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Tópico: [LITERATURA] - O que você anda lendo?

  1. #131
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    O Lula tá preso, BABACA.
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    Acho que este é o meu poema preferido.

    A Máquina do Mundo


    E como eu palmilhasse vagamente
    uma estrada de Minas, pedregosa,
    e no fecho da tarde um sino rouco


    se misturasse ao som de meus sapatos
    que era pausado e seco; e aves pairassem
    no céu de chumbo, e suas formas pretas


    lentamente se fossem diluindo
    na escuridão maior, vinda dos montes
    e de meu próprio ser desenganado,


    a máquina do mundo se entreabriu
    para quem de a romper já se esquivava
    e só de o ter pensado se carpia.


    Abriu-se majestosa e circunspecta,
    sem emitir um som que fosse impuro
    nem um clarão maior que o tolerável


    pelas pupilas gastas na inspeção
    contínua e dolorosa do deserto,
    e pela mente exausta de mentar


    toda uma realidade que transcende
    a própria imagem sua debuxada
    no rosto do mistério, nos abismos.


    Abriu-se em calma pura, e convidando
    quantos sentidos e intuições restavam
    a quem de os ter usado os já perdera


    e nem desejaria recobrá-los,
    se em vão e para sempre repetimos
    os mesmos sem roteiro tristes périplos,


    convidando-os a todos, em coorte,
    a se aplicarem sobre o pasto inédito
    da natureza mítica das coisas,


    assim me disse, embora voz alguma
    ou sopro ou eco ou simples percussão
    atestasse que alguém, sobre a montanha,


    a outro alguém, noturno e miserável,
    em colóquio se estava dirigindo:
    "O que procuraste em ti ou fora de


    teu ser restrito e nunca se mostrou,
    mesmo afetando dar-se ou se rendendo,
    e a cada instante mais se retraindo,


    olha, repara, ausculta: essa riqueza
    sobrante a toda pérola, essa ciência
    sublime e formidável, mas hermética,


    essa total explicação da vida,
    esse nexo primeiro e singular,
    que nem concebes mais, pois tão esquivo


    se revelou ante a pesquisa ardente
    em que te consumiste... vê, contempla,
    abre teu peito para agasalhá-lo.”


    As mais soberbas pontes e edifícios,
    o que nas oficinas se elabora,
    o que pensado foi e logo atinge


    distância superior ao pensamento,
    os recursos da terra dominados,
    e as paixões e os impulsos e os tormentos


    e tudo que define o ser terrestre
    ou se prolonga até nos animais
    e chega às plantas para se embeber


    no sono rancoroso dos minérios,
    dá volta ao mundo e torna a se engolfar,
    na estranha ordem geométrica de tudo,


    e o absurdo original e seus enigmas,
    suas verdades altas mais que todos
    monumentos erguidos à verdade:


    e a memória dos deuses, e o solene
    sentimento de morte, que floresce
    no caule da existência mais gloriosa,


    tudo se apresentou nesse relance
    e me chamou para seu reino augusto,
    afinal submetido à vista humana.


    Mas, como eu relutasse em responder
    a tal apelo assim maravilhoso,
    pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,


    a esperança mais mínima — esse anelo
    de ver desvanecida a treva espessa
    que entre os raios do sol inda se filtra;


    como defuntas crenças convocadas
    presto e fremente não se produzissem
    a de novo tingir a neutra face


    que vou pelos caminhos demonstrando,
    e como se outro ser, não mais aquele
    habitante de mim há tantos anos,


    passasse a comandar minha vontade
    que, já de si volúvel, se cerrava
    semelhante a essas flores reticentes


    em si mesmas abertas e fechadas;
    como se um dom tardio já não fora
    apetecível, antes despiciendo,


    baixei os olhos, incurioso, lasso,
    desdenhando colher a coisa oferta
    que se abria gratuita a meu engenho.


    A treva mais estrita já pousara
    sobre a estrada de Minas, pedregosa,
    e a máquina do mundo, repelida,


    se foi miudamente recompondo,
    enquanto eu, avaliando o que perdera,
    seguia vagaroso, de mãos pensas.
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  2. #132
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    Os últimos dias


    Que a terra há de comer,
    Mas não coma já.


    Ainda se mova,
    para o ofício e a posse.


    E veja alguns sítios
    antigos, outros inéditos.


    Sinta frio, calor, cansaço:
    para um momento; continue.


    Descubra em seu movimento
    forças não sabidas, contatos.


    O prazer de estender-se; o de
    enrolar-se, ficar inerte.


    Prazer de balanço, prazer de voo.


    Prazer de ouvir música;
    sobre o papel deixar que a mão deslize.


    Irredutível prazer dos olhos;
    certas cores: como se desfazem, como aderem;
    certos objetos, diferentes a uma luz nova.


    Que ainda sinta cheiro de fruta,
    de terra na chuva, que pegue,
    que imagine e grave, que lembre.


    O tempo de conhecer mais algumas pessoas,
    de aprender como vivem, de ajudá-las.


