Business”, de Dustin “Leatherass” Schmidt. Esse livro me mostrou e fez entender um pouco melhor quais são as vantagens de se jogar cash games. Embora eu acredite que o autor talvez defenda de forma um pouco exagerada os cash games, concordo com muitas das coisas que ele diz.

Um dos capítulos do livro fala sobre o que jogar, torneios ou cash. Não serei hipócrita. O “glamour” que envolvem os MTTs, pelo menos eu, acho fascinante. Não pelas notícias, ranking ou qualquer exposição na mídia. Mas a conquista em si de uma vitória é algo que lava alma. E não só a vitória é extremamente saborosa, mas o prêmio que se conquista só a torna ainda mais viciante. Essa adrenalina, essa sensação de “estar no topo” é difícil de deixar para trás.

O problema é que esta é a única parte que todos vêem. Todo mundo sabe e ouve quando você crava um torneio, mas a não ser que você “twite” para seus seguidores, ninguém fica sabendo dos dias, ou até semanas, que se passam sem você conseguir um único top 3 de um torneio. E é nisso que eu penso toda vez que fico tentado em voltar pra essa modalidade (hoje em dia nem tanto, mas isso aconteceu muitas e muitas vezes, a vontade de voltar a grindar MTTs sempre vinha à tona). Essa “falta do resultado” por longos períodos é muito desgastante e às vezes faz você se perguntar se esse jogo que jogamos é justo. Tenho certeza que qualquer jogador sério de torneios já teve essa sensação vez ou outra na carreira.

Obviamente isso também acontece no cash, mas o principal problema dos torneios quando se está numa má fase é a amplitude dessa variância. Por esta razão, e esse é outro motivo pelo qual no momento estou me concentrando mais nos cash games, o seu bankroll para torneios deve ser muito maior do que para cash games.

Antigamente, acreditava-se que ter em média 100 buy-ins fosse suficiente para jogar tranquilamente torneios. Nos dias de hoje, com os jogos tornando-se cada vez mais e mais competitivos e os oponentes tornando-se cada vez melhores, o fator sorte tem influenciado cada vez mais os resultados no longo prazo, levando a necessidade de aumentar esse número para, na minha opinião, três vezes esse valor.

Como o edge sobre os oponentes é cada vez menor, mais necessário se torna ter que aproveitar pequenas margens matemáticas. Se há 6 anos atrás esperar por uma mão boa para ir all-in quando se está short em um torneio era comum, o comum hoje é ir de shove em uma situação que apresente um +cEv de 1 SB. Nunca me esqueço quando há um bom tempo atrás, estava assistindo um torneio do C.K. e ele pagou no BB um shove do SB com algo como A4o, apenas um As alto. Achei aquilo impressionante. Hoje em dia se você larga seu K9o pro shove de um SB você pode estar jogando de forma bastante explorável.

O mesmo também acontece em cash games. Há uns 2 meses atrás, um bom regular, que eu respeito bastante, jogando fora de posição adotou a linha de 4bet e call no meu 5 bet shove com 55 por exemplo. E ele estava certo pois eu tinha A4s. Embora pareça uma situação simples, o que podemos extrair de uma jogada dessas? Ela veio de um jogador muito bom. Não dá para simplesmente olhar a mão e achar que ele está tiltado ou jogou mal.

O que é possível perceber é que ele está disposto a tentar aproveitar qualquer margem mínima sobre outro adversário apenas para não jogar de forma explorável. E é isso que vem tornando os jogos de hoje cada vez mais “perigosos”. Com uma margem tão pequena sobre outros bons jogadores, deixar a sorte desempenhar seu papel em algumas situações torna-se de certa forma necessário. Caso contrário, um jogador atento pode se aproveitar das suas tendências e extrair seu dinheiro no longo prazo sem que você ao menos perceba o que está acontecendo.

Onde eu quero chegar com tudo isso é que com margens cada vez mais estreitas de vantagem sobre outros jogadores, seu bankroll deve ser cada vez maior para suportar as amargas flutuações. Se você pudesse colocar 10% do seu bankroll em uma única chance de jogar um dado para cima, sendo que caindo de 2-6 você ganha e 1 você perde, tenho certeza que pegaria essa aposta sempre e muito provavelmente colocaria uma porcentagem maior na jogada. Talvez até 80%.

No entanto, suponhamos que ao invés de um dado você tenha agora um poliedro de 10 lados. Ao jogá-lo, saindo as faces de 1-4 você perde e de 5-10 você ganha, podendo jogá-lo infinitas vezes. Você sabe que em infinitas jogadas, conseguirá sair vencedor. Mas ai surge a pergunta: Qual o percentual que estaria disposto a colocar do seu bankroll em cada jogada? 20%? 30%?

