Estágios de um Torneio – Parte I

Esta será a primeira parte de uma série de três artigos onde irei tratar de que forma você pode adaptar sua estratégia aos diferentes estágios existentes de um torneio e também qual o impacto dessas adaptações nos seus resultados. Vale lembrar que todas as idéias serão baseadas em torneios com “antes”, os quais, em minha opinião, mudam completamente a estratégia para um torneio sem antes.

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Estágios Iniciais

Quando comecei a jogar, uma das principais perguntas que fazia era: “Como os jogadores vencedores em torneios conseguem chegar sempre longe?”. Nessa época, acredito eu que o que mais me faltava fosse um pouco mais de paciência, já que em início de torneios (principalmente aqueles com centenas de jogadores como em torneios de buy-in baixos) você, de forma geral, deve jogar um poker bastante “ABC”. Ou seja, não há muito que fazer a não ser jogar um jogo sólido, sem muitas jogadas arriscadas e encontrando os momentos certos para colocar suas fichas em risco.

No entanto, ainda que o jogo ABC seja o mais recomendado, podemos sim adaptar nosso jogo de forma a tentar “criar” oportunidades onde possamos fazer nosso stack crescer. Sendo assim, para começarmos a discutir as estratégias que costumo adotar em estágios inicias, vamos a alguns pontos que considero importantes para que você consiga criar suas próprias oportunidades de acumular fichas em estágios iniciais.

Adotando um estilo de baixa variância

Algo que considero extremamente importante, o qual já discuti com um coach em certa oportunidade, e que é muito negligenciado por muitos jogadores, é a questão da variância que o seu estilo de jogo pode apresentar e como isso pode afetar seus resultados no longo prazo.

Quando da minha primeira aula com esse excelente jogador americano, após ele rever uma de minhas Hand History, começamos a discutir sobre como uma das jogadas que eu havia aplicado bem no início do torneio tenderia a aumentar muito a oscilação dos meus resultados. Jogada essa, segundo ele, de Alta Variância. Durante a conversa, o mesmo chegou a dizer-me: “A maioria dos jogadores me perguntam como eu faço para chegar sempre longe em torneios. E eu apenas respondo: diminuindo a variância.” Essa era exatamente a mesma pergunta que eu me fazia antes como mencionei no início do artigo.

Para os que já conhecem o Guia de Poker para Iniciantes disponível no MaisEv, os mesmos já devem ter lido sobre o que se trata o conceito de variância. No entanto, o que pretendo discutir é como algumas jogadas podem ser tratadas como de alta ou baixa variância e como as mesmas podem afetar seus resultados.

Na mão em questão que estava discutindo com meu coach, lembro-me que os blinds eram 10/20, e os stacks por volta de 3000 fichas. Ou seja, bem no início do torneio, e eu resolvi aplicar uma jogada que eu não costumava fazer, mas que, por algum motivo, resolvi colocar em prática. Um jogador em early position abre raise pra 60 fichas. Eu no cutoff com T9 de espadas dou re-raise pra 180 fichas.

O simples fato de eu ter decidido dar re-raise ao invés de dar apenas call ou até mesmo fold já altera bastante o fato de eu estar adotando um estilo de jogo com alta ou baixa variância. A partir do momento em que eu decido investir uma parcela maior das minhas fichas em uma determinada mão (vamos descartar outros cenários quando do investimentos de fichas como re-steal, por exemplo, para efeitos didáticos), eu busco, nada menos, aumentar o valor do pote para tentar acumular cada vez mais fichas. No entanto, a tendência no poker nada mais é que, “potes grandes, mãos grandes, potes pequenos, mas pequenas”. Ou seja, em tese, quando você está a disputar um pote de grande valor (quando comparado aos blinds, por exemplo), espera-se que você tenha também uma mão grande, ou forte, correto?

O problema nessa mão que citei acima é que eu estou aumentando o tamanho do pote sem ter uma mão que se equivalia ao valor do pote que está sendo gerado. Para que minha jogada tenha sucesso, eu necessito tanto que o jogador que abriu raise dê fold para o meu re-raise uma grande parcela das vezes, que eu consiga acertar um bom flop para melhorar minha mão, ou que o jogador simplesmente dê fold quando eu decida apostar no flop.

Como vocês podem perceber, minha jogada, nesse caso, teria que ser bastante precisa, de modo a compensar o fato de adotar uma linha bastante arriscada. Em outras palavras, estou aumentando o impacto da variância no longo prazo dos meus resultados através da adoção de jogadas muito marginais e que precisam ser muito precisas para serem consideradas lucrativas.

