Nuances da Posição e Linhas de Pensamento

Antes de me dedicar ao poker eu tinha sonhos de ser um grande jogador de xadrez. E fico muito feliz de ter tido uma base tão sólida como a que tive no jogo dos reis. Muitos outros jogadores de poker tiveram sua base em outros jogos estratégicos – como Magic e gamão – e tenho certeza que muitas das coisas que aprenderam em seus jogos anteriores, serviram como alicerce para o conhecimento adquirido com o poker. E assim foi comigo.

 

Home » Nuances da Posição e Linhas de Pensamento

No xadrez eu aprendi a necessidade de estudar as fases do jogo e a relação entre elas; no poker eu busquei entender como funcionava cada street e perceber as conseqüências que as decisões em uma tinham sobre a outra.

No xadrez eu vi a necessidade de se jogar com estratégias diferentes, contra jogadores diferentes, e o mesmo se aplicou ao poker, que é um jogo onde a estratégia ideal sempre remete à adaptação.

Eu poderia citar vários exemplos de conceitos do xadrez que me auxiliaram no poker, mas alguns seriam óbvios ou não tão úteis a quem não tem experiência no tabuleiro. Por isso resolvi concentrar este artigo em algo que eu considero ser crucial na evolução de qualquer jogador, que é a idéia de nuances da posição. Nuances são leves diferenças ou detalhes finos. E quando digo posição, me refiro a uma situação específica de uma partida, não posições de mesa (button, small blind, etc.).

Quando no xadrez se estudam combinações (formas de ataque), o comum é ver várias posições chaves, a partir das quais serão mostradas as possíveis combinações vitoriosas. Mas o jogador não deve gastar seu tempo memorizando milhares de posições e torcer para que a mesma situação se repita em uma de suas partidas. Na verdade seria bem raro que a posição se repetisse de modo igual — devido às bilhões de possibilidades que uma partida de xadrez pode apresentar.

O que o jogador precisa fazer nos seus estudos é entender a linha de raciocínio tomada durante a combinação. Porque embora a posição dificilmente se repita, haverá partidas que apresentarão nuances da posição estudada, ou seja, vários detalhes semelhantes com sutis diferenças, e, se o jogador tiver compreendido a linha estudada, ele poderá perceber estas nuances e fazer as correções necessárias para elaborar uma combinação vencedora a partir do mesmo princípio.

Após está explicação tão técnica sobre este assunto, vocês podem se perguntar: “Tudo bem, mas como isso se relaciona com a evolução no poker?”

Veja: assim como no xadrez, no poker nós estudamos “posições” (de novo, situações, não confundir com posição na mesa) de partidas (mãos) já realizadas, e que dificilmente irão se repetir de maneira exatamente igual. Então, não devemos nos preocupar com uma mão específica e sim com a linha de pensamento usada para se chegar à jogada +EV naquela mão e as nuances que esta linha apresenta.

Exposto desta forma pode parecer algo claro e intuitivo, mas ainda assim, quando alguém publica uma dúvida em algum fórum ou comunidade, ou mostra uma mão jogada a um amigo, é normal que haja uma preocupação maior em saber a “jogada correta” do que entender a linha de pensamento que a originou.

Deixe-me mostrar um exemplo elementar para expor esta situação:

No-limit hold’em, 6 jogadores com 100 BB de stack cada.

– Hero, um jogador inexperiente, é o primeiro a agir (UTG), recebe JJ e aumenta 4 BB;
– O próximo jogador (UTG+1), desconhecido, paga sua aposta.
– Chega em fold até o Big Blind, um jogador conhecido por ser nit (extremamente tight) que tem uma noção razoável do jogo. Costuma jogar cerca de 10% das mãos e dar raise em 7%. Ele dá 3-bet para 20 BB.

Neste ponto o inexperiente Hero fica confuso, porque sabe que um par de valetes é uma das melhores mãos do jogo (top 2%). Depois de suar por alguns minutos, ele toma a sua decisão – que não precisamos saber qual é.

