Que bom que tá gostando, tínhamos um certo receio em relação a iniciar o tópico, mas tá indo num nível bem legal.
E não tem essa de obrigação. Na verdade, num terreiro decente e organizado, os filhos de santo são proibidos de abrir a matéria fora do terreiro até que estejam coroados, que é quando eles já têm controle total sobre sua mediunidade e sobre seus corpos, a ponto de poderem abrir a própria casa. Neste ponto em diante, eles podem incorporar em qualquer lugar.
E perfeitamente possível para alguém ir pra gira uma vez, ou até mesmo passar anos, e depois sair. Meu tio foi coroado, mas depois de alguns anos, ele parou de frequentar porque se mudou pra praia, passou a ir pra igreja por pressão da esposa dele, porque a família dela ia, e ele agora é crente fervoroso, apesar de ainda gostar de passar no terreiro de vez em quando pra falar com as entidades.
Quando à questão do álcool, o que acontece é o seguinte: os guias absorvem todas as substâncias daquilo que o médium consome, e transforma aquilo em fluidos energéticos. Ele então espiritual e energeticamente metaboliza isso para ele, não para o médium. Já vi casos de médiuns que não acreditavam na força do guia, e que o guia botou pólvora na mão do médium, botou fogo, esperou o fogo passar, e nada aconteceu com a mão dele. Há guias de algumas linhas que chegam em terra, e a saudação deles é socar o chão, às vezes com força suficiente para tremer tudo, e nada acontece na mão do médium, sendo que qualquer coisa próxima a isso quebraria a mão de alguém, especialmente mulher. Já vi guia apagar charuto na língua ou na palma da mão, ou no peito, e nada acontecer. E a bebida é a mesma coisa. Quem bebe é o guia, não o médium. Em alguns casos, isso é feito para provar à assistência, ou ao próprio médium, que ele está se desenvolvendo realmente, como alguém que não bebe café sem açúcar ter um preto velho que bebe uma xícara atrás da outra, e deixa um gosto doce na boca do médium, ou o caso da cachaça mesmo, que já vi exu acabar com garrafa de uísque numa conversa de duas horas com um membro da assistência em específico, e o médium sair do trabalho como se nada tivesse acontecido, nem bafômetro dava sinal de que ele tinha bebido.
É difícil precisar uma porcentagem. Eu diria que grande parte das coisas pegam, porque quase ninguém realmente mantém uma frequência energética muito alta. E obviamente trabalhos para o bem pegam com mais frequência, porque eles não enfrentam barreiras. Não importa a religião da pessoa, se alguém faz um trabalho pra te ajudar a ter mais concentração pra uma prova importante, por exemplo, seus mentores e protetores (sejam eles anjos, exus, a força do espírito santo, ou qualquer outra coisa que você acredita), não vão impedir uma energia positiva de te atingir. Agora eles vão lutar contra energias negativas, então sempre é mais difícil que elas peguem.
Em relação ao primeiro fato, o que acontece é que, se você sair do terreiro sem se despedir, sem pedir permissão para isso, e estiver em desenvolvimento, e isso é muito importante, você pode ser cobrado por isso. E eu disse ser importante, porque quando você começa a entrar em desenvolvimento, você é ensinado, você assume um compromisso. Alguns guias são destacados e chamados para vir trabalhar com você. E da mesma forma que você precisa deles para evoluir, eles precisam trabalhar para evoluir, e vão fazê-lo através de você. Se você simplesmente resolver desistir, aqueles que fizeram um acordo com você, e que precisam de você para evoluir, vão cobrá-lo. Agora, se você simplesmente for lá, conversar com o pai de santo, confirmar que você está saindo, pedir licença para isso, os guias vão entender, alguns deles vão querer continuar com você, mesmo que nunca mais incorpore, para proteger você, porque eles têm afinidade contigo, mas os outros vão receber permissão de procurar outro médium pra trabalhar. Essa é a situação. Não é que você não pode sair, mas quando você faz um acordo com alguém, ou você cumpre, ou você procura esse alguém pra informar que você não vai poder cumprir, e aí vocês quebram o acordo. Você não pode simplesmente sumir. Entende?
Em relação ao "Chuta que é macumba", bem, tudo depende de quem recebeu aquela oferenda e se ele já terminou de absorver todas as energias contidas ali para realizar seu trabalho. Se isso já aconteceu, as coisas que estão ali podem ser jogadas no lixo, sem o menor problema, então chutar, roubar bebida e cigarro e fazer merda, não vai dar muito problema. Agora, se a energia ainda está sendo usada, bem, dependendo de quem for pode entender que a pessoa que está com a bebida dele também faz parte da energia sendo doada, e vai passar a acompanhar essa pessoa, como um encosto. E isso não é nada bom.
Isso, novamente, vai de lugar para lugar. O Reino de Oxóssi é recheado de animais, então eles têm, sim, alma. O Kardecismo acredita que você passa por diversos planos antes de se tornar humano, e que isso inclui várias vidas como diferentes animais, de acordo com uma determinada escala evolutiva. Eu acho que isso é mais próximo da realidade. Você experimenta vivências como animais mais simples, depois vai evoluindo para animais mais complexos, até ter condições de encarnar como um ser humano, tendo passado por essas experiências. Mas, para ser sincero, isso é uma crença minha, baseado em coisas que li do kardecismo e que concordo.
1- 50-50. Primeiro e mais importante é o medo irracional do desconhecido. Mas existe um costume de não olhar para o trabalho feito, já que, como o caso acima, se a energia ali não tiver sido esgotada ainda, você pode atrair um pouco daquilo pra você. Então, não há problema nenhum em passar por um trabalho feito. Pede licença, pede pra que nada dali te acompanhe e continua seu caminho sem olhar.
2- Todos nós temos guias espirituais. Às vezes, eles aparecem, às vezes não. Eu conheci a minha, eu tinha 7 anos, e com a orientação dela, eu acabei conhecendo o Paganismo. Mas em nenhum momento da minha vida ela foi mais importante do que quando minhas crises de bipolar estavam mais severas, e eu quase me matei. Então, provavelmente ela deve ter algum caboclo de Oxóssi que está preocupado com ela e quer ajudá-la.
Vou contar uma historinha que pode responder à sua pergunta. A avó da minha esposa morreu por complicações no parto, a mãe da minha esposa morreu quando ela tinha 11 anos, por doenças que surgiram subitamente. Quando minha esposa começou a apresentar problemas de saúde do nada também, fomos atrás de um aconselhamento espiritual, e uma pombagira identificou que havia alguém que estava cobrando algo da minha esposa, que havia sido mandada para prejudicar a vó dela, havia prejudicado a mãe, e ia ficar no pé da minha esposa até ela conseguir o pagamento que ela achava que era justo, para se vingar de algo que a vó da minha esposa tinha feito de mal pra ela numa vida anterior. Ela era obcecada por acabar com a linhagem da família, queria tirar a vida da minha esposa através de doença antes de ela ter filhos, e foi chamada uma vez, e confirmou tudo isso, e disse que não iria sair do pé enquanto não conseguisse garantir que aquele sangue não continuasse no mundo.
Depois de um puta trabalho, vários meses de limpeza e algumas coisas mais sérias, conseguimos tirar quem estava incomodando e mandá-la de volta pro plano onde ela veio, a fim de que ela recebesse orientação e pudesse se desenvolver e desapegar dessa mágoa tão antiga.
Então, sim. Uma missão (ou um problema) espiritual pode ser passada de geração pra geração.