"
"É só subir as escadas aí" me sinalizou o segurança engravatado. Fui apontando pra um salão com decentemente decorado, quatro mesas cheias e bastante barulhentas. Numa olhada rápida encontrei o caixa e caminhando até lá deu pra perceber onde acontecia o torneio e qual era a mesa de cash. Fui bem atendido. Na mesa, cadeira confortável e dealer eficiente. serviço de bar na mesa eu nunca tinha visto. Segundas e quartas, passei a frequentar o BCClub.
Há uns bons meses eu não aparecia na antiga chácara Ás de Ouros. Ao menos era assim que meu amigo disse que chamavam quando desliguei os faróis e o portão branco começou a abrir. "Era cassino mesmo, só aquelas caça-níquel, roleta e blackjack" ele descrevia. Foi fácil estacionar no pequeno pátio e subimos. O quase sofisticado salão apresentava as mesas vazias, exceto uma. Identifiquei conhecidos jogando, cumprimentei e descobri que o jogo era 2/4. olhei pro meu amigo (já que esperávamos 1/2) que deu de ombros e compramos então as fichas ali mesmo, do lado da mesa. "Gracias" foi como me agradeceu o caixa. O assento 3 tava vazio e me adiantei pra sentar. Um cara simpático no assento 4 logo me alertou "Esse cara tá MUITO ligado hoje..." se referindo ao moreno calado no 5 que não parecia estar se divertindo. Meu amigo sentou no 6 com 50bbs e não demorou muito pra ele pagar pra ver todas as suas fichas indo embora:
Flush em valete não foi o suficiente. "Olha aí, sempre ele". O baile seguiu e ficamos 7 handed. Eu tinha caído pra ~80bbs e já tinha decidido não dar rebuy pelo meu bróder estrategicamente em pé atrás de mim, só assistindo.
Nessa altura a conversa já tinha me deixado a par do novo proprietário do clube: o paraguaio sortudo no 5. Depois de uma mão não tão polêmica, entre os jogadores no 7,8 e 9, a galera toda deu showdown e ficou conversando e cogitando e cornetando com as cartas abertas. Do outro lado da mesa, observei o dealer começar o "whalsh" com o baralho todo exposto; levantei uma sobrancelha. muito agilmente ele selecionava e acumulava cartas na palma de uma mão, quando logo em seguida desvirou-as e começou a juntá-las pra embaralhar. Minha outra sobrancelha se ergueu quando percebi que, entre uma rapidíssima embaralhada e outra, havia um conjunto de cartas na mão esquerda do dealer que sempre ficava no topo. ele não cortou e começou a distribuir. "VAI DAR ESTOURO, CERTEZA" pensei comigo.
Sou UTG na mão e quando olho pra minhas cartas sou gratificado com duas belas damas. Respirei bem fundo enquanto fitava minhas cartas, tentando inalar coragem. Eu queria abrir minhas cartas e esbravejar alguma coisa em espanhol pro dealer entender bem, pegar o deck e mandar todo mundo pro showdown, abrir a mesa pra conferir quem iria ganhar. Mas eu não precisava fazer isso pra saber e joguei-as em direção ao dealer que se contorceu. Imediatamente juntei minhas fichas e fui fazer o cashout. "Bora" foi a única coisa que falei pro meu amigo assim que me levantei, tentando não parecer apressado. Peguei minha grana e descemos em silêncio, aqueles metros no escuro do estacionamento parecendo quilômetros, sem contar os quinze minutos que senti demorar o portão pra se abrir. Zarpando, faço a rótula e pego o sinal fechado. Só quando ele ficou verde e nos distanciamos que começamos a conversar, aliviados.
"