No dia seguinte ele ainda está pensando na mão, e resolve perguntar para seu amigo de infância Phil Ivey o que ele deveria ter feito. Phil diz que era um fold claro, por que o range do BB para dar a 3-bet provavelmente só possuía mãos melhores ou no máximo equivalentes aos Jacks.

Hero agradece, dá um “pedala Robinho” no Ivey e vai para casa satisfeito, com a seguinte conclusão:

“Quando eu tiver JJ, tomar um call de alguém e um raise de um jogador nit; eu devo dar insta-fold”.

Então ele aprendeu a lição?

Não!

Esta situação não vai acontecer desta exata forma com muita freqüência, assim ao fazer uma conclusão tão específica o Hero está limitando o seu aprendizado. O que importa nesta mão é qual o raciocínio usado por Ivey para chegar à jogada +EV e as nuances que o raciocínio apresenta.

O que faz o range do BB ser tão forte? Qual era aproximadamente este range após a 3-bet? Como a posição (na mesa) influenciou a decisão? Como a leitura que se tinha do BB influenciou?

Respondendo a estas perguntas, Hero vai absorver a linha de pensamento que estava por trás da jogada correta. E saberá jogar situações parecidas usando esta mesma linha, só alterando alguns detalhes devidos às nuances próprias de cada mão.

Perguntas como: “Com que mãos ele poderia ter pago ou aumentado o raise do BB? Com que leitura do BB o fold deixaria de ser correto?”. Se tornarão fáceis de se responder após Hero compreender o raciocínio subliminar da jogada sugerida.

Se o Hero teve dificuldades nesta mão, ele deve explorar este fato, visando sua evolução. Cada mão que deixa um jogador com dúvida é uma oportunidade de curar vários problemas que ele teria em situações parecidas. Algumas pessoas costumam manter um mesmo leak (falha) no jogo por um longo tempo sem nem sequer notá-lo. Postam/expõem muitas mãos sempre com a mesma dificuldade, mas só se importam com a resposta para aquela mão. Quando o real problema deles está na verdade em não compreender aquele “tipo” de mão.

O exemplo dado talvez faça parecer que este é um artigo dedicado somente a jogadores iniciantes, porém vejo muitos jogadores experientes apresentarem a mesma falha. Um exemplo disso é o célebre e bem conhecido Teorema Baluga que diz para reavaliarmos top pairs e overpairs quando recebemos um raise no turn. Poucos jogadores realmente entendem a linha que foi usada para se chegar a esta conclusão e destes, muito menos jogadores usam o mesmo raciocínio em outras streets (ou seja, avaliar a probabilidade de um c/r no river ser um blefe) ou em situações análogas, porque o enxergam de maneira específica. Outro problema comum aos mais experientes, é que às vezes em “guerras de regulares” encontram um adversário superior e não se concentram em entender as linhas que o adversário usa para superá-lo.

Os jogos de poker estão cada dia mais difíceis, com muitos jogadores tentando evoluir. Não desperdicem suas dúvidas. Muito menos suas boas respostas. Descubram as linhas de pensamento por trás delas. E as use em prol de sua evolução. Em tempos tão competitivos, pequenas nuances fazem a diferença.

* O Teorema Baluga diz para reavaliar top pairs e overpairs quando receber um raise no turn, pois estes raises raramente serão draws, principalmente se o raise for grande. Por outro lado, dar raise no turn com draws é uma boa arma contra bons jogadores.

Clique aqui para comentar este artigo no fórum do MaisEV.

Se você tiver dúvidas sobre os termos utilizados neste artigo, veja nosso dicionário de termos de poker.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Salas de poker
Bodog
4,5 rating
Bônus de boas-vindas de até US$ 1.000
partypoker
4,8 rating
100% até $600 USD +$30 USD em ingressos!
PokerStars
4,0 rating
Bônus de boas-vindas de 100% até $600 e $30 grátis
GGPoker
4,8 rating
Bônus de boas-vindas de 100% até US$ 600
JackPoker
4,5 rating
50% de bônus de primeiro depósito entre US$ 20 e US$ 500
PokerKing
4,3 rating
Bônus de boas-vindas de 100% até US$ 2.000