Entrevista – Juliano Maesano

Juliano MaesanoDanilo Telles: O entrevistado de hoje é editor da revista de poker FLOP e diretor de torneios, além de usuário ativo do Fórum MaisEV. Juliano, fale um pouco sobre você.

 

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Juliano Maesano: Bem, tenho 33 anos e moro em São Paulo. Faz algum tempo que não tenho nenhuma atividade fora do poker. Tudo o que faço é ligado ao jogo, mas cada vez menos como jogador – infelizmente, para a maioria dos meus adversários, que perderam uma molezinha. Sou formado em Cinema e a maior parte da minha vida trabalhei com televisão. Já fui assistente de produção, assistente de câmera, depois produtor, editor e finalmente cheguei a diretor de TV e vídeo. Acho que isso de fazer de tudo um pouco vem de mim, por que também no poker e na Revista Flop eu acabo fazendo de tudo um pouco (ou de tudo muito, mesmo): escrevo, reviso, faço a capa, bato fotos, diagramo, passo fax, trato fotos e acabo coordenando todas as área da revista de A a Z, dos trabalhos mais operacionais até os mais diretivos.

Danilo Telles: Há quanto tempo você joga poker? Seu início foi difícil? Como você construiu o seu bankroll?

Juliano Maesano: Eu jogo poker desde muito novo. Na minha casa, com meus pais e meu irmão, nós sempre jogamos muitos jogos de tabuleiro e baralho. E o poker fechado era jogado desde que eu era pequeno. O meu pai tinha amigos que vinham em casa semanalmente para jogar, também, e a gente sapeava um pouco. Aliás, na minha casa sempre sai briga, até hoje. Quando alguém joga mal ou outro distraído descarta um coringa, é xingamento pra todo lado. Ninguém joga pra perder, e isso passou pro poker também – já que mais de uma vez nós nos eliminamos de torneios grandes. Meu pai me quebrou em um evento no Paradise há muitos anos, lol, era pai eliminando filho no “tapa”, rsrsrs. Entre nós, o jogo é jogado e o lambari é pescado mesmo.

Já o poker moderno, Hold’em e online, eu comecei acho que em 2002 ou 2003. Estava com a família no Mirage, em Vegas, e jogamos Stud. Acho que tinha só uma mesa de Hold’em, no máximo. Daí lá peguei uma CardPlayer e abri uma conta no PartyPoker, que uso até hoje. Na época o negócio era Limit Hold’em. Uns anos depois conheci o Circuito Paulista e participei da 3ª etapa, na casa do Fábio Cunha, bem no início mesmo, quando fiquei em 3º lugar, eliminando o Billy na mesa final. Fiz parte do movimento que amadoristicamente fundou as bases do que o poker veio a representar hoje no país; e me orgulho muito desse fato e daquela turma.

Danilo Telles: Você se considera um jogador tight ou loose? Quão agressivo?

Juliano Maesano: Eu me considero um jogador tight. No início eu era ridiculamente tight, estilo Dan Harrington – ou, na verdade, bem mais “rocha”. Mas acredito que todo iniciante deva procurar ser tight até dominar melhor o jogo. Poderia dar mil razões pra isso mas não creio que aqui seja o local para debater minha visão extensamente. Meu jogo abriu um pouco depois da WSOP 2007 e muito mais após a WSOP 2008, após anos de contato com grandes jogadores internacionais e troca de informação entre os melhores jogadores brasileiros. Mas acredito que ainda sou um pouco tight. Em NL Holdem me tornei um pouco mais agressivo, pois era uma evolução natural e necessária. Em torneios de mixed games, por exemplo, não sou muito agressivo até hoje. Discuto muito com o Akkari sobre isso, e nós temos visões bem diferentes nesse ponto.

Danilo Telles: Quais são as suas maiores qualidades no game?

Juliano Maesano: Te juro que não sei. É muito duro falar de minhas qualidades, pois, como falei acima, algumas pessoas podem achar justamente que elas são o meu defeito, até por adotarem um estilo diferente do meu. Mas, pensando bem, acredito que hoje o meu melhor é a leitura de mãos do adversário, no jogo ao vivo. Já no online, eu nunca me aprimorei e investi nessa modalidade. Sempre que entrava online era pra me divertir e relaxar.

Danilo Telles: Qual foi o seu melhor resultado jogando poker? (Torneios ou cash.)