    De ver passar este conto: o vento
    balançando a folha; a sombra
    da árvore, parada um instate
    alongando-se com o sol, e desfazendo-se
    numa sombra maior, de estrada sem trânsito.


    E de olhar esta folha, se cai.
    Na queda retê-la. Tão seca, tão morna.


    Tem na certa um cheiro, particular entre mil.
    Um desenho, que se produzirá ao infinito,
    e cada folha é uma diferente.


    E cada instante é diferente, e cada
    homem é diferente, e somos todos iguais.
    No mesmo ventre o escuro inicial, na mesma terra
    o silêncio global, mas não seja logo.


    Antes dele outros silêncios penetrem,
    outras solidões derrubem ou acalentem
    meu peito; ficar parado em frente desta estátua: é um
    torso de mil anos, recebe minha visita, prolonga
    para trás meu sopro, igual a mim
    na calma, não importa o mármore, completa-me.


    O tempo de saber que alguns erros caíram, e a raiz
    da vida ficou mais forte, e os naufrágios
    não cortaram essa ligação subterrânea entre homens e coisas;
    que os objetos continuam, e a trepidação incessante
    não desfigurou o rosto dos homens;
    que somos todos irmãos, insisto.


    Em minha falta de recursos para dominar o fim,
    entrentanto me sinta grande, tamanho de criança, tamanho de torre,
    tamanho da hora, que se vai acumulando século após século e causa vertigem,
    tamanho de qualquer João, pois somos todos irmãos.


    E a tristeza de deixar os irmãos me faça desejar
    partida menos imediata. Ah, podeis rir também,
    não da dissolução, mas do fato de alguém resistir-lhe,
    de outros virem depois, de todos sermos irmãos,
    no ódio, no amor, na incompreensão e no sublime
    cotidiano, tudo, mas tudo é nosso irmão.


    O tempo de despedir-me e contar
    que não espero outra luz além da que nos envolveu
    dia após dia, noite em seguida a noite, fraco pavio,
    pequena amplo fulgurante, facho lanterna, faísca,
    estrelas reunidas, fogo na mata, sol no mar,
    mas que essa luz basta, a vida é bastante, que o tempo
    é boa medida, irmãos, vivamos o tempo.


    A doença não me intimide, que ela não possa
    chegar até aquele ponto do homem onde tudo se explica.
    Uma parte de mim sofre, outra pede amor,
    outra viaja, outra discute, uma última trabalha,
    sou todas as comunicações, como posso ser triste?


    A tristeza não me liquide, mas venha também
    na noite de chuva, na estrada lamacenta, no bar fechando-se,
    que lute lealmente com sua presa,
    e reconheça o dia entrando em explosões de confiança, esquecimento, amor,
    ao fim da batalha perdida.


    Este tempo, e não outro, sature a sala, banhe os livros,
    nos bolsos, nos pratos se insinue: com sórdido ou potente clarão.
    E todo o mel dos domingos se tire;
    o diamante dos sábados, a rosa
    de terça, a luz de quinta, a mágica
    de horas matinais, que nós mesmos elegemos
    para nossa pessoal despesa, essa parte secreta
    de cada um de nós, no tempo.


    E que a hora esperada não seja vil, manchada de medo,
    submissão ou cálculo. Bem sei, um elemento de dor
    rói sua base. Será rígida, sinistra, deserta,
    mas não a quero negando as outras horas nem as palavras
    ditas antes com voz firme, os pensamentos
    maduramente pensados, os atos
    que atrás de si deixaram situações.
    Que o riso sem boca não a aterrorize
    e a sombra da cama calcária não a encha de súplicas,
    dedos torcidos, lívido
    suor de remorso.


    E a matéria se veja acabar: adeus composição
    que um dia se chamou Carlos Drummond de Andrade.
    Adeus, minha presença, meu olhar e minas veias grossas,
    meus sulcos no travesseiro, minha sombra no muro,
    sinal meu no rosto, olhos míopes, objetos de uso pessoal, idéia de justiça, revolta e sono, adeus,
    adeus, vida aos outros legada.
    Última edição por Fonteles; 16-06-2017 às 12:36.
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  3. #133
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    Estou lendo : Desinformação '' Ex-Chefe de Espionagem Revela Estratégias Secretas para Solapar a Liberdade, Atacar a Religião e promover o Terrorismo.

    Ion Mihai Pacepa
    Ronald J. Rychlak
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  4. #134
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  5. #135
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    Citação Postado originalmente por Fonteles Ver Post
    Os últimos dias


    Que a terra há de comer,
    Mas não coma já.


    Ainda se mova,
    para o ofício e a posse.


    E veja alguns sítios
    antigos, outros inéditos.


    Sinta frio, calor, cansaço:
    para um momento; continue.


    Descubra em seu movimento
    forças não sabidas, contatos.


    O prazer de estender-se; o de
    enrolar-se, ficar inerte.


    Prazer de balanço, prazer de voo.


    Prazer de ouvir música;
    sobre o papel deixar que a mão deslize.


    Irredutível prazer dos olhos;
    certas cores: como se desfazem, como aderem;
    certos objetos, diferentes a uma luz nova.


