História que nossos netos vão contar aos bisnetos
Antônio Luiz Nilo*
Era uma vez um pequenino país chamado Uruguai. Seu presidente, acreditem, doava 90% do seu salário para programas sociais. Ele vivia numa chácara, onde dividia o espaço de sua casa de um quarto, de teto de zinco, com a mulher e um cachorro de três patas.
O presidente se chamava Pepe Mujica e, além da modestíssima residência, possuía apenas um Fusca 87. Somente dois policiais faziam a sua segurança e normalmente o acompanhavam no carro presidencial, um Corsa sedan.
Mujica tinha um passado revolucionário, de esquerda, mas quando chegou ao poder, diferentemente de outros presidentes de países vizinhos, continuou pobre. O lugar que ele governava era considerado o mais seguro e menos corrupto de toda a América Latina.
O sistema de saúde funcionava perfeitamente e o de educação era modelo: cada um dos 300 mil alunos da rede pública tinha um computador pessoal doado pelo governo. Mujica possuía uma visão social tão justa e corajosa que chegou a vender inúmeros prédios públicos, incluindo uma residência oficial em Punta del Este, para construir casas populares.
“El Viejo”, como era conhecido, tinha, em 2012, 77 anos de idade. E de sua experiência e estilo pessoal irrompia uma conversa simples, inteligente e bem-humorada. Nesse mesmo ano de 2012, depois de ir a três enterros em pouco mais de uma semana, comentou com um amigo: “Deixa eu ir embora logo senão aprendo o caminho”.
Mas era de seu discurso que nasciam as mais respeitadas e importantes reflexões do mundo globalizado. O mais espetacular, sem dúvida, foi o proferido na conferência Rio + 20: “Estamos governando a globalização ou é a globalização que nos governa?”. Depois de sentenciar aos presentes de que não se tratava de uma crise ecológica e sim política, Mujica ferroou com precisão: “Não viemos ao planeta para nos desenvolver. Viemos para ser felizes”.
E explicava, num texto pausado e professoral, que nenhum bem material valia um milionésimo do que valia a vida. E que era o hiperconsumo que de fato corroia o planeta. E parafraseando pensadores antigos, emendou: “Pobre não é o que tem pouco, mas sim o que necessita muito...e que deseja cada vez mais.”
Explicou que em seu rico país, os companheiros lutaram para conseguir uma jornada de seis horas de trabalho. Mas que esse benefício só serviu para que trabalhassem em dois períodos para poder pagar suas contas, sua moto, seu carro, suas ilusões. E que quando acordassem já estariam velhos como ele, sem esperanças. E concluía: “É esse o sentido da vida? Me desculpem, mas o desenvolvimento não pode ir contra a felicidade. Ele tem que ir a favor das relações humanas... e para isso basta ter o necessário.”
A vida de um homem assim, com tamanho desapego material, pode até parecer uma fábula, mas é uma história linda. Feio é viver num país onde uma fábula é o que nos custa cada governante.
* Antônio Luiz Nilo é diretor de criação da Objectiva Comunicação
para quem chegou até aqui, meu bônus de uma das que curtiram esperança verde
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