Disserte, mano.
Versão Imprimível
Basicamente porque ele tirou do sovaco a premissa do raciocínio dele, de que só a classe média brasileira é meritocrática.
Não tem absolutamente nenhuma lógica falar que "no mundo dos ianques, o mérito não dá segurança social alguma". É exatamente o contrário. Se você tem mérito, você acumula grana e não vai depender do Estado pra cuidar da saúde (porque tem grana pra pagar um plano top ou mesmo particular), e nem vai perder casa financiada porque você não depende de financiamento pra conseguir a sua casa. Quem quebra porque não consegue pagar um tratamento de saúde ou vai morar no carro porque não conseguiu pagar a hipoteca da casa são exatamente os que não tavam tão bem de vida antes da crise.
Também é falso que grande parte da classe média europeia se sustente do Estado Social, ou ao menos que se sustente mais do que o Brasil. Isso pode ser válido pro funcionalismo público, mas também se aplica aqui. Não há nenhuma diferença relevante que permita a ele fazer essa distinção.
Em resumo, ele tira sua conclusão a partir de uma situação pontual dos médicos, e o projeta se baseado em raciocínios nada lógicos e fundados em premissas de fato falsas. Sociologia de boteco.
Eu concordo com boa parte do que vc escreveu, mas eu acho que a analise tem que ser um pouco mais profunda talvez. Eu sempre fico com os dois pes atras quando se joga a culpa em algo abstrato (classe media, grandes corporacoes, sistema capitalista, etc).
Nesses exemplos que vc deu, o pobre so nao ta nem ai pra essas coisas pq ele ta tao na merda que so se importa em tomar a cervejinha dele e fazer um churrasco no fds. O rico tb nao se importa pq sempre foi rico, ja viaja pro exterior desde sempre, tem bens pra garantir uma vida confortavel por varias geracoes e ta tranquilo.
So que esse cenario nao eh estatico como vc descreveu. O que mais ocorreu no pais nos ultimos anos foi mobilidade social, entao mta gente mto pobre virou pobre e mto pobre virou classe media. Nao to falando baseado em IBGE, to falando daquele cara que nem pensava em sair do pais e ja conseguiu parcelar uma viagem pra disney pra conhecer o mickey e fazer umas comprinhas.
Enfim, o que eu quero dizer eh que em dado momento, o ex-pobre passa a ter exatamente o mesmo comportamento que vc ta criticando, que so nao tinha antes pq nao conhecia esse mundo.
Do jeito que vc coloca, da impressao que o pobre eh mais evoluido moralmente que a classe media, pois nao se apega a bens, marcas, estilo de vida, etc, mas na verdade ele so eh do jeito que eh pq nao tem acesso a informacao e/ou nao pode pagar por essas coisas. A partir do momento que tiver, ja comeca a ter esse comportamento que vc condena.
Exatamente.
Aliás, seu post me fez lembrar de outra falácia do texto. Ele tenta criar um antagonismo entre meritocracia e "direito à vida, justiça, liberdade, solidariedade, etc.", que não existe. Obviamente que a meritocracia pressupõe diferença, mas diferença não implica em violação de nenhum desses princípios.
Isso é completamente falso. Em primeiro lugar, eu diria que a classe média é a classe social com menor mobilidade social negativa. Quem compõe a classe média tradicional em geral é a parte mais beneficiada do funcionalismo público e certos profissionais liberais. Essa gente tem uma situação mais estável do que a própria classe alta.
A aversão ao risco da classe alta é MUITO maior, porque ela é formada basicamente por empresários e o risco da atividade empresarial no Brasil é muito grande (já foi maior, é verdade). A maior parte da classe alta vive o medo permanente de quebrar e ter de viver na "mediocridade" da classe classe média. E isso não é raro não, pelo contrário, acontece demais. Eu conheço vários casos porque já lidei de perto, mas um em especial é bem emblemático porque o cara hoje é o líder no Nordeste de um segmento do agronegócio. Ele tem uma boa fortuna, várias propriedades, avião particular e tudo mais, e há uns 15 anos ou pouco mais do que isso tava quebrado. Ou seja, o cara era rico, quebrou, empreendeu e ficou rico novamente. Isso é MUITO comum.
A aversão ao risco de empresário brasileiro é tão grande que você vê muitos deles pechinchando honorários de advogado mesmo quando não são altos, atrasando folha de pagamento de funcionário mesmo quando é reduzida, tentando economizar mixaria de coisa que você fica de cara porque sabe que o cara é multimilionário.
Como advogado eu vejo na prática essa diferença. Quando você ajusta honorários com um cara de classe média ele muitas vezes nem negocia, se tem condições de pagar já fecha contigo, até porque a previsibilidade financeira da vida do cara permite isso. Já o cara que é rico tenta extrair o máximo de valor de você numa negociação. Os caras que são ricos em geral vivem a neurose de que se eles não conseguirem tirar uma vantagem de cada situação da vida eles um dia podem quebrar e "ficarem probres" (entenda como "ficarem pobres" terem de descer para a classe média). Eu até entendo isso, porque o panorama financeiro da classe alta é bem mais imprevisível financeiramente do que o da classe média.
Uma fortuna de uns 15 milhões, por exemplo, que não é tão alta, pode virar pó rapidamente se o negócio do cara for mal administrado ou se for afetado por fatores conjunturais da economia.
Sobre os pobres, sua análise também é bem equivocada. De onde você tirou que pobre não quer dar futuro melhor pros filhos? Todo pobre quer isso, porra! Eu diria até que dar um futuro melhor pros filhos é o maior objetivo do pobre, tudo vem depois disso. Se isso já era verdade quando o Brasil tava fodido, hoje que existe bolsa família, prouni, pronatec, pra facilitar as coisas, se tornou mais verdadeiro ainda.
E também não é verdade que pobre não gosta de mostrar que tem dinheiro. O pobre se envaidece de suas pequenas realizações financeiras tanto quanto as outras classes e talvez até mais. A nossa sociedade é escrota pra caralho porque se tem uma parada que pobre curte e admira é rico, enquanto o rico odeia o pobre. Vai entender.
Eu acho que vcs nao estao falando exatamente das mesmas coisas, quando o Irineu chegar ai ele pode explicar melhor.
Dando minha opiniao, eu concordo em parte com ele e em parte contigo. Eu entendo as criticas dele, mas acho que ele glamuriza demais o pobre, como falei no meu ultimo post.
Bom eu acho que ficou bem claro no texto que eu estou falando baseado no que eu conheço né? E não em achismo, pode ser que eu conheça apenas pobres fora do padrão, vai saber, mas minha capacidade analítica é alta o suficiente pra eu acreditar que esse padrão se repete.
Obv que todo mundo quer dar um futuro melhor pros filhos, mas eu afirmo tranquilamente que nas camadas mais pobres nego é mto mais desencanado que isso do que na classe média.
Obv que tem nego pobre que pensa igual classe média, classe média que pensa igual pobre ou rico.