Postado originalmente por
dunadan
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Tenho 29 anos e uma vida que eu dificilmente imaginaria ter quando estava na faculdade. Sou do sul do RS e trabalho em Belém em uma construtora. Ganho um salário maior do que a grande maioria dos que postaram aqui (não quero parecer presunçoso, só não vou falar o valor pelas mesmas questões que o Urbach levantou) e a empresa paga aluguel, energia, tv a cabo, viagem pra casa todo mês com 3 dias de folga, etc. Como sou solteiro e sem filhos eu basicamente não tenho que mexer no meu dinheiro.
Dificilmente alguém apostaria nessa vida pra mim quando meu pai, na época servente de pedreiro, conheceu a minha mãe e acabou engravidando ela com 13 anos (pois é
).
Meus pais sempre trabalharam muito pra nada faltar em casa. Houve situações com algum aperto mas nada absurdo. Chegamos a morar por um tempo em uma casa sem água nem energia porque meu pai mesmo a construiu nos fins de semana e faltou grana pra fazer tudo de uma vez. Apesar de ambos terem estudado apenas até a quarta e quinta série, conseguiram depois de alguns anos abrir o próprio negócio. Com isso as coisas melhoraram bastante e tínhamos uma boa vida.
Eu nessa situação toda não tinha ideia do que fazer da minha, acabei abandonando o ensino médio no meio sem qualquer razão pra isso. Com 19 anos resolvi pegar uma graninha que tinha e ir pra Europa trabalhar com qualquer coisa, acabei desistindo em um mês. Não por ser fresco e não aguentar as condições ou não querer trabalhar como garçom ou algo parecido, mas porque percebi que aquilo não ia me ajudar em nada na vida. Voltei e continuei trabalhando com a minha mãe (meus pais se separaram e ela continuou com o negócio).
No ano seguinte eu fiz um daqueles supletivos de fim de semana que se faz todas as provas do ensino médio de uma vez e "me formei". Em seguida fiz vestibular pra administração e durante o curso trabalhei de graça por muito tempo pela experiência. Felizmente tive um bom chefe que teve um papel importante no meu desenvolvimento.
Estou a 2 anos e meio no meu primeiro emprego de verdade e em condições muito boas, mas não quero isso pra minha vida. Não me sinto desmotivado mas tenho aquela sensação constante de que eu poderia estar fazendo algo muito maior.
Sobre dinheiro e felicidade
Eu não sou rico e nem fui pobre, mas vivi em condições muito diferentes das que vivo hoje. Não me preocupo muito com coisas materiais mas posso comprar o que quero, viajar quando quero ou ajudar quem eu quiser se necessário e não me preocupar se for demitido graças ao que guardei. Obviamente isso é excelente e dá uma tranquilidade e satisfação muito boas, mas em geral eu digo com sinceridade que eu sempre fui feliz.
Não quero prolongar muito sobre esse assunto, mas acho que é consenso que a partir de um determinado ponto o dinheiro não contribui em nada na felicidade (de fato lembro de ler alguma pesquisa que mostra que a partir de um ponto ele prejudicaria ao invés de melhorar). O que realmente influencia, na minha opinião, são as expectativas que criamos e a maneira como enfrentamos as situações.
Sem dúvida o que eu penso da vida e como eu enfrento as coisas é muito mais responsável por eu ser tão feliz do que o dinheiro que eu ganho com meu trabalho.
Uns 6 meses depois desse tópico conversei com meu chefe e disse que queria sair da empresa para viajar. Fiquei ainda quase dois meses trabalhando para fazer uma transição suave e deixei as portas abertas. Meu principal destino seria o sudeste asiático, então pensei em 3 meses, que depois passei para 6 e quando finalmente saí do Brasil em Março decidi que ficaria viajando por um ano.
Mais de 7 meses se passaram, agora cheguei na Tailândia depois de passar mais de meio ano na Europa. Trabalhei como voluntário em alguns lugares, passei o verão em uma ilha top, me perdi várias vezes, tive conversas muito interessantes, aprendi um pouquinho de vários idiomas que esqueci no outro dia, senti menos saudades de casa do que esperava, descobri que as pessoas são muito menos diferentes do que eu esperava. Me sinto muito mais confiante, melhorei muito meu inglês e até um pouco o espanhol, melhorei minhas habilidades com fotografia e me sinto muito mais confortável para falar em público.
Em algum ponto decidi que um ano seria impossível, pensei em dois, conhecer todos os continentes. Recentemente consegui um visto para trabalhar por até um ano na Nova Zelândia, com o dólar como está vai dar um gás bom para realmente ir para todos os continentes eventualmente.
Sinto saudades da minha família, especialmente meus sobrinhos pequenos, mas desde que saí não tive um dia ruim. Sei que é clichê, mas apesar de não ter casa, carro ou qualquer bem material me sinto cada dia mais rico e mais feliz de ser eu. Todo dia penso que tomei a decisão mais acertada da minha vida até agora. Pode ser que daqui a dois anos eu volte me ferre para achar emprego e me arrependa (apesar de que agora não consigo imaginar me arrependendo nem no pior cenário na volta para o Brasil).
O melhor de tudo é que eu absolutamente não consigo imaginar limites para nada na minha vida agora e tenho plena consciência de que eu sou o único responsável pelo meu futuro. Se amanhã eu acordar querendo ser presidente do Brasil eu vou trabalhar para isso. Se eu não puder eu vou chegar o mais próximo possível e vou aproveitar a experiência de tentar mesmo que fracasse.
Não tenho muitos planos pro futuro e nem imagino o que vou estar fazendo quando for quotar este post novamente. Espero que esteja dedicando alguma parte do meu tempo para ajudar outras pessoas, mas até agora não encontrei a maneira certa de fazer isso. Quanto ao trabalho, espero que a viagem me ajude a pensar qual seria uma boa carreira e que eu consiga segui-la. Se não tudo bem, talvez eu esteja sendo bobo e inocente, mas tenho a impressão de que estou aprendendo cada vez mais a aproveitar qualquer coisa que venha pela frente.