Postado originalmente por
Fonteles
Além de todas as incongruências já apontadas, muitos "liberais" (com todas as aspas aqui) estão defendendo não só o Trump, mas também um cara ainda mais averso ao mundo da democracia liberal (limitação do poder/direitos humanos/liberdade econômica) como o Putin.
(Aliás, para entender a autocracia russa atual, recomendo fortemente a leitura de duas excelentes análises:
https://www.theatlantic.com/internat...ocracy/510011/
The Russian Question | Foreign Policy)
Mas, por que eles estão fazendo isso? Por que eles acham que é estrategicamente correto abandonar os seus próprios princípios políticos em nome de um bem maior? Na minha opinião, é porque esses princípios não são tão importantes assim para os neoconservadores liberais (o que podemos discutir mais tarde) e também porque o politicamente correto está indo longe demais. Precisamos reconhecer e deixar bem claro isto: o progressismo liberal está errado nesse ponto.
É claro que isso não quer dizer que devemos parar de atacar o racismo, a homofobia, a intolerância religiosa, a misoginia... Mas, a partir do momento em que passamos a defender a retirada de marchinhas de nosso carnaval (apenas para dar um exemplo internacionalista) é porque realmente algo não vai bem.
Evidentemente, muitos desses versos possuem duplo sentido e incorrem em algum preconceito. Mas, não é assim que a gente vai acabar com aqueles males odiosos, acima citados. A atenção deve se voltar mais para quem apanha uma mulher à força, impede um negro de entrar em um local apenas por ser negro, diferencia os salários de cargos idênticos por questão de gênero, etc e não para questões menores e inofensivas. Se o preconceituoso (todos nós somos em alguma medida) se limitasse a contar piadas infames e a se indagar "será que ele é?" ao ver a cabeleira do zezé em blocos carnavalescos, estaríamos bem. Ou seja, se esse cara se limitar a ser um preconceituoso em seu foro íntimo, não teríamos grandes problemas em nossa sociedade.
Enfim, façamos essa autocrítica para que não tenhamos mais que lidar com futuros Trumps, Putins, Farages, Bolsonaros, LePens, etc. Não podemos considerar como "inimigos" os eleitores que votaram ou que eventualmente votarão neles. Temos que reconquistá-los, e, na minha opinião, para que isso aconteça, deveremos diminuir a pegada politicamente correta de nosso discurso.