Acharam o moleque da testa marcada.
Ele disse que estava "muito bêbado" quando invadiu a casa do tatuador. A despeito disso, lembra com muitos detalhes do que fez, do que disse e do que ouviu, coisa que qualquer um aqui que já tenha ficado "muito bêbado" na vida sabe que é altamente improvável. "Eu coloquei a mão em uma bicicleta, mas não estava roubando. Nem sabia o que eu estava fazendo". Esse "nem sabia o que estava fazendo", se vê, dá toda pinta de ser orientação da Defensoria Pública. Diz o jovem que implorou pra que fizessem a tatuagem no braço, e foi ameaçado de espancamento caso procurasse a polícia.
Não importa muito a sua opinião sobre o que os caras fizeram, porque eu gostaria de falar mesmo sobre a família do moleque. O tio disse: "quando o vi, comecei a chorar". A mãe afirmou: "meu filho não é boi pra ser marcado. Quero justiça". Ela tem 34 anos. O moleque, 17, e é o mais velho de seis. Se o primeiro filho foi um erro, fruto da imaturidade, os outros 5 foram o que? Se o segundo ainda foi também um "acidente", o SUS realiza laqueadura gratuitamente para mulheres com ao menos 25 anos ou 2 filhos. Se não fizeram nela, é porque ela não consentiu. E se ela não consentiu, é porque se julgava capaz de criar 6 filhos aos 34 anos. Ou ela também "nem sabia o que estava fazendo?"
A mãe diz que ele parou de estudar na oitava série, e ao fazer isso confessa o crime de abandono intelectual (art. 246 do CP). Se o menino estava bêbado, o crime é o do art. 243 do ECA, e os pais tem culpa in vigilando. E ainda que o caso aqui é leve: em 2 de junho do ano passado um menino de 10 anos foi morto trocando tiros com a polícia depois de furtar um veículo. Na época, a mãe apareceu em todos os canais chorando desesperada e clamando por justiça, mas não achou que deveria explicar (e ninguém lhe cobrou) por que o filho dela estava armado na rua a noite furtando veículos e colocando a vida de inocentes em risco. E colocando a vida dos policiais em risco também, porque pode não parecer, mas policial não é Superman, é gente: ser policial é o trabalho com o que ele alimenta mulher e filhos. Policial não existe pra tomar bala no peito só porque você criou um gremlin no lugar de um ser humano. E não dá nem pra culpar o Estado, porque a idade mínima para internação na Fundação Casa é de 12 anos.
A gente tem que parar de tratar adultos como inimputáveis só porque são pobres ou com pouca instrução: isso é uma ofensa à multidão de brasileiros humildes cujos filhos estão nesse momento na escola e não na rua assaltando ou enchendo a cara. A sociedade não "falhou", porque a sociedade não tem CPF nem senta no banco dos réus. Isso é condescendência arrogante de uma elite culpada que se julga melhor do que a empregada doméstica ou o pedreiro, e tenta purgar a sua culpa tratando pobre como se fosse um bichinho de estimação que mija no sofá porque "não sabe o que está fazendo".
Rafael Rosset