Mas o mais importante disso tudo, é que não quero apenas mostrar a vocês que jogar de forma extremamente agressiva com mãos marginais em início de torneio não é uma boa estratégia. O mais importante é que, tomando-se como exemplo os extremos (como essa jogada que apliquei nesse artigo), podemos eliminar diversos possíveis erros que talvez não sejam percebidos como tal e assim encontrar o equilíbrio ideal no seu jogo.

Ações/linhas para a diminuir o impacto da variância

Diminuindo o número de jogadas de alta variância, a tendência é que você assuma menos riscos e conseqüentemente consiga ir cada vez mais longe em torneios. Para isso, você pode adaptar seu jogo da seguinte forma:

a) Jogue Tight

Jogar tight é ainda sem dúvidas uma das melhores opções para se jogar o início de um torneio. Basicamente você deve jogar o jogo “feijão com arroz” do poker, adotando um estilo tight e ao mesmo tempo agressivo (o famoso TAG). Paciência é fundamental nessa hora, uma vez que o jogo pode tornar-se bastante entediante e isso pode levá-lo a começar a jogar mais mãos marginais e, o resultado? Um jogo de alta variância.

b) Posição

Quando você estava começando no poker e começou a discutir sobre isso com amigos seus mais experientes, você provavelmente já deve ter ouvido algo como: “Poker é um jogo de posição”. E realmente é. Depois de muito praticar, você verá que em determinadas ocasiões suas cartas simplesmente não interessam, mas sim o fato de você poder agir depois dos seus oponentes. Portanto, evite jogar mãos que à primeira vista parecem boas, mas que devido à sua posição, perdem seu valor ou podem até mesmo se tornar complicadas de se jogar depois do flop.

c) Não valorize demais suas mãos

Esse é certamente um dos erros mais comuns principalmente entre jogadores mais inexperientes que é, como muitos dizem, “não saber dar fold”.

Exemplo:
8ª mão de um torneio de $10.00
Blinds 10/20 e stacks efetivos de 3000 fichas. Mesa com 9 jogadores.

Você recebe AA em UTG+1 e aumenta para 80 fichas.

Um jogador que você conhece como sólido, com bons resultados em torneios decide dar o call no dealer. Os demais jogadores na mão dão fold.

Flop: T75 rainbow. Pote com 190 fichas.
Você aposta 150 fichas e ele aumenta para 400.

Qual sua linha agora?

Sabendo que meu adversário é um bom/sólido jogador, com quais mãos você acredita que ele estaria dando esse raise no flop?

Você aumentou em early position, o que já é um sinal de força da sua mão, assim como o aumento de 4 vezes o big blind, ao invés do aumento costumeiro de 3 vezes.

Numa situação como essa você pode simplesmente considerar o fato de que sua mão não é mais tão boa assim e optar pelo fold. Eu particularmente nessa situação daria o call no aumento dele no flop e muito provavelmente daria check/fold no turn caso ele apostasse novamente. Isso porque das mãos as quais eu esteja ganhando (como KK, QQ, JJ, AT e outros pares que não tenham feito a trinca no flop) muito provavelmente não tomariam essa linha de jogo. Os pares premium como QQ, KK e a ultima combinação de AA provavelmente teriam dado re-raise antes do flop para tentar extrair mais valor dessas mãos.

Caso ele tivesse dado apenas call com QQ e JJ antes do flop, muito provavelmente, sendo o bom jogador que seu adversário é, ele daria apenas call no flop assim como AT (essa mão sendo menos provável, uma vez que você aumentou em early position e ele tenderá a dar fold nessa mão) e jogaria de forma mais cautelosa uma vez que ele possui posição sobre você. Logo, nos restam, basicamente, KK e a última combinação de AA, sendo que, dessas possibilidades, a única da qual você está ganhando é o KK.

Portanto, esteja muito atento a quem são seus adversários e não valorize demais suas mãos que aparentemente são boas. Contra diferentes oponentes (como jogadores fracos), esse mesmo exemplo pode ser jogado de forma completamente diferente, tornando a jogada mais ou menos lucrativa no longo prazo. Esse foi um exemplo bastante extremo, mas a partir disso você pode encontrar o equilíbrio em situações semelhantes e começar a dar fold mais freqüentemente quando sentir que a situação não lhe parece favorável.

d) Não jogue seus draws de forma muito/excessivamente agressiva

Esse é outro erro muito comum e que afeta bastante a variância do seu jogo. Um grande número de jogadores costuma jogar de forma extremamente agressiva suas “quedas” ou draws, principalmente os nut flush draws com 1 ou 2 overcards,como por exemplo:
18ª mão de um torneio de $20.

Blinds 15/30
Seu stack (BB): 3400 fichas
Oponente (CO): 4400 fichas

A ação chega a um jogador que você já percebeu que joga de forma bastante tight, tendo jogado bem poucas mãos e levando todas elas sem showdown. A mesa roda em fold até ele que abre raise para 120 fichas.

