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Tópico: Spinoza por Amauri Ferreira

  1. #131
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    Citação Postado originalmente por JoseIrineu Ver Post


    Valeu por esse texto!

    Eu cheguei a uma conclusão esses dias, somos o ser vivo mais amaldiçoado, não podemos ser totalmente animais e não nos é permitido a perfeição, estamos em um corpo primitivo, que adoece, produz excreção, apodrece (como toda a vida), querendo desesperadamente buscar o divino, o perfeito que é simplesmente inalcançável.

    Eu acredito em Deus, pra mim deus é a perfeição, mas justamente por ser perfeito, absoluto, pra deus não existe moral, logo a responsabilidade pelo bem e mal é completamente nossa e o pior, ela é primariamente individual. Criar uma lei não impede o crime, seja ele qual for. No fundo o que todo ser humano deseja é criar seu próprio mundo, com suas próprias regras, onde sua vontade seja absoluta.

    Minhas conclusões seguintes a essa são confusas ainda, mas dentro desse pensamento vc consegue me colocar dentro de alguma corrente de pensamento dessas?

    Eu acredito em deus, mas acho que ele está acima da moral e pra mim é um fato que não nos é dada a possibilidade da perfeição/divino, onde eu me encaixo no meio dessa galera ai?
    Hahaha ... eu concordo que somos amaldiçoados!
    Mas sabe qual, no fundo, é a maldição?
    A Razão Tradicional! hahaha
    Foi ela quem fez o Homem achar que pode ser absoluto, igual Deus.
    Sendo assim, o Homem só faz parte da Natureza até o momento que começa a pensar.
    Depois que ele alcança a Razão (tradicional), ele conseguiria subverter a ordem da Natureza.
    É assim como a maioria das pessoas pensa!
    Eles agem como se a Razão pudesse escapar à ordem da Natureza, quando aplicada a nós mesmos.
    O nosso corpo seria um receptáculo da Razão, de modo que a ordem que rege o choque dos átomos, não funcionaria para explicar o pensamento em si.
    O pensamento em si, enquanto ordem, foge do choque de átomos no nosso cérebro, ao produzir qualquer idéia, se tornando uma nova ordem distinta do corpo. De modo que o que determina o corpo, não determina a Razão.
    A Razão seria transcendente, e não imanente!

    Cara, falando de forma bem sincera, se voce pensa que Deus é absoluto, perfeito, completo (ou seja: não está interessado em nós ... independe de nós) e não é moral, você está começando a identificar Deus com a Natureza. A Natureza é isso!
    Nós (considerados apenas como um modo finito da Natureza) estamos mais próximos da Ética (em grego Ethos, significando modo de ser) do que da Moral (em latim Mores, significando dever ser).
    A moral só funciona se a gente pensa que a Razão é transcendente (descontínua com o corpo, fazendo parte de uma outra ordem).
    Da mesma forma, é por isso que quem pensa a Razão como imanente (contínua com o corpo e tudo que existe, fazendo parte de uma única ordem), irá dizer que nós só somos capazes de uma ética.

    A responsabilidade pelo bem e pelo mal, no fundo, é só um desejo pelo bom e uma repulsa pelo ruim, que foram universalizados sem nenhuma reflexão.
    A maioria não percebe isso, e enfia na cabeça que o Bem (universal) sempre existiu antes do bom (particular).
    Perdeu-se completamente de vista que Bem e Mal são apenas valores criados pela Cultura a partir dos indivíduos dela.
    Daí porque Bem e Mal são pensados como categorias transcendentes.
    Bem e Mal se destacaram completamente dos homens.
    Eu penso que bem e mal pode existir apenas enquanto um bom e um ruim comum a uma comunidade (mesmo pensada enquanto a Humanidade).
    Vou explicar.
    Como eu disse antes, somos modos finitos da Natureza, por isso só somos capazes de uma ética.
    O bem e o mal, pensados como um bom e ruim comum, funciona perfeitamente nessa lógica, pois aí nos tornamos conscientes de que os valores são uma criação humana, e necessariamente refletem o nosso modo de ser, que nunca é estático.
    Nada na Natureza é estático.
    A Natureza é devir (como diziam os gregos pré-socráticos e Deleuze).
    Devir é transformação ininterrupta.