Juliano Maesano: Tenho muitos poucos grandes resultados, mesmo porque na modalidade em que estudei e me aprimorei, mixed games, existem poucos torneios live e como já disse o online não é muito a minha praia. Mas sem dúvidas o meu melhor torneio foi o 10º lugar no SHOE da WSOP 2007. Em cash, tentei jogar uns 2 meses e no máximo saí uma noite com 12K up, pra perder metade disso dois dias depois para um out, mas sempre live, quando estou em minhas viagens ao exterior. Não gosto da rotina de jogar cash online.

Danilo Telles: Você já teve um mês “down” no poker? Como foi essa experiência?

Juliano Maesano: Eu nunca tive um mês down, nem up. Eu nunca joguei diariamente ou regularmente. Tive fases de jogar horas todo dia e fases onde passava meses sem jogar. Nunca computei nada, sou um péssimo exemplo. Por tudo isso, justamente, devo ter tido dezenas de meses up e down sem ter controle.

Danilo Telles: Como é a sua rotina atualmente?

Juliano Maesano: Acordo cedo, há uns 3 meses, entre 8h e 10h, e fico 40min no trânsito até o escritório da Flop. Daí sento e só saio de lá entre 23h e 3h da manhã. Às vezes consigo sair para comer, mas não é muito comum. As padarias e deliveries da região que adoram isso! Jogar poker live – há meses que não sei o que é isso. Jogar online, de vez em nunca engato em algo rápido na madrugada, mas é bem raro mesmo, só pra relaxar.

Danilo Telles: Qual(is) jogador(es) estrangeiros você admira e por quê? E brasileiros?

Juliano Maesano: Essa é muito dura. Eu gosto do Chris Ferguson, Greg Raymer e de um que fiz amizade, o Chip Jett. O Humberto Brenes também tem uma leitura incrível, sabe muito. Também, deve jogar poker live há mais de 40 anos, né!? Na verdade é muito duro avaliar, mesmo. Depois que a gente está um pouco mais perto dessas pessoas não dá para dizer – ainda mais dos que conhecemos pouco na mesa. Se você perguntasse dos que eu não gosto, daí eu teria vários!

Sobre os brasileiros é duro por um lado, mas fácil por outro. Primeiro que todos são meus conhecidos e quase todos meus amigos, o que é ruim pra eu falar aqui. Mas por outro lado eu já joguei ou acompanhei muitos, e posso dizer de quais eu gosto mais, como jogadores. Além do que, eu odeio as entrevistas aqui, e em outros lugares, onde o cara diz que não pode falar porque pode chatear os amigos. Eu me queimo com “amigo” que não sabe entender uma coisa como essa, assim como me queimei com amigos que criticaram as indicações ou premiados no Prêmio Flop. As pessoas têm que entender o contexto de um voto ou de uma resposta. Eu nunca fiquei chateado quando não me citaram ou fui esquecido. É bom notar que é minha opinião pessoal devido ao que agrada o meu estilo de jogo.

De leitura de adversários e jogo ao vivo, acho que o Federal é imbatível. Ele sabe exatamente o que você tem na mão. Gosto muito da linha de pensamento do Mojave, principalmente nos mixed games. De experiência e stakes que joga, acho que ninguém alcança o CK nos dias de hoje. Ele está grindando pesado no Full Tilt e eu admiro muito isso, assim como o Zidane no PS. Já o Akkari é outro que sempre conversou muito comigo e me deu dicas valiosas. Acredito que, com a experiência que adquiriu nos últimos 2 anos, não tem como ser esquecido.

Mas veja só, eu cito justamente os que mais conversam comigo sobre o jogo, portanto tem muitos outros muito bons, como por exemplo o Caio Pimenta e o Decano, mas que nunca conversaram muito comigo sobre o jogo em si. Daí não dá para eu analisar.

Danilo Telles: Você já leu livros sobre poker? Quais lhe trouxeram mais benefícios?

Juliano Maesano: Sim, claro. Acredito que todo jogador devia ler alguns livros. O meu primeiro foi o “Play Poker Like the Pros” do Phil Hellmuth, que comprei no mês que lançou, em Vegas. Dali em diante comprei pelo menos mais uns 10 livros, e o segundo que li por completo foi o “Hold’em Poker for Advanced Players” do Sklansky. Duro dizer qual trouxe mais benefício, mas lembro que absorvi muita coisa que li no “The Full Tilt Poker Strategy Guide Tournament Edition”, editado pelo Michael Craig, que jogou na minha mesa quando cheguei na semifinal do SHOE. Considero também os livros do Leo Bello – até porque já li trechos do novo não-oficialmente – muito importantes para o Brasil e muito bem escritos.

Danilo Telles: Você usa algum software de poker? Se sim, qual?