Acho que já é possível entender onde quero chegar com isso. E sinceramente é assim que vejo o poker, tanto MTTs quanto Cash hoje em dia. Deixamos o dado de seis lados há um bom tempo e estamos jogando com uma forma geométrica com muito mais lados (entenda-se muito mais bons jogadores). E isso requer de nós mais “pulmão” para suportar as fases ruins. E nesse ponto o cash se sobressai sobre os MTTs.

Como as oscilações em MTTs são mais freqüentes, assim como sua amplitude (às vezes se perde muito em um bom tempo para recuperar tudo em um único dia), mais capital será necessário. Se seu desejo ainda é não diminuir mais o nível de buy-ins que vem jogando, seu bankroll deve ser ainda maior. Isso quer dizer que você precisa continuar guardando dinheiro por períodos mais longos de tempo, até alcançar um número que acredite ser adequado para os níveis que vem jogando. Isso leva tempo e te priva de outras coisas.

Em cash seu bankroll não precisa ser tão alto para jogar níveis equivalentes em buy-ins de torneios. Isso está longe de ser uma regra, mas eu pessoalmente acredito que para se cumprir uma grade com bons torneios garantidos, com os melhores jogadores e em horários nobres, eu diria que 300 average buy-ins seria o mínimo necessário. Já para cash alguns consideram 50 buy-ins um bom número (eu particularmente adoto mais que isso).

Com isso é mais fácil você manter o valor ideal por mais tempo jogando cash do que jogando torneios (pois a oscilação deste último é maior) e com isso converter as “sobras” em dinheiro para seu próprio uso.

Claro, isso é só uma observação extremamente pessoal, mas é como funciona para mim. Hoje tenho um bankroll que me satisfaz para continuar jogando cash sem ter que aumentá-lo tanto, mas que precisaria ser maior para os mesmos níveis de MTTs caso jogasse apenas esses últimos.

Lifestyle

Ter uma agenda que nos permita dar maior atenção as prioridades sem esquecer de dar atenção a outros fatores cotidianos é algo muito importante para se ter disciplina. Saber separar bem as horas de lazer das obrigações é essencial para encontrar um bom equilíbrio que te traga boa qualidade de vida.

Não é novidade alguma que quando se joga cash games, você literalmente pode entrar e sair de um jogo quando bem entende (embora às vezes isso possa parecer deselegante). Essa sem dúvida é uma das grandes vantagens dessa modalidade, pois você não fica tão preso ao jogo e pode aproveitar seu tempo para fazer outras coisas. Mas como isso se refletiu pra mim, que já passei por ambas as experiências?

Quando me dedicava exclusivamente aos torneios, costumava começar a jogar por volta das 13h e seguia até pelo menos às 20h. Basicamente não conseguia programar nada para a noite de um dia útil de jogo. Caso quisesse fazer algum programa com amigos ou namorada, seria obrigado a não me registrar nos últimos torneios da tarde. Isso não é necessariamente um problema, mas o que me incomodava era não poder ter tempo livre quando as outras pessoas fora do meu mundo do poker tinham. Vários foram os “futebas” que tive de abrir mão para poder atender à minha grade de torneios.

Ultimamente tento manter uma rotina bem mais parecida com o horário da maioria dos cidadãos comuns. Tento acordar cedo e realizar uma session pela manhã até o meio-dia. Apesar do tráfego menor nesse horário, não jogo muitas mesas, o que me permite preencher meu número ideal com mais facilidade. Paro para almoçar e retomo novamente por volta das 14h e sigo até as 18h quando paro para correr e malhar um pouco. Assim, tenho a noite livre para, se quiser, realizar outra session, ler um livro ou fazer algum programa diferente.

Certamente não estou querendo dizer que é impossível ter uma programação mais flexível jogando torneios. O único problema é que a maioria deles, com boas premiações garantidas, é realizada a noite, quando o volume de jogadores é bem maior.  Isso te deixa meio “prisioneiro” do período noturno e, pelo menos para mim, foi uma mudança agradável que me permitiu ocupar melhor meu tempo e aproveitá-lo também com outras pessoas.

Não quero deixar esse artigo ainda mais longo para não torná-lo maçante, mas essas foram as principais mudanças, além daquelas técnicas, pela qual passei durante a transição. Atualmente, com os jogos ficando cada vez mais difíceis (haja vista da quantidade enorme de jogadores que vivem – e por sinal vivem muito bem – de rakeback), creio que para mim, continuar no cash seja atualmente a melhor opção, principalmente por causa da variância. Mas a melhor parte disso é que não preciso deixar de jogar torneios. Muito pelo contrário, hoje em dia sinto que meu edge sobre o field aumentou de forma significativa, e isso me incentiva a jogá-los vez ou outra, sempre acompanhados das minhas mesas de cash. Creio que o mais importante é não ver as duas modalidades como excludentes. O importante é ter foco.

Boa sorte a todos e até a próxima!

Nakama.

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