    Olha só que coisa magnífica!
    Isso é a beleza da arte!
    Ela nos dá a experiência da eternidade em nós!
    Essa música é uma ode ao Devir e eu adoro ela:



    Deleuze morreu, estudando os surfistas!
    Ele queria entender e explicar o surf como filosofia.

    A liberdade é saber pegar a onda, que nunca é igual, que nunca se repete!
    Nós não construimos a onda (como a maioria pensa). Nós apenas tentamos seguir o seu fluxo, tentando fazer aéreos e toda sorte de manobras possíveis.
    Às vezes não rola, e a gente cai numa vaca.
    Nessa hora o que importa é sair da vaca.
    A vaca é um liquidificador.
    Ela pode nos desintegrar.
    Nela somos apenas um joguete da Natureza.
    O homem livre é aquele que consegue perceber os fluxos da Natureza.
    É aquele que, sabendo não estar imune as paixões, tenta surfa-las.
    Quando ele nao consegue surfa-las, e cai numa vaca, ninguém saberá o que vai acontecer.
    Não se sabe se vamos suportar.
    Perdemos a liberdade, e somos apenas um corpo, sendo liquitificado a toda sorte de encontros.
    Não dá pra sair do mar (como pensa a maioria das pessoas), mas rola aprender a surfar.

    Respondendo a sua pergunta, eu acho que você é uma mistura da filosofia tradicional com a marginal.
    Vou explicar.
    Voce é marginal pq pensa que Deus está fora da moral (com isso voce se aproxima de uma ética, dando a entender que bem e mal é primariamente singular). Mas é tradicional pq nao escapou da transcendencia de Deus ao dizer que o homem nao participa Dele como um modo imanente da realidade ou da perfeicao.
    Eu nao sei aonde te colocar, pois nao consigo pensar agora em um pensador que tentou unir essas tendencias. Talvez Hegel!
    O que eu penso é que não dá pra unir essas tendencias.
    Elas sao necessariamente irreconciliaveis.
    Basta refletir bem que voce irá ver que uma nega a outra.
    Voce nao conseguirá, com tranquilidade, fugir disso.
    Elas se impõe!
    MT 4:19 and Khalil RG like this.
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  2. #132
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    Citação Postado originalmente por Sam Farha - Spinoza Ver Post
    @Khalil RG acho que você poderia começar pelas questões específicas que mais movimentaram a Filosofia e talvez lhe cause espanto, por você ainda não ter refletido elas.

    Por exemplo, a grande maioria das pessoas no mundo concordam que agimos por livre-arbítrio.
    Ou seja: as nossas ações não estão em conexão com nada que a determine.
    Para eles, as nossas ações ou vontades são autodeterminadas em si e por si mesmas.
    Nesse sentido qualquer post que você faz aqui, qualquer atitude sua, é uma deliberação absolutamente livre, de sorte que você pode querer ou deixar de querer qualquer coisa, sem se angustiar ou se sentir impelido.
    Seria dizer que você pode largar tudo que quiser e trilhar qualquer caminho que escolher.
    A base desse raciocínio se fundamenta na idéia de que razão é capaz de perceber e anular qualquer desejo irracional, ou logicamente incoerente com base no seu plano de ação, ou com base em alguma finalidade que você predeterminou para si mesmo, bastando para isso ter um conhecimento claro dos meios e fins das suas ações.
    Vou repetir: você poderia deixar de se sentir mal, deixando de fazer qualquer coisa, simplesmente porquê a razão pode mudar esse mal-estar apenas racionalizando-o, vendo suas incongruências ou bobagens.
    Você só se sente mal porquê ainda não conseguiu racionalizar a sua vida, mas quando conseguir (e todos nós podemos conseguir, afinal somos seres racionais), isso vai acabar.