Juliano Maesano: Já baixei vários mas, sinceramente, nunca consegui usar direito. Comprei o PokerTracker há um ano e usei uns meses, mas formatei o HD um dia e nunca mais instalei de novo. Como eu já disse, não tenho uma rotina de jogo constante online.

Danilo Telles: Se você tivesse que dar um único conselho para um iniciante, qual seria?

Juliano Maesano: Um único é duro, hein!? Vai ter que ser sobre bankroll, então. Nunca façam como eu, que quando tenho $130 online já entro em dois SNGs de $22 e, se não bater, já me queimo e vou pra um de $75.

Danilo Telles: Se você tivesse que começar hoje do zero a sua carreira, com um bankroll de $150 dólares, como o faria? O que jogaria e em o que investiria? E se o bankroll fosse de $1000 dólares?

Juliano Maesano: Se eu tivesse que começar, sério mesmo, eu provavelmente entraria em mesas de cash game online de Stud HiLo de uns $0,25 a $0,50 e alguns SNGs turbo, baratinhos, de HORSE e 8-Game, talvez.

Danilo Telles: Qual é o jeito mais rápido de aprender a jogar poker?

Juliano Maesano: Aprender a jogar, mesmo, é sentar com gente que joga e ver o jogo ao vivo. Aprende em menos de 10 minutos. A graça do poker é essa. Por mais besta que seja o ditado, aprende-se em pouco tempo mas leva-se uma vida inteira para dominar. A graça também está aí: tem gente que quer só brincar, e podem fazê-lo.

Danilo Telles: Você já fez alguma loucura com o dinheiro ganho jogando poker? Faria-a novamente? Como você gasta e administra as suas finanças atualmente?

Juliano Maesano: Não, nunca fiz nada extravagante, mesmo porque nunca ganhei muito dinheiro com o poker, acabei aceitando as privações como jogador de ser o responsável pela Flop e todo trabalho que isso me gera. Há muitos meses que eu não jogo seriamente ou regularmente. Tudo o que tinha e ando conseguindo está sendo re-injetado no poker e nos nossos projetos.

Danilo Telles: O que você gosta de fazer fora do poker? Quais são seus hobbies?

Juliano Maesano: Vai parecer piada, mas há tempos que eu não sei o significado do termo “fora do poker”. Hoje, e há mais de um ano, tudo que eu faço tem o poker no meio, e assumo que isso nem é bom ou legal. Mas é a verdade. Se eu viajo com a família, aproveito para levá-las em uma viagem ou feriado com algum torneio que tenho que cobrir, pois não terei outro dia livre para vê-las. Durante os fins-de-semana é a mesma coisa, sempre tem algo para cobrir, discutir, decidir. Quando estamos juntos, sempre alguém me liga para contar algo e me faz ter que entrar na internet, responder um email, ver alguém chegando numa final. O poker é hoje parte integrante da minha família, não tem escape.

Danilo Telles: O que você pretende fazer daqui pra frente na sua carreira de jogador de poker? Onde você se vê daqui a 3 anos?

Juliano Maesano: A minha carreira como jogador está comprometida, hoje, porque não tenho mais tempo de jogar. Eu pretendo voltar a jogar no fim do ano, porque até lá o ritmo tá muito puxado e não terei muito tempo. Gostaria de, em 2 ou 3 anos, voltar a jogar seriamente, e acho que tenho muito o que melhorar até lá. Até porque, jogar como vinha jogando antes, sem tempo, cabeça ou paciência; e isso não dá muito certo. Só não sei se algum dia eu terei tempo livre e cabeça sem preocupações para jogar como deveria. Acho que não será tão cedo.

Danilo Telles: Como você conheceu o MaisEV? E que parte(s) do MaisEV você mais gosta/freqüenta e porquê?

Juliano Maesano: Eu conheci através do blog do Riccio, quando ele anunciou a estréia. Eu praticamente só freqüento o fórum, mas de 15 em 15 dias dou uma peneirada em todas entrevistas que não li e nos artigos. No fórum, vou direto em Poker em Geral e depois pincelo Torneios Live, Off Topic, e o resto.

Danilo Telles: Qual sua opinião sobre o poker nacional em geral?

Juliano Maesano: Tem muitas respostas aí. O nível dos jogadores de poker brasileiros, em geral, é médio para fraco. O que é normal pelo pouco tempo de existência e desenvolvimento da prática do poker no país. Os jogadores de ponta, os nomes famosos do Brasil, acho que não devem nada aos jogadores que surgem em outros países, dessa mesma geração. Agora, se for querer comparar alguém com um Hellmuth, Ivey ou Negreanu, daí não dá, mesmo. Precisamos de uns 20 anos ainda, porque, sinceramente, poker é experiência. Acredito que é só jogando horas e horas, seja isso em poucos meses ou em 20 anos, é que o jogador evolui.

