"Logo mais teremos o debate da Record. E qual a expectativa?
Poucas novidades.
Dilma deve confirmar a melhora observada no encontro do SBT em relação à fluência do seu discurso, exibindo mais clareza e coerência lógica na construção das orações. Porém, não nos enganemos, isso não representará, como não representou no estúdio da emissora de Sílvio Santos, mais conteúdo ou consistência.
As intervenções da petista deverão manter a tônica de ataques ao candidato adversário e as velhas e desonestas comparações entre o período petista e o tucano encerrado há 12 anos. Olhos no retrovisor, nada para o futuro.
Em sua versão mais
frágil, apresentada no debate BAND, Dilma se mostraria errática, vacilante, vulnerável, insegura e o resultado do confronto passará a ideia de massacre, o que não necessariamente será um grande resultado para o tucano, que é um péssimo vencedor.
O neto de Tancredo, candidato mais populista em eleições presidenciais desde Collor, apostará nas mesmas armas dos confrontos anteriores: promessas vazias, indignação simulada e ataques rotulados à sua adversária ("l-e-v-i-a-n-a!", dirá ele).
Aécio não é um grande orador, mas tem qualidades oratórias inegáveis. O que arruína seu talento são essas expressões. O gestual do tucano é um vício insolúvel que deverá estar novamente presente: o risinho quase perene no canto da boca transmite a impressão de uma pessoa cínica e arrogante, enquanto o olhar de fúria alternado a expressões faciais de indignação sugerem dissimulação.
Nada a comparar com os grandes oradores. Lula não sorri a todo momento em que fala, mas quando o faz nós sorrimos com ele, porque nos parece verdadeiro. O mestre Leonel Brizola demonstrava convicção quando arqueava as sobrancelhas, uma perplexidade legítima quando mantinha os olhos semicerrados e uma dignidade elevada quando levava o lenço à testa para enxugar o suor. Ainda que se possa argumentar que fossem gestos calculados, davam uma moldura adequada ao seu discurso. Aécio não, Aécio é pura mise-en-scène, a representação teatral do sofista erístico.
Uma atração à parte nos debates são as torcidas, e nessa era da rede social podemos monitorá-las muito bem. Cada uma, claro, comemorá vitória ao final e se apressará em buscar análises políticas na rede que a comprovem.
A torcida vermelha apresentará sua candidata como vítima de ataques cruéis, mas não uma vítima qualquer, e sim a vítima mulher, arrasada pelo agressor machista. Uma bobagem, claro, Aécio não é mais machista do que a própria Dilma, que também trata as mulheres genericamente como "donas de casa", ele é apenas um grosso, e só.
A torcida azul não comemorá apenas uma vez ao final do trâmite, mas várias. Cada reação de Aécio é uma injeção de adrenalina. Cada ataque é como mais um golpe de lança que penetra o inimigo, o PT, e recordemos, Aécio é hoje o líder messiânico que nos salvará do PT.
E por aí vamos nós, no aguardo de mais um embate em que poderemos esperar de tudo, menos propostas. Só não esqueçam da pipoca!"