Postado originalmente por
Kleber
Idelber Avelar
A cada ataque de nazistas ou supremacistas brancos nos EUA, a reação nas redes passará por uma lista bem previsível de posições:
a) a tradicional grita de indignação contra os nazistas, que é ao mesmo tempo óbvia, compreensível e inútil;
b) as perguntas retóricas estupefatas sobre onde estamos e como viemos parar aqui, também compreensíveis e também inúteis;
c) as infinitas discussões sobre se os nazistas devem ter o direito a se manifestar, debates também equívocos, na medida em que frequentemente impugna-se o direito ao discurso misturando-o com ações odiosas -- deslizamento que é sempre o primeiro passo para fundamentar essa precaríssima categoria, a de "discurso de ódio";
d) as diatribes do defensor das ditaduras de esquerda (no caso de hoje, a Venezuela), que se aproveita para dizer "olha lá o que acontece na democracia dos EUA!", como se isso desculpasse o seu apoio a massacres conduzidos pelo Estado na Venezuela;
e) as óbvias argumentações de que quem votou em Trump é responsável por isso, postura que não explica nada, posto que permaneceria para ser explicado o porquê de terem votado em Trump -- já que era tudo só um preâmbulo para o nazismo mesmo;
f) as tradicionais bravatas de que nazista se enfrenta "na ponta do fuzil", coisa com a qual tenho cada vez menos paciência, porque quem acha que se resolve algo com o fuzil deveria sair do Facebook, parar de escrever, pegar a porra do fuzil e ir para a rua.
Querem ler algo INTELIGENTE sobre o que aconteceu em Charlottesville? Leiam este texto de David Marcus. O argumento é fino e nuançado, mas eu vou me permitir uma paráfrase simplificadora.
Em suma, e resumindo toscamente: não se passou anos argumentando que o homem branco tem que assumir o seu privilégio de branco e falar como branco? Não se passou anos dizendo que o branco sensível a problemas de racismo e o branco abertamente racista são igualmente privilegiados e ocupam o mesmo lugar? Não se passou anos dizendo que "o maior problema do racismo é o branco bem intencionado"? Tantas vezes não foi dito que um salário de 300.000 dólares e estabilidade no emprego em Harvard não significa nada se você é uma mulher negra, pois você continuará sendo a oprimida, mesmo que o seu interlocutor seja um branco desempregado de um trabalho de 20 mangos em um apocalipse pós-industrial em Michigan?
Taí, finamente argumentada, a parcela de responsabilidade das políticas identitárias na catástrofe atual:
"White people are being asked—or pushed—to take stock of their whiteness and identify with it more. This is a remarkably bad idea. The last thing our society needs is for white people to feel more tribal. The result of this tribalism will not be a catharsis of white identity, improving equality for non-whites. It will be resentment towards being the only tribe not given the special treatment bestowed by victimhood."