    Que ainda sinta cheiro de fruta,
    de terra na chuva, que pegue,
    que imagine e grave, que lembre.


    O tempo de conhecer mais algumas pessoas,
    de aprender como vivem, de ajudá-las.


    De ver passar este conto: o vento
    balançando a folha; a sombra
    da árvore, parada um instate
    alongando-se com o sol, e desfazendo-se
    numa sombra maior, de estrada sem trânsito.


    E de olhar esta folha, se cai.
    Na queda retê-la. Tão seca, tão morna.


    Tem na certa um cheiro, particular entre mil.
    Um desenho, que se produzirá ao infinito,
    e cada folha é uma diferente.


    E cada instante é diferente, e cada
    homem é diferente, e somos todos iguais.
    No mesmo ventre o escuro inicial, na mesma terra
    o silêncio global, mas não seja logo.


    Antes dele outros silêncios penetrem,
    outras solidões derrubem ou acalentem
    meu peito; ficar parado em frente desta estátua: é um
    torso de mil anos, recebe minha visita, prolonga
    para trás meu sopro, igual a mim
    na calma, não importa o mármore, completa-me.


    O tempo de saber que alguns erros caíram, e a raiz
    da vida ficou mais forte, e os naufrágios
    não cortaram essa ligação subterrânea entre homens e coisas;
    que os objetos continuam, e a trepidação incessante
    não desfigurou o rosto dos homens;
    que somos todos irmãos, insisto.


    Em minha falta de recursos para dominar o fim,
    entrentanto me sinta grande, tamanho de criança, tamanho de torre,
    tamanho da hora, que se vai acumulando século após século e causa vertigem,
    tamanho de qualquer João, pois somos todos irmãos.


    E a tristeza de deixar os irmãos me faça desejar
    partida menos imediata. Ah, podeis rir também,
    não da dissolução, mas do fato de alguém resistir-lhe,
    de outros virem depois, de todos sermos irmãos,
    no ódio, no amor, na incompreensão e no sublime
    cotidiano, tudo, mas tudo é nosso irmão.


    O tempo de despedir-me e contar
    que não espero outra luz além da que nos envolveu
    dia após dia, noite em seguida a noite, fraco pavio,
    pequena amplo fulgurante, facho lanterna, faísca,
    estrelas reunidas, fogo na mata, sol no mar,
    mas que essa luz basta, a vida é bastante, que o tempo
    é boa medida, irmãos, vivamos o tempo.


    A doença não me intimide, que ela não possa
    chegar até aquele ponto do homem onde tudo se explica.
    Uma parte de mim sofre, outra pede amor,
    outra viaja, outra discute, uma última trabalha,
    sou todas as comunicações, como posso ser triste?


    A tristeza não me liquide, mas venha também
    na noite de chuva, na estrada lamacenta, no bar fechando-se,
    que lute lealmente com sua presa,
    e reconheça o dia entrando em explosões de confiança, esquecimento, amor,
    ao fim da batalha perdida.


    Este tempo, e não outro, sature a sala, banhe os livros,
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    E todo o mel dos domingos se tire;
    o diamante dos sábados, a rosa
    de terça, a luz de quinta, a mágica
    de horas matinais, que nós mesmos elegemos
    para nossa pessoal despesa, essa parte secreta
    de cada um de nós, no tempo.


    E que a hora esperada não seja vil, manchada de medo,
    submissão ou cálculo. Bem sei, um elemento de dor
    rói sua base. Será rígida, sinistra, deserta,
    mas não a quero negando as outras horas nem as palavras
    ditas antes com voz firme, os pensamentos
    maduramente pensados, os atos
    que atrás de si deixaram situações.
    Que o riso sem boca não a aterrorize
    e a sombra da cama calcária não a encha de súplicas,
    dedos torcidos, lívido
    suor de remorso.


    E a matéria se veja acabar: adeus composição
    que um dia se chamou Carlos Drummond de Andrade.
    Adeus, minha presença, meu olhar e minas veias grossas,
    meus sulcos no travesseiro, minha sombra no muro,
    sinal meu no rosto, olhos míopes, objetos de uso pessoal, idéia de justiça, revolta e sono, adeus,
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  6. #136
    Table Captain Avatar de Mandracon
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    30/12/14
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    Rai Cai

    Eu até gosto de estudar
    Mas se eu não tivesse pinto
    Eu suicidava
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  7. #137
    Table Captain Avatar de diegoholiveira
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    Literatura brasileira de primeira! Ainda to na metade do livro mas pelo que eu vi até agora já tenho coragem de recomendar fortemente:

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  8. #138
    Amador Avatar de Loureirz
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    Lendo "O Hobbit" e depois engatarei no "Sapiens - Uma Breve História da Humanidade".

    O que vocês andam lendo?
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  9. #139
    Table Captain
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    O verdadeiro poder - Vicente Falconi
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  10. #140
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    Citação Postado originalmente por Loureirz Ver Post
    Lendo "O Hobbit" e depois engatarei no "Sapiens - Uma Breve História da Humanidade".

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    Jared Tendler ' The Mental Game of Poker
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