Danilo Telles: Uma pergunta que muitas pessoas tem feito. Como você imagina o futuro do poker? E no Brasil?

Juliano Maesano: Eu vejo um futuro muito brilhante para o poker aqui no Brasil. Fora do Brasil não vejo muita mudança, pois acredito que não há como explodir mais. Acho que vai continuar na onda por muito tempo, sem queda. Agora, no Brasil, acho que em 2009 e 2010 a coisa vai pegar fogo, mesmo. Esse ano ainda, já acredito que teremos o poker nos canais abertos de TV e na boca do povo.

Danilo Telles: As próximas perguntas foram feitas por usuários do nosso fórum.

r2arthur: A pergunta que não quer calar, por que você escreve em sonetinhos?

Juliano Maesano: Não sei por que comecei a escrever assim. Acho que porque eu não gostava do jeito que alguns sites quebravam minhas linhas, mudando o foco do que eu queria dizer. Acho que deve vir de uma época em que eu fazia um programa de TV e alem de dirigir e editar eu fazia legendas de filmes. Daí eu sempre implicava com as duas linhas das legendas, procurando a melhor forma de dividir a frase em duas linhas para a melhor compreensão…

r2arthur: Como surgiu a FLOP?

Juliano Maesano: A Flop surgiu quando fui informado que havia micado um projeto que eu tinha de programa de TV na Band. Estávamos com o horário já na grade e o Departamento Jurídico mandou parar o projeto, na época. Daí tive a idéia de fazer uma revista, que não dependeria de ninguém para veicular. Liguei pro Akkari e perguntei se ele topava, ele entrou na hora, e trouxe o Edu Parra. Criamos aos trancos e barrancos, já que nenhum de nós sabia nada sobre revistas. O Parra acabou tendo que sair um pouco do poker e daí veio o Federal, que trouxe conceitos administrativos e mercadológicos para a revista. Abrimos uma editora própria, alugamos meio andar, profissionalizamos o processo e daí a coisa andou. Eu diria que a Flop é um filho meu, adotado pelo Akkari e que o Federal colocou a criação no eixo.

Billy: Hoje em dia se considera mais jogador ou mais empresário? Lembro que nos primórdios do poker você era “para baixo”, ou assumido que não era o melhor dos players e que geralmente perdia na internet. Logo depois veio a chance da Flop e algumas outras frentes de trabalho. Você decidiu investir pesado nisso devido ao fato acima citado? Ou foram portas que se abriram e você foi “abraçando” e quando viu já era?

Juliano Maesano: Hoje em dia sou BEM mais “empresário” e/ou uma “personalidade” do poker (lol). Não tenho muito tempo para jogar, e quando consigo jogo sem paciência ou com a cabeça em outras preocupações. Realmente nunca me considerei o melhor da nossa turma de jogadores, se bem que na minha visão eu sou muito melhor do que alguns amigos pensam, no Hold’ em principalmente. Nos outros jogos quem já jogou comigo costuma achar que eu sei mesmo o que estou fazendo, e eu acho que sou muito forte em Stud, por exemplo, mais ainda o HiLo. Na internet eu realmente nunca levei jeito. Meus maiores resultados foram no PokerRoom umas cravadinhas de 3K e depois no PS eu ganhei um 5+R que deu 7K e poucos dias depois uns 5K em terceiro, no mesmo torneio, acho. Fora isso só levo paulada.

Eu não decidi investir nos projetos porque não ia bem no jogo, eu sempre achei que seria mais legal garantir um dinheiro do que jogar para consegui-lo. Mesmo porque a minha situação de estar casado e com uma filha nunca me deixou a vontade para me aplicar ao jogo. Se eu morasse com meus pais na época que surgiu o poker, eu certamente poderia ser um dos top10 players.

Outro fato também é que eu sempre quis fazer o modo de vida do poker ser aceito – eu sempre quis lutar pelo poker -, portanto eu sempre entro nas idéias de sites, revistas, TV, federações, o que for preciso para ajudar o jogo. E dai que eu me envolvo com tanta coisa que mal posso jogar. A verdade é essa, por mais idiota que possa ser.

Danilo Telles: Juliano, muito obrigado pela entrevista. Para encerrar, mande uma mensagem aos usuários do MaisEV.

Juliano Maesano: Continuem no caminho certo, debatendo e discutindo. Só evitem zoar demais gente nova que aparece, que não entende o espírito das brincadeiras sem conhecer as pessoas.

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