Christian Kruel: “estão tentando robotizar o poker de uma forma que o ser humano não consegue processar”

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Christian Kruel fala do seu legado no poker e de como lida com as novas teorias do jogo

Christian Kruel, poker e Rio de Janeiro andam interligados. É impossível citar um dos três sem falar os outros dois.

O carioca que ficou conhecido com o screen name “C.K” foi, sem sombra de dúvidas, o grande expoente do poker tupiniquim e, se Moneymaker foi responsável pelo boom do jogo no mundo, no Brasil e na América Latina a popularidade do poker se deve a CK e seu amigo Raul Oliveira.

Muito antes do “efeito Moneymaker”, Christian Kruel já jogava, dominava e enfrentava de igual os principais nomes no poker online nos feltros do PokerStars, partypoker e Full Tilt.

Antes de André Akkari, Alexandre Gomes e, mais recentemente, fenômenos como Yuri Martins, Pablo Brito, Rodrigo Selouan e Renan Bruschi, havia CK, que forrava alto nas mesas e ajudava a divulgar e ensinar o jogo no que foi um dos sites mais populares do país.

Aproveitamos uma pausa durante o LAPT Rio para conversar com o jogador e perguntar como ele vê o crescimento e a popularização do jogo, além de trocar uma ideia sobre evolução da técnica e a estranha sensação de pedir selfies a jogadores que admira, ao contrário do que acontecia alguns anos atrás.

Você tem histórico no poker e, além do pioneirismo, é um carioca puro. Como está sendo jogar o LAPT no Rio?

Ultimamente eu tenho jogado os torneios mais perto de casa, então, perto eu sempre jogo. A expectativa é legal, é muito bom ter um torneio desta dimensão aqui na Barra da Tijuca. Acho muito legal o PokerStars voltar à cena. Especialmente quando comecei, eles sempre foram o maior, então acho legal essa força que o PokerStars está tentando mostrar de novo, e tá mostrando. A estrutura aqui é espetacular, é a galera do BSOP que organiza, sempre 100%.

Jogar em casa sempre dá uma expectativa. Torcer para fazer algo parecido com o BSOP seria legal. De 2010, né? Tem muito tempo (Christian se refere ao título conquistado no Main Event da etapa carioca, que rendeu R$ 136.700).

E de lá pra cá você já não é mais um jogador profissional, tem jogado recreativamente. Você comentou em outras entrevistas que estava cansado do online. Agora, como é a sua rotina de jogo?

No meio da pandemia não tinha muita opção, então voltei a jogar e tive resultados horrorosos, joguei muito acima do que eu podia. Aí voltei a estudar com força.

Atualmente, eu não vou dizer que eu sou profissional porque eu não dependo disso financeiramente. Eu criei uma estrutura de afiliação em outras redes de poker. E eu também fiz quase uma faculdade de análise gráfica com um trader, Bo Williams. Então alterno muito. Estou sempre jogando poker, estudando muito. Tomei um “simancol” no meio da pandemia, que eu estava completamente perdido mesmo, então dei uma boa ajustada no meu jogo. Tenho jogado online atualmente e foco em análise gráfica. Tem esse meu projeto de afiliação que é um trabalho ferrado e eu estou sempre tocando.

Você está voltando a jogar mais hardcore agora, mas o poker está bem diferente de quando você começou, há os solvers e aplicativos. Como você compara a sua época, quando você começou? Você sentiu muita diferença no seu jogo, alguma dificuldade em se adaptar?

Essa resposta eu dei em uma entrevista e acho que eu me expressei mal. [Ficou parecendo que] eu falei que os jogadores talentosos não estão mais sobressaindo, é como se eu tivesse expressado que estava tudo meio “overrated” (superestimado) do ato de estudo, o pessoal estudando demais, que eu achasse que tinham passado do ponto. Não é isso. Eu acho que estão tentando robotizar de uma forma que o ser humano não consegue processar. Tanto que até com o pessoal que eu estudo existe muito esse debate de até que ponto você tem que dominar o solver nesse nível que está se exigindo. Tipo, aulas de 3 horas em cima de um spot completamente específico de uma situação.

Eu sempre acompanhei o “Bencb” (Benjamin Rolle, fundador da RaiseYourEdge), por exemplo, e conheço muita gente no Brasil, então eu tenho estudado pesado. O que eu vejo é muita gente que sabe muito de teoria, mas que na hora de entrar em campo é tanta teoria, cara… Tipo, é humanamente impossível você dominar o GTO. Agora, eu estudo GTO, eu tenho os solvers assinados e foco muito nisso na hora que eu tenho meus coaches, e durante o jogo acaba se aplicando por osmose, de tanto você estudar.

