Quais seriam os possíveis efeitos do governo de Donald Trump para o poker online nos EUA e no mundo?
Do ponto de vista político e social, a vitória de Donald Trump como presidente da maior potência econômica do mundo é sinal de um retrocesso capaz de fazer inveja até mesmo no mais ferrenho defensor de Bolsonaro. Misógino, racista, homofóbico e xenófobo, uma simples frase da série Game of Thrones traduz as expectativas para o governo de Donald Trump melhor que o tão falado episódio do desenho Os Simpons: “A noite é escura e cheia de terrores.”
Ainda assim, como jogadores de poker, uma opinião específica de Donald Trump nos interessa mais do que qualquer outra irracionalidade coisa que ele tenha falado durante a campanha: o que pensa sobre o poker online?
Em 2011, muito antes de qualquer pretensão à Casa Branca, Trump disse em uma entrevista para a revista Forbes que a regulamentação do jogo online “precisa acontecer porque muitos países já estão fazendo isso e como sempre os EUA estão ficando para trás”, referindo-se aos bilhões em taxas que o governo está deixando de arrecadar ao não regulamentar o poker online. Segundo alguns especialistas, esse valor pode chegar a mais de US$ 3 bilhões por ano.
A declaração foi feita no mesmo período em que Trump se aliou a Marc Lasry, gestor de fundos que, em parceria com o agora presidente eleito dos EUA, criou a empresa Poker Ventures LLC, que chegou a receber uma licença para operar jogos online no estado de Nova Jersey após a legalização estadual, apesar de nunca ter entrado no mercado.
Todos sabemos o que uma regulamentação do poker online nos EUA a nível federal faria pela economia do jogo: não só voltaríamos a era pré-Black Friday, quando os fields das salas de poker eram cheias de amadores (e também profissionais) americanos, mas também poderia promover um novo “boom”, já que um apoio legal potencialmente traria um público que até então não compreende o jogo e acredita ser algo apenas prejudicial.
Sendo os Estados Unidos o maior mercado consumidor de poker online até o fatídico abril de 2011, isso significaria um grande fluxo de jogadores em torneios e cash games, reavivando um mercado que está em constante queda. Também traria renovação para o poker online no resto do mundo, que em muitos casos não só compartilha da mesma base de jogadores, que cresceria exponencialmente, mas em muitos caso até mesmo se espelha na legislação estadunidense (como é o caso do Brasil com projetos de lei como o PL 121/2008 do senador Magno Malta), e assim poderia seguir o exemplo da legalização.
Mas embora tenha se declarado favorável à regulamentação, é altamente improvável que Donald Trump fará qualquer coisa em favor do poker online, já que desde que começou a corrida pela presidência, está intimamente ligado a Sheldon Adelson, magnata dos cassinos e ferrenho opositor do jogo na internet.
Adelson, que já disse “estar disposto a gastar o quanto for preciso para esmagar o poker online nos Estados Unidos”, foi um dos maiores doadores para a campanha de Donald Trump, tendo contribuído com pelo menos US$ 100 milhões.
Além disso, um dos coordenadores da campanha de Trump foi Michael Abboud, sobrinho de Andy Abboud, que por sua vez é vice-presidente do cassino Las Vegas Sands, uma das empresas de Sheldon Adelson. Seguindo a cartilha do patrão, o próprio Andy Abboud já se pronunciou diversas vezes contra o poker online.
Como responsável pelas comunicações da campanha de Donald Trump, não é difícil imaginar que seus discursos sejam preparados por Abboud e influenciados por Adelson e sua cruzada contra o jogo virtual.
No fim das contas, apesar de já ter se declarado a favor da regulamentação do poker online, isso aconteceu cinco anos atrás, e desde então a política entrou no caminho de Trump, e US$ 100 milhões para garantir a cadeira de presidente falam mais alto.
Para o jogador brasileiro, a presidência de Donald Trump tem ainda um efeito não tão secundário. Nas primeiras horas desde o resultado da vitória de Donald Trump, o valor do dólar subiu quase 2%, atingindo R$ 3,22 ainda no começo do dia. Segundo o jornal Valor Econômico, citando as agências estrangeiras Credit Suisse e Brown Brothers, a moeda americana pode chegar a R$ 3,40 ou R$ 3,50.
Tendo seus ganhos primários em dólar, isso representaria um aumento no rendimento dos jogadores brasileiros (desde que vencedores, é claro). Mas isso seria benéfico apenas para aqueles que têm um lucro bastante expressivo, suficiente para superar os efeitos reais do aumento do dólar na nossa economia, como maior inflação, que acaba por diminuir o poder de compra.
Isso já pode se tornar uma realidade, independentemente do que Donald Trump possa vir a decidir sobre os jogos na internet em seus quatro anos de governo. Resta agora saber se o arauto do apocalipse americano será ironicamente o salvador do poker online.
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