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Por que os paulistas reelegeram Geraldo Alckmin?
Militante petista: - Vamos mudar tudo que está aí!!
Paulista: - Pra que?
Militante petista: - Porque do jeito que tá não pode ficar!
Paulista: - Tô de boa com o jeito que tá.
(do twitter do @pensoestranho)
NA TEORIA
A ideia de conservadorismo não é muito bem compreendida em terras brasileiras, embora o brasileiro seja, em essência, um conservador. (Peguem qualquer estudo antropológico aí...; uma dica é Roberto DaMatta). Por aqui, especialmente na internet, 'conservador' virou uma ofensa, típica de uma militância que altera e 'impõe' o significado das palavras: 'aprendi' que o certo é 'orientação' sexual e não 'opção sexual'; 'homossexualidade' e não 'homossexualismo'; que 'progressista' é sempre bom, como se fosse uma certeza que uma geração será sempre melhor que a anterior...
Sem entrar em filosofia profunda, 'todo mundo é conservador naquilo que aprecia' diz JPCoutinho em seu último livro. Queremos conservar um bom emprego, um bom tempo com o filho, um animal de estimação. A associação com a 'manutenção do status quo econômico' é argumento preguiçoso. O conservadorismo não confronta a liberdade econômica (existem conservadores pró livre mercado e conservadores contra) e é essa liberdade econômica que pode alterar o 'status quo econômico', não o conservadorismo (ou sua ausência). O status quo que o conservadorismo defende é o da manutenção das conquistas que as gerações passadas nos entregaram ('ordem, justiça e liberdade', nas palavras de Russel Kirk). Não tomem a palavra ao pé da letra. Claro que a eventual não-eleição de Geraldo Alckmin não colocaria a civilização em risco, mas o paulista sabe que sempre dá pra piorar e não está a fim de arriscar. (Justamente por isso, considero a eleição de Haddad crucial pra vitória de Alckmin; o paulistano viu que arriscar pode dar zica). A grande virtude do conservadorismo é a prudência. (Particularmente, preferiria o termo 'prudente' a 'conservador').
Nesse ponto da argumentação, lembro da teoria de Fenômenos de Transportes, pesadelo na Engenharia Química. Pra saber onde está melhor, basta tirar o Muro de Berlim e ver pra que lado vão as pessoas; analise o Mar do Caribe e veja se tem mais cubano tentando chegar na Florida ou mais americano tentando chegar em Havana. Pois então... São Paulo continua a receber pessoas. Há MUITAS décadas... É a maior colônia japonesa fora do Japão, tem uma baita colônia árabe, judaica, italiana... Tem quase tanto nordestino quanto paulista em São Paulo...
Embora em um partido de centro-esquerda (Partido da SOCIAL DEMOCRACIA brasileira), Geraldo Alckmin deve ser o político viável (ignoremos os levy's) mais conservador da política brasileira. E é forte JUSTAMENTE por isso. (E espero que já tenham entendido que, vindo de mim, isso é um elogio...)
NA PRÁTICA
Ok, mas e o dia-a-dia?
Em um país que tem 56 mil homicídios por ano (cerca de 10% do total mundial) e que 25% não tem saneamento básico completo, eu acho meio besta discutir USP, política de drogas, abortos, casamento gay... Como dizem, isso é problema de país rico. Nós estamos lááá atrás. Temos muita merda pra comer ainda... Mas São Paulo, felizmente pros paulistas, já está mais adiantado.
Alguns tópicos que sempre batem:
Segurança
'Sensação de insegurança' é diferente de 'insegurança'. O Brasil mata 29 pessoas por 100 mil habitantes por ano. São Paulo mata cerca de 15. Se o Brasil conseguisse o índice paulista, 27 mil pessoas deixariam de morrer por ano. (Não precisa acreditar em mim. Os dados são do Ministério da Justiça: aqui.). 'Ah, mas tem os outros crimes'. É verdade. Mas São Paulo continua sendo o Estado com menos chance de você ser assassinado. O paulista vive inseguro. Mas sabe que o resto do Brasil está pior.
Educação
SãoPaulo é o 5º, o 4º e o 3º na classificação do Ideb, exame do Ministério da Educação, para 4ª série, 8ª/9ª série e Ensino Médio. (Cliquem no link e confiram por conta própria). Sim, a educação de São Paulo é uma bosta. Mas o paulista sabe que pode piorar. Conservador.
Metrô
O ritmo de construção é patético (Sou um crítico particularmente da solução com aerotrem). Mas é o Estado com maior malha do Brasil e a que mais tem construído. Parentes e migrantes de outros Estados sempre ficam encantados. Os partidos que concorreram com Alckmin (PMDB e PT) não possuem exemplos pra chamar de 'seu'. É ruim. Mas o paulista sabe que ninguém no Brasil ainda fez melhor.
Corrupção
Tenho pra mim que isso é um não-assunto eleitoral. Brasileiro coloca 'condenado' e 'simples' 'denunciado' no mesmo pacote. Mistura mil reais com bilhões de dólares. Acha que caixa2 é a mesma coisa que comprar outro poder. E, principalmente, faz a mesma coisa no dia a dia, na sonegação, na multa, no cafezinho...
(E, aí sim por mero chutômetro, acho que a corrupção no PSDB é menos 'institucional' do que no PT/PMDB).
Universidades estaduais
Isso entraria como minha prioridade 37, talvez. A despesa com pessoal abrange 105% do orçamento da USP. Sim, isso mesmo, todo mês, a USP se endivida só pra pagar os funcionários. Você é a favor da integralidade do inativo? Você é a favor de aumentos reais todo ano? Você é a favor da relação de 4 funcionários-não-professor pra cada professor-de-fato? Você é a favor da cobrança de mensalidade ou algum tipo de privatização pra aumentar receita? E, ainda assim, repare que a maioria dos itens é de competência federal, não estadual... Então...
Água
A Sabesp é referência mundial no tratamento de água, mas de fato deixou de investir para distribuição. No entanto, já li que 55% dos municípios brasileiros podem ter algum problema de abastecimento; trata-se da maior seca dos últimos x anos. Vivemos um período da 'cauda larga', pouco provável mas de grande impacto. Deve um governante público investir dinheiro escasso apenas para os períodos extremos (e que ficaria ocioso no restante (da maioria) do tempo)? Não sei responder. A crítica aqui é justa, mas acho que é uma questão muito mais circunstancial do que estrutural. Se nossa grande crítica à gestão Alckmin provavelmente não será mais um problema em março de 2015, não estamos assim tão mal...
Enfim, o paulista foi muito xingado (é parte do preconceito permitido), mas não é exatamente uma surpresa a reeleição de Alckmin: o status quo paulista é melhor que o status quo brasileiro.
O paulista não é utópico, não pretende o Céu; basta não estar no Inferno (e claro que não está!). Contenta-se com um governo que não o atrapalhe, mesmo que não o ajude tanto. O paulista precisa ter mais certeza que a alternativa é melhor.
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