Os demais jogadores dão fold e você no big blind com AhTh resolve dar o call.

Flop: QhTs2h. Pote com 255 fichas.
Esse foi um bom flop pra sua mão, tendo um par médio com o nut flush draw e backdoor straight draw.

Você opta pelo check.
Seu oponente aposta 180 fichas.
Você aumenta para 600 fichas. Seu oponente call.

Turn: 4s. Pote com 1455 fichas. Seu stack agora é de 2680 fichas e seu oponente possui mais fichas que você.

Qual sua linha agora? Com quais mãos você acredita que seu oponente deu call na sua aposta?

Estando ele jogando de forma bastante sólida e conservadora até o momento, você acredita possuir bastante fold equity nessa mão? Quando ele aplica o call no seu check/raise, é muito pouco provável que você tenha a melhor mão. O flop foi bastante coordenado, ou seja, é bastante possível que seu oponente esteja colocando você para uma possível boa queda, assim como uma mão muito forte como uma trinca. E é exatamente aqui que voltamos à questão do impacto de um jogo de alta variância nos seus resultados.

Caso seu adversário tenha uma mão como AQ, KK, AA, você terá basicamente 2 chances de ganhar a mão. Uma delas é fazê-lo acreditar que você possui uma trinca ou 2 pares. A outra é você acertar um dos seus outs. Conseguem perceber a relação precisão X variância existente nesse tipo de jogada? Basicamente, você precisa ter muita certeza (precisão) que seu adversário perceberá sua agressão como sendo uma melhor que a dele ou que você consiga melhorar sua mão (variância) para levar o pote. Ou seja, você depende muito de um ou outro fator para vencer sua mão, e isso aumenta muito a oscilação dos seus resultados no longo prazo.

e) Implied odds e multiway pots

Suponhamos que, antes de começar a mão, você já saiba previamente que a mesma será jogada com quatro outros jogadores além de você sendo essa a primeira mão do torneio. Você é o primeiro a falar antes do flop e pretende dar um aumento de três vezes o big blind. Dada essa situação totalmente fictícia, quais dessas mãos você gostaria de ter nesse momento? Um AK ou 77?

Quanto maior o número de jogadores disputando a mesma mão, mais vulnerável sua cartas iniciais se tornam, pois todos eles podem melhorar seus jogos de forma distinta. Quando você possui um AK, por exemplo, sua mão pode ter melhorado bastante num flop A75. Mas teria ela melhorado o suficiente para se jogar contra outros 4 jogadores?

Agora suponhamos que ao invés de AK você possui 77 no mesmo flop. A probabilidade de um 77 conseguir melhorar é obviamente muito menor do que um AK, mas o problema nessa situação é outro. É o fato de que quanto maior o número de jogadores, mais forte deve ser sua mão depois do flop, já que, como citado anteriormente, muitos deles podem ter melhorado suas mãos de formas diferentes e, dependendo da mão que você possui, ela pode não ter melhorado de forma o suficiente, tornando-se possivelmente a segunda melhor mão, a qual você terá que jogar fora de posição.

Para deixar isso mais claro, no lugar de qual desses jogadores você gostaria de estar? No UTG com AK, ou no dealer com 77 tendo todos os jogadores 3000 fichas iniciais? Quem está realmente numa situação lucrativa nesse caso? Qual desses jogadores está correndo mais o risco de perder/ganhar muitas fichas? Portanto, em início de torneios, valorize mais suas mãos que possuem o potencial de se transformarem em mãos bastante fortes depois do flop, como pares baixos, suited connectors, Ax suited. Mãos as quais você sabe que correrá o risco sempre de perder poucas fichas e ao mesmo tempo ganhar muitas. Induza também a criação de multiway potes com essas mãos, como por exemplo, dar apenas limp com seu 33 no dealer caso a mesa tenha rodado em fold até você (isso para início de torneios, quando o roubo de blinds ainda não é seu objetivo), etc. E claro, jogue em posição sempre que possível.

Essa é basicamente a linha que eu sigo em início de torneios. Costumo jogar um jogo bem sólido no geral e confesso que essa linha tem me dado resultados satisfatórios, me ajudando a chegar longe em muitos dos meus torneios. Como havia dito, esta é a primeira parte de uma série de três artigos. Nos próximos, tratarei dos estágios onde os antes entram em jogo até a etapa do torneio em que se aproxima da mesa semi-final.

Um grande abraço a todos e sucesso nas mesas.

Diego Nakama

* Para os termos em inglês deste artigo, confira o Dicionário de Termos e Gírias do Poker disponível no Fórum MaisEV.

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