Religiões afro em geral não têm preconceito. Por causa disso, diversos homossexuais se voltam para elas em busca de orientação espiritual. Existem muito mais pais e mães de santo héteros do que homo, mas como ninguém nota o primeiro, o segundo parece maior. Na minha família mesmo, meu padrasto é pai de santo, casado com minha mãe. Do outro lado, minha tia é ekede, casada com uma mãe de santo. As duas situações ocorrem, e isso, pelo menos pra mim, é bem normal. Até porque, os guias não fazem diferença. Tem pombagira que desce em homem, tem caboclo que desce em mulher. Minha mãe tem um caboclo de Xangô que já quebrou três anéis dela uma vez, porque ela esqueceu de tirá-los da mão, e ele chega socando o chão, quebrou os anéis (incluindo a aliança de casado - ele é canhoto, ela é destra).
O que acontece é que quando você é raspado, você se torna parte de uma corrente diferente. Você se torna sangue, carne, osso, família. E você não comeria sua irmã, comeria? Por isso que alguns locais mais tradicionais proíbem relacionamentos entre os filhos de santo raspados, porque para eles tem duas situações: 1- você tá cometendo incesto; 2- pode haver confusão.
Estendendo esse motivo 2, algo fundamental de se entender é que, quando se incorpora, seja um guia ou um orixá, a pessoa que está lá "em casa" (no corpo) não é mais a pessoa em si, mas quem ela incorporou. E eu já vi muitos casos de pessoas confundirem isso. Um marido ficar com ciúme da esposa dele dar um passe em alguém, um casal de namorados ficar trocando olhares e mandando piscadinhas um pro outro na hora da gira, um ogã se distrair do seu trabalho ao ficar trocando olhares com alguém da gira. Isso prejudica o fluxo de energia, distrai, dilui, atrapalha o trabalho. Por isso, é sempre não-recomendado que haja esse tipo de coisa. É claro que, se um casal de namorados entra pra um lugar juntos, pode ser aberta uma exceção, dependendo do lugar, ou pode ser dado um jeitinho, como um deles ser raspado pelo babá (o pai de santo), e outro ser raspado por um dos pais ou mães menores. Isso faz com que eles sejam de uma linhagem diferente, o que impede que a tensão sexual existente entre eles distorça as energias nos trabalhos.
Quando ao Vodu, não tem nada a ver com as religiões afro no Brasil. Apesar de algumas pretas-velhas praticarem-no, isso é porque elas, em vida, eram de uma religião que praticava, e trouxeram esse conhecimento com elas. Mas elas não ensinam e têm restrições muito claras pra usar.
Uma curiosidade sobre relacionamentos em terreiros, quando eu tinha 15, 16 anos, eu me apaixonei por uma sereia de uma das meninas da gira. Ela tinha 19 anos (a pessoa), mas a sereia dela tinha 15, e a gente conversava bastante, eu adorava quando tinha gira de sereia por causa disso. E ela era uma guia "teimosa", que gostava de vir em quase qualquer gira, ela sempre dava um jeito de aparecer, era engraçado, então eu sabia que, quando essa menina ia pro trabalho, havia 50% de chance de eu conversar com a sereia dela. Era uma situação muito bizarra, mas isso fez com que eu acabasse gostando da menina (nunca vi a médium com olhos diferentes de família, praticamente crescemos juntos) um pouco mais. Demorou um pouco pra eu conseguir me livrar disso hahahahaha.