Eu sempre tento jogar o field, que é o que acho que o pessoal já falando que GTO, você tem que “exploitar”, né, você tem que explorar o jogo. O que adianta você jogar 100% solver se você tá jogando um ABI (average buy-in, valores médios de buy-ins) de $50, por exemplo, que é o que eu tenho feito hoje em dia? Eu baixei meu ABI, estava em $200, $300 e não dá para mim, é outro buraco, mais embaixo. Tipo, num ABI $50, em uma mesa horrorosa, é legal você ter a base do GTO, mas aí volta pra mim, pra minha época, sabe…

Eu não tive dificuldade, mas me assustei com alguns ajustes que eu precisei fazer, assim como também me surpreendi como eu estou ajustado já, desde sempre, em outros spots. E reparei que o poker deu uma volta. Tipo, ele foi para um ponto e meio que tá voltando. Tem um quê de solidez o jogo, como sempre foi falado: um jogo bem jogado é tight-agressive. Escolher bem a mão, mas brigar muito pelas mãos. O GTO me mostra isso.

Então, não me senti completamente perdido, sinceramente. Agora, houve necessidade de ajustes enormes, especialmente em relação a sizes, é onde eu mais percebi diferença. Realmente, a justificativa do porque se apostar tanto, era uma coisa que eu não ia tão fundo, na minha época. Particularmente, eu tenho uma facilidade para aprender bem grande, uma
questão de dedicação. Então não tive dificuldade, mas o jogo mudou muito. Passou um pouco do ponto da robotização, eu acho.

Por outro lado, você acha que como tem essa mentalidade do jogo antes dos solvers, da “robotização”, isso te dá uma vantagem sobre a galera que tá começando agora e só joga GTO?

Eu conheço muita gente que conhece trezentas mil vezes mais teoria que eu, mas eu jogo heads-up o resto da minha vida com essa pessoa. Não vou falar nomes.

Poker não é só isso. Você mesmo deve saber alguns exemplos de pessoas que se destacam online, mas que vem aqui jogar “ao vivo” e a mão fica suando, não tem mais como consultar tabelinha.

O jogo, hoje em dia, você sabe como que é: as pessoas estão jogando com 30 pastas debaixo da perna, uma pasta pro range do botão, uma pro range de outra coisa, range de MP vs botão, 30 blinds… então o pessoal já tem a tabela. Quem não consulta uma tabela fica perdido.

Mas na hora que vem jogar (ao vivo), eu já percebi… ainda acho que há espaço para o talento, mas, realmente, o talento não é tudo. Eu vejo essa galera se criando muito no online, mas na hora…tipo, jogar um heads-up, ao vivo, pegar um evento de bracelete. É o que eu sempre falei, sou fã de quem opera nas duas. Pra mim o cara que é bom de poker ganha online e ganha live. Aí o cara mostra que é bom.

E de quem você é fã?

Ah, cara, sou fã de muitos. Sou muito fã da galera do 4bet, que são meus amigos pessoais, também a galera do Rio, Cavalieri (Pedro Cavalieri, “kurtWSOP” no PokerStars) é um cara que eu tenho estudado muito, tem tantos…Fora da minha alçada de amizade tem o Yuri (Martins, “theNERDguy”), o pessoal do 9Tales, a lista que você sabe, o Renan (Bruschi, “Internett93o) cheguei quase a ter coach com ele…A lista é muito grande. Poderia te falar uns 30, facilmente, que eu paro pra tirar foto hoje em dia, sabe? É o contrário quando faziam isso comigo. É muito legal que muitas se inspiraram em mim em algum momento da carreira e trocamos ideias. Tem vários. 

Você se sente de alguma forma responsável pelo tamanho do poker hoje em dia?

Com certeza, explorei muito mal, inclusive, né? Às vezes eu tenho essa dimensão que muita gente não sabe quem eu sou. Mas sempre foi minha política, sempre fui low profile, você me conhece, nunca fui de Instagram, de ficar postando.

Às vezes eu me assusto. Hoje eu estava pensando na dimensão da coisa, né? Que eu comecei. Eu fui o primeiro e o pessoal diz do Brasil. Não foi nem no Brasil, foi na América Latina. Às vezes paro pra pensar: caramba, parada meio grotesca, né? O poker da gente é o maior do mundo, maior que a Alemanha. Potência mesmo.

Às vezes dá uma assustada, mas colhi meus frutos. Como eu te disse, essa rede que eu construí de afiliação eu só construí por causa do meu nome, então acaba que o legado, de alguma forma, dá o troco. Não empreendi da melhor forma, tive alguns projetos que falharam, sabe? Os projetos de filiação do partypoker ficaram no meio do caminho, o Full Tilt patrocinava e o site ficou fora do ar. Não foi uma estrada reta, mas me orgulho do que fiz, a galera da velha guarda, tipo você, sabe. É isso que importa.

Para encerrar, com o LAPT aqui no Rio, como você visualiza o cenário carioca? A gente vê muitos torneios muito grandes fora do Rio de Janeiro, e agora tem começado a ter torneios maiores aqui, como o BSOP, KSOP, e o LAPT voltando pra cá. Como você analisa a cena no Rio, especificamente?

O Rio tava com problema, estava mais difícil de acontecerem os torneios aqui, não sei direito das leis, dessa parte, mas eu tô super feliz porque eu sei que quem vem de fora, adora. Eu acredito, não tenho certeza, que seja um dos pontos preferidos do pessoal que vem de fora, porque aqui é super exótico. Pra mim é tudo que eu quero. Ter os custos menores, eu moro aqui na Barra, pertinho. Eu adoro quando tem torneio no Sheraton. Quanto mais, melhor, vou estar em todos.

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