"A principal razão de eu ter ido pra Xi'an foi pra ir na Plank Road in the Sky. Eu vi na internet qual era a estação de metro que ia até onde saia o ônibus e parti do hostel bem cedo.
Os problemas já começam no metrô. Em vários lugares não tem nome em inglês, então você tem que olhar para os nomes como se fossem desenhos, tipo "Pauzinho pra cima que vira pra direita com um tracinho embaixo e duas arvorezinhas.". Acabei indo pro lado errado, mas troquei na outra estação e foi de boa.
Uma meia hora depois chego na estação final (que também era estação de trem). Saio e bem na frente da estação tem uma placa dizendo “Bus” com uma seta pra seguir em frente. Sigo em frente e não vejo porra nenhuma, vou pra direita e pra esquerda. Volto pra ver se não vi errado, pergunto pra gente na rua que não sabe do que to falando. Fico meia hora nesse negócio até que vejo uma garagem de ônibus uns 100 metros dali. Vou lá achando que é o lugar certo e o cara diz que não, começa a traduzir umas coisas no tradutor dele e eu entendo zero, nada que ele diz faz sentido em inglês.
Um parêntese pra dizer que não sou (muito) donk. Já peguei todo tipo de transporte em tudo que é lugar. Não sei o que fizeram com a porcaria do ônibus.
Enfim, desisto e volto decidido a comprar o trem que era mais caro e chegava lá mais tarde, mas paciência.
Tento comprar o trem, mas a mulher diz que sem passaporte não vende e eu tinha deixado o meu no hostel.
Desisto de tudo e vou pro hostel comprar passagem de trem pro outro dia. Não tinha trem muito cedo e para o trem da volta não tinha segunda classe, nem primeira, nem VIP. Tive que comprar Business seats que eu nem sabia o que era, mas tava animado porque era duas categorias acima da primeira classe.
O problema era que saindo mais tarde e com a volta às 17, ia ser um dia meio corrido.
Cheguei na montanha e comecei a subir insanamente, ultrapassando todo mundo no caminho como uma mistura de Usain Bold e Edmund Hillary. O caminho começou OK, mas depois tinha até umas escadas escavadas na pedra que eram quase verticais com umas correntes pra te ajudar a não morrer.
Cheguei no topo do negócio e descobri que a plataforma que eu queria ir era do outro lado. Comecei a ir pra lá em passo acelerado e cada vez que via um mapa achava mais e mais que não ia dar tempo. Uma hora caminhando e vejo a primeira pessoa que não tem cara de chinês. Os dois se olham como se tivessem visto um canguru em porto de galinhas e aproveito pra puxar um papo rápido e perguntar quanto tempo pra chegar na plank road. “Meia hora” diz ele. Eu faço as contas e vejo que to fudido, mas eu nunca vou voltar lá, então vai ter que dar.
Chego na plataforma finalmente e penso que valeu a pena. Nem é perigoso, mas é um negócio estranho estar em cima de um pedaço de tábua com um precipício embaixo.
Nem vou até o final da plataforma porque não tenho tempo. Olho pro relógio e vejo que estou fudido e meio. Começo a correr na montanha pensando que se eu pegar o teleférico pra descer deve dar tempo. Isso devia ser umas 4 horas. Como agora era descendo um pouco até a área do teleférico, parecia que havia uma chance de eu não perder o trem.
Começo a chegar perto do teleférico umas 4:40. Tem fila. Começo a olhar pro meu relógio, pro bilhete, pro cara do teleférico, pro bilhete de novo. Um cara dá uma olhada no meu bilhete de trem e faz uma cara de que eu to fudido mesmo, mas grita umas coisas que eu entendi como “deixa esse babaca passar na frente de vocês que ele tem um trem em 15 minutos”.
Eu babaca furo a fila e aí fico pensando: “5 minutos no teleférico, pego um táxi até a estação e chego bem na hora. Sucesso”.
O teleférico leva um pouquinho mais de 5 minutos, mas beleza. Quando o teleférico chega lá embaixo meu coração para. Essa não é a entrada do parque. O teleférico desce pra um lugar que tem que pegar um bus pra entrada.
Corro pra comprar a porra da passagem do bus e entro correndo primeiro. O motorista me corre dizendo que está cheio. peço pra ir em pé e ele não deixa. Mais uns minutos para o próximo começar a descer e eu estou à espera de um milagre.
Pulo na entrada do parque e entro no primeiro táxi gritando pro cara estação de trem enquanto mostro o bilhete. Nessa hora eu devia ter uns 4 minutos. O cara está dirigindo bem de boa e eu chacoalhando o bilhete na mão pra ele entender que eu tava atrasado. Ele só sorria, achou que eu estava confirmando que ia para a estação ou algo assim. Aponto pro rádio dele que tem um relógio já mostrando 4:58 e o filho da puta pensa que eu quero ouvir música. Coloca uma porcaria lá que eu nem lembro. Aí eu coloco o bilhete na cara dele pra ver se ele entende. Ele finalmente percebe, mas já larga um “noooo”, tipo rindo da minha cara. Mas acho que ele também tem uma esperança porque dá uma acelerada.
Chego na estação correndo e na entrada a mulher olha pro meu bilhete, olha pro painel dos horários e olha de volta pra mim com uma cara triste. Ela não sabia me explicar, mas não precisava. Vendo minha cara de perdido, ela apontou para o guichê onde vendem passagens eu fui lá.
Nesse ponto eu já sabia que estava na merda, porque eu tinha comprado passagem no último trem disponível. Estava mais na merda ainda porque minha mochila estava no hostel em Xi’an e eu ainda tinha meu trem para Beijing saindo de lá mais tarde.
A mulher do guichê olha meu bilhete, faz também uma cara de triste e clica em uns botões. Aí acontece algo que eu não sei exatamente como foi. Ela não falava inglês, mas me mostrou o monitor e eu entendi que tinha outro trem, mas que não tinha assento. Fiz um positivo pra ela, peguei um novo bilhete e menos de 10 minutos depois estava viajando em pé para Xi’an pensando como será que era a Business class que eu perdi.
Cheguei em Xi’an um pouco depois do que pretendia, mas ainda estava OK. Peguei o metrô e desci na minha estação. Saí pra rua e não reconheci nada. Tentei ver Google maps em qual rua eu estava, mas não entendi muito bem, voltei pra estação e peguei a outra saída. Nada.
Abri outro app the mapa e percebi que tinha descido na estação errada. Não querendo ter que adivinhar pra que lado pegar o metro, corri pro meu hostel. Acho que a temperatura devia estar perto de zero, mas cheguei no hostel suando igual um porco.
Peguei minha mochila e finalmente corri pra pegar o ônibus para a estação de trem, que tinha uma fila enorme. Apesar de tudo, daí pra frente foi OK. Entrei no trem com outros 5 mil chineses e logo estava dormindo no meu beliche enquanto alguém comia noodles na cama de baixo.
A China é demais.
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