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Kleber
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Não há dívida histórica pq os brancos não são uma comunidade fiadora da ação um dos outros.
A parte da minha família que eu conheço o passado eram lavradores pobres em Portugal, foram pro Brasil tentar algum futuro. Trabalharam a vida inteira, educaram os filhos, hj toda a família é classe média.
Se devo algo a alguém, são aos mortos que trabalharam pra dar uma vida melhor aos filhos, netos, bisnetos (eu). Não tenho dívida histórica pra pagar com ninguém. Até pq eu n separo a sociedade em grupo dos brancos e grupo dos pretos. Pra mim somos, de verdade, apenas humanos.
Pega o lance da família então, vc por exemplo é a 4a geração de lavradores pobres de Portugal que escolheram ir ao Brasil...
Trabalharam a vida inteira, educaram os filhos e hoje todo mundo é classe média.
Pega um sujeito da sua idade, negro, que também é a 4a geração, mas lá na ponta ao invés de lavradores pobres de Portugal, são lavradores pobres do Congo que um belo dia foram sequestrados, negociados como mercadoria e enviados ao Brasil como escravos...
Trabalharam a vida inteira sendo explorados em troca de uma senzala e prato de comida, no fim dessa vida conseguiram presenciar o fim da escravatura, também educaram os filhos, mas esses filhos tiveram que tentar trabalhar com a estigma de ser "escravo remunerado", e os filhos deles e não é a única razão, mas com certeza é um fator com peso enorme pra hoje toda a família desse tipo ser em sua maioria de classe baixa.
A questão, imo, não é ter dívida histórica, é colocar todos em pé de igualdade...
Claro, não sou contra colocar em igualdade de tratamento ngn. A questão é que eu n tenho nada a pagar, não tenho dívida nenhuma. Se estamos em situações diferentes por conta do estigma, devemos atacar o estigma.
Eu não tô falando de tratamento, tô falando de acesso mesmo e condições/qualidade de vida.
O estigma que falei foi lá atrás, já passou, sobre de um dia pro outro o trabalhador gratuito passou a ser remunerado. O que aconteceu é que, por isso, ele não teve trabalho na altura e quando teve recebia menos que o português pobre... e aí a bola de neve foi rolando, rolando e rolando.
Hoje não é a estigma do "escravo remunerado", mas os efeitos dela. Seus bisavós não estiveram em pé de igualdade dos bisavós do cara que exemplifiquei, isso teve impacto geração após geração, talvez a 6a ou 7a geração deles consigam chegar na classe média, o que é muito difícil, como que um sujeito da quebrada que estudou em escola pública e trabalha com salário mínimo vai ter condições de concorrer no mesmo nível num vestibular com gente que estudou em escola particular que a mensalidade custa o dobro do salário dele? Como que ele vai abdicar de R$400-500 todos os meses pra pagar uma Uniesquina?
Não devemos atacar o estigma, hoje ninguém vê negro como escravo. Devemos atacar o que esse estigma causou, os ricos continuarem ricos é normal, o que não é normal era o cortiço ser ocupado por pobres trabalhadores brancos e negros, pra 4 gerações depois, os descendentes irem morar em edifícios com câmera e condomínios murados, enquanto outros estão na favela e na cohab.
Quem pode escolher entre colocar o filho no ensino público ou privado, fazer uma faculdade pública ou ir pra particular, tem mais que exercer essa escolha e optar por aquilo que acha melhor. E quem não tem essa escolha? Não é a sociedade, através do governo, que deve intervir?