    A maioria das pessoas pensa assim, inclusive a maioria dos intelectuais em qualquer campo do saber, da prática ... aqui no MaisEV ... o senso comum ... a grande maioria!

    Você já questionou essa idéia?
    Eu acho que não é simples assim. A alma não pode fazer o q quer com o corpo, fatores sentimentais ou externos podem influenciar no livre-arbítrio. É nesse ponto que não concordo plenamente com a ideia transcendente. O nosso meio vai influenciar muito na tomada de decisões, um exemplo: Você não aguenta mais sua rotina de casado e deseja se tornar um mochileiro (desejo antigo) e não pode devido a sua família, você tem uma filha recém-nascida e não pode abandona-la assim.

    A adoção dessas ideias no meu ponto de vista é muito individual e ético, de modo que a mesma pessoa poderia deixar sua família recém-nascida e ir "curtir" sua vida.
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  3. #133
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    Citação Postado originalmente por Khalil RG Ver Post
    Citação Postado originalmente por Sam Farha - Spinoza Ver Post
    @Khalil RG acho que você poderia começar pelas questões específicas que mais movimentaram a Filosofia e talvez lhe cause espanto, por você ainda não ter refletido elas.

    Por exemplo, a grande maioria das pessoas no mundo concordam que agimos por livre-arbítrio.
    Ou seja: as nossas ações não estão em conexão com nada que a determine.
    Para eles, as nossas ações ou vontades são autodeterminadas em si e por si mesmas.
    Nesse sentido qualquer post que você faz aqui, qualquer atitude sua, é uma deliberação absolutamente livre, de sorte que você pode querer ou deixar de querer qualquer coisa, sem se angustiar ou se sentir impelido.
    Seria dizer que você pode largar tudo que quiser e trilhar qualquer caminho que escolher.
    A base desse raciocínio se fundamenta na idéia de que razão é capaz de perceber e anular qualquer desejo irracional, ou logicamente incoerente com base no seu plano de ação, ou com base em alguma finalidade que você predeterminou para si mesmo, bastando para isso ter um conhecimento claro dos meios e fins das suas ações.
    Vou repetir: você poderia deixar de se sentir mal, deixando de fazer qualquer coisa, simplesmente porquê a razão pode mudar esse mal-estar apenas racionalizando-o, vendo suas incongruências ou bobagens.
    Você só se sente mal porquê ainda não conseguiu racionalizar a sua vida, mas quando conseguir (e todos nós podemos conseguir, afinal somos seres racionais), isso vai acabar.

    A maioria das pessoas pensa assim, inclusive a maioria dos intelectuais em qualquer campo do saber, da prática ... aqui no MaisEV ... o senso comum ... a grande maioria!

    Você já questionou essa idéia?
    Eu acho que não é simples assim. A alma não pode fazer o q quer com o corpo, fatores sentimentais ou externos podem influenciar no livre-arbítrio. É nesse ponto que não concordo plenamente com a ideia transcendente. O nosso meio vai influenciar muito na tomada de decisões, um exemplo: Você não aguenta mais sua rotina de casado e deseja se tornar um mochileiro (desejo antigo) e não pode devido a sua família, você tem uma filha recém-nascida e não pode abandona-la assim.

    A adoção dessas ideias no meu ponto de vista é muito individual e ético, de modo que a mesma pessoa poderia deixar sua família recém-nascida e ir "curtir" sua vida.
    Não é só isso. Tem mais!

