Postado originalmente por
DiegoSestito
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Fonteles
Que bom, então, que estamos de acordo sobre essas concepções.
Agora, a questão inevitável: por que as deficiências do modelo capitalista, na sua visão, não podem ser, se não superadas, pelo menos corrigidas a ponto de tornar a coexistência humana minimamente harmônica?
Eu entendo a necessidade do comunismo para a emancipação de todos nas sociedades do século XIX, que não eram protegidas pelo Estado Democrático de Direito, por direitos trabalhistas, previdenciários, culturais, consumerísticos e tudo o mais. Naquela época, as reivindicações por uma sociedade mais justa e livre eram respondidas à bala, mas a partir do século XX, após a consolidação do Welfare State, o Estado passou a absorver esses novos valores sociais, muito também por conta da luta dos comunistas. Eu reconheço que a situação ainda é drástica na maioria dos países do mundo, principalmente na África, América Latina e Ásia e que o capitalismo selvagem sem a tal da suavização que o progressismo e a social democracia propõem concentra as riquezas nas mãos de poucas pessoas, precarizando a vida de todas as demais.
Mesmo assim, a situação ainda não é incontrolável, pelo menos na minha cabeça. Por que, na sua visão, a nossa situação é tão drástica assim, a ponto de somente vislumbrarmos um futuro menos hostil, se pegarmos as armas para lutar contra o Estado, os bancos e empresas multinacionais? A situação é tão drástica assim?
É uma boa pergunta, e eu tenho duas respostas.
1- O argumento histórico geral:
A história humana está repleta de rupturas, ou revoluções. E acho que nós tendemos a superestimar (como todas as outras gerações) o nosso próprio momento. Os anos sem capitalismo (e com economia centralizada diga-se de passagem) constituem a maior parte da história humana, por isso acho um absurdo afirmar, como Fukuyama fez após a queda da URSS, que nós estávamos no fim da história. Pra mim é irracional pensar que o capitalismo é o fim, a etapa final da organização produtiva humana. E na realidade eu não vejo a "revolução" como "revolução armada", mas como momento de ruptura brusca, como toda organização produtiva humana já teve para ser substituída por outro tipo de organização produtiva, como se da essa ruptura é uma questão de contexto e de como a sociedade está quando ela acontece.
2- Argumento histórico especifico:
O Principal, é que eu não vejo essas conquistas como garantidas e eternas, e acho que nós ja começamos a experimentar o começo de uma baita enxugada nelas Os sócio-econômicos já estão sendo podados no mundo inteiro por causa das crises. Por causa de problemas geopolíticos (como o terrorismo principalmente) os estados estão se tornando mais policiais e algumas garantias individuais já estão indo para o buraco. E é ai o porque de eu acreditar que essa ruptura é necessária, porque para mim existe evidencias o suficiente de que as melhoras na condição de vida, nos direitos humanos e etc no capitalismo não evoluem de maneira linear, mas de forma irregular, com picos de máximo e minimo que dependem de N variáveis que estão sujeitas ao caos do mercado e das crises capitalistas. Eles vem e vão, dependendo de quanto o capital se vê ameaçado, seja por crises ou por problemas sociais ou políticos.
É aqui que eu me afasto do marxismo-ortodoxo e vou parecer pirado pra 100% do fórum, eu não só sou comunista como acho que esse momento de ruptura está próximo e tem mais chance de sucesso do que em qualquer outro momento na história do capitalismo (e sim, até mais do que na década de 60).
E o porque disso tem a ver com a Escola Econômica conhecida como 'Critica do Valor' (Wertkritik) (Que na realidade é derivada de um economista Menchevique chamado Isaak Rubin, que Stalin passou no expurgo de 1937). O problema do capitalismo contemporâneo não é a falta de eficiência em produzir mercadorias, mas o seu contrário; O capitalismo se tornou tão eficiente nisso, que o trabalho vem se tornando o gargalo, cada vez mais o trabalhador humano custa mais e o trabalhador automatizado menos, até que inevitavelmente a maior parte da humanidade vai custar mais do que um trabalhador automatizado. O resultado é óbvio, desemprego em massa (não precisa ser total, crise de 29 foi de 30%, imagine 40% ou 50%) e voltaremos à um dos picos mínimos. E existe outro problema, a nossa sociedade é centralizada na mercadoria, é uma sociedade de consumo e os nossos valores são baseados nisso como nunca foram antes. Imagine o tamanho do tombo de 50% da população acostumada com shopping, food truck e smartphone fica sem emprego e sem consumir de forma permanente. Qual é o tamanho da insatisfação que isso é capaz de gerar? Resumindo, não acho que está tão critico agora, mas que vai ficar.