    Mesmo o desejo, enquanto expressão apenas do conhecimento, se modifica, pelo conhecimento, de uma forma que não se expressa como sabedoria.
    Simplificando: as nossas ações, com base apenas no conhecimento, podem tranquilamente ser equivocadas do ponto de vista racional.
    Acontece que a maioria das pessoas não consegue distinguir formas de conhecer.
    Vou explicar.
    Quando você olha pro Sol, imagina que ele é pequeno e achatado. Logo a imagem do Sol não é conhecimento dele.
    O conhecimento dele seria apenas a apreensao da conexão das suas relacoes causais, donde se vai poder distinguir o falso (ou a imagem achatada e pequena do Sol a distancia) do verdadeiro (ou o conhecimento das relacoes que fazem dele um ser esférico e enorme, percebido erroneammente por nós dada as leis da ótica e da sua relacao com os nossos sentidos (ou corpo)).
    Mas acontece que a imaginacao nao é um propriamente um desconhecimento.
    A imaginacao é apenas uma forma determinada de conhecimento parcial.
    Nesse sentido, o conhecimento imaginativo do Sol não é falso, apenas diferente e menos completo.
    Nessa forma de conhecer, nós só ficamos no ambito dos efeitos do Sol em nosso corpo. Fato que explica, de certa forma, o nosso corpo como constituicao afetiva (afetividade num sentido mais amplo (que engloba inclusive as paixoes, mas a ultrapassa))
    Afetividade como mistura, choque, impressao ... se tudo que nos rodeia com a gente.
    Spinoza, quando fala de afetos, usa nesse sentido mais amplo, e não só como sentimento, mas como algo físico também.

    No caso do Sol é facil distinguir imaginacao do conhecimento puramente racional.
    Mas acontece que muita coisa (na verdade a maioria do que nos passa na cabeca, na maioria das vezes) é conhecimeto imaginativo e parcial.
    Só que nós nao percebemos isso, e tomamos como conhecimento puramente racional.
    Nós só conhecemos os efeitos das coisas sobre nós, enquanto impressao do mundo, mas nao como conhecimento causal dessa impressao mesma.
    Conhecendo as leis da ótica, eu tenho o conhecimento causal do pq ele me aparece distinto do que realmente é.
    Eu saio do conhecimento parcial que é apenas os efeitos (ou a impressao, no sentido de marca mesmo) e alço o conhecimento pelas causas, quando sei a razao do seu efeito sobre meu corpo.

    O problema é que a maioria das pessoas, sem perceber, mistura o conhecimento pelas causas com o conhecimento pelos efeitos, atribuindo aos efeitos o estatuto de causa.
    A pessoa acham q sabem pq ficam alegres ou tristes por isso ou aquilo, sem conhecer verdadeiramente pq isso ou aquilo te causa alegria ou tristeza.
    Elas sao conscientes apenas dos efeitos da alegria e da tristeza, mas dificilmente da causa dela, que logicamente expressa a verdadeira conexao de voce com o mundo que voce afeta e te afeta sem parar.
    Elas buscam uma alegria, sabendo que aquilo te faz alegre, mas nao como.
    Dessa forma elas ficam a merce do acaso dos encontros com o mundo.
    Voce pode ter um encontro magnifico com uma droga, mas se voce nao sabe pq busca aquela droga, voce irá estar entregue a ela, de sorte que um encontro magnifico poderá se tornar um tormento, ou até o seu fim mesmo.

    A partir do momento que vc consegue compreender o pq algo te faz bem ou mal, voce terá mais chance de evitar o mal e buscar o bem.
    Mas o bem tem uma medida.
    O remedio pode se tornar veneno, dependendo da dose.
    Na vida tudo é assim.
    O bem mesmo é algo que te faz mais potente!
    É o que te dá a possibilidade da acao como criacao dessa potencia.

    Viajei um pouco!
    Agora voltando ao assunto, a maioria das nossas acoes sao mais, na verdade, uma reacao, um reflexo dos efeitos do mundo sobre nós, do que uma acao propriamente dita e refletida.
    As impressoes tem uma maior permanencia na nossa vida, e isso é natural.
    É muito dificil fugir disso, mas dá pra fazer.
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  4. #134
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    Show de Bola!

    "A partir do momento que vc consegue compreender o pq algo te faz bem ou mal, voce terá mais chance de evitar o mal e buscar o bem.
    Mas o bem tem uma medida.
    O remedio pode se tornar veneno, dependendo da dose.
    Na vida tudo é assim.
    O bem mesmo é algo que te faz mais potente!
    É o que te dá a possibilidade da acao como criacao dessa potencia."
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  5. #135
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    Por quê não sonegar impostos?
    Por quê seguir, ou não, a lei, ou a moral?


    Como colocada nas perguntas. a lei, ou a moral, não indicam em si um bem ou um mal, ao qual todos nós devemos nos esforçar por seguir.
    Elas indicam apenas o que a nossa sociedade (e às vezes, apenas quem a dirige) considera ser como fundamental para o seu pleno desenvolvimento, ou o seu fim em si mesmo.
    Para esse intento, todos nós precisamos pressupor que a virtude moral é possível por possuirmos livre-arbítro.
    O livre-arbítrio é entendido como o poder incondicional da escolha, de sorte que ela está livre de qualquer determinação, seja social, histórica, ou até biológica mesma, afinal: a alma pode determinar o corpo.
    A ação desinteressada ganha de vez o seu contorno nobre e divino.
    Perder de vez essa característica, é deixar de ser virtuoso e cair no risco de uma sociedade mais violenta e menos harmoniosa.


    Infeliz engano!
    Se por um lado é absolutamente falso pensar que agimos por livre-arbítrio.
    Por outro é estúpido supor que o homem pode agir de forma desinteressada.
    Mas é possível entender todos esses enganos!
    O referente ao livre-arbítrio, reside na falsa idéia que sem ele a liberdade não existiria, ou seria impossível.
    Já o concernente a ação desinteressada, tem em si o imbróglio, e a identificação, que o senso comum faz da ação interessada com a ação interesseira.
    Sonegar impostos é uma ação interesseira.
    Ambas (tanto a ação interessada, como a interesseira) têm em si a característica do desejo individual. No entanto, na ação interessada o desejo se expressa como consciência do prazer entendido como necessariamente alegre (ou filosoficamente: como ganho de potência).
    Acontece que na ação interesseira o prazer necessáriamente não está ligado à alegria, ou ganho de potência.
    Eu explico.
    O prazer pode estar ligado a tristeza, se este prazer não significar uma boa relação com o mundo.
    Com isso, eu quero dizer que o aumento de potência, qualquer que seja, está necessariamente ligado a nossa existência, que por sua vez se dá no mundo, e com o mundo.
    O homem verdadeiramente alegre, é aquele que expande o seu ser, ou existir. E isso necessariamente se dá melhor com os outros, num somatório de potências.
    Quem acha que um prazer qualquer, ou uma utilidade imediata, significa ganho de potência, na verdade é um tolo.
    Nunca refletiu o senso comum, a mídia, as propagandas de tv ...
    Faz de tudo por um corpo ideal, uma casa ideal, um carro ideal ... uma aparência ideal.
    Não busca o dinheiro como meio, e sim como fim.
    Faz o elogio da competição.
    Não percebeu de fato que ele vive no mundo, e ainda imagina ser possível viver no seu mundo.
    Um verdadeiro delírio!
    Pura esquizofrenia!


    Parte do que eu disse se encontra nessa palestra, mais especificamente a partir do instante 37:20.





    Nós sempre buscamos aquilo que se apresenta a nós como útil num determidado momento. Mas nem sempre o que nos aparece como útil é útil mesmo.
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  6. #136
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    Esse é meu Blog @JoseIrineu


    Cara, reserva um tempo para assistir esse vídeo.
    Eu disse a pouquíssimo tempo aqui que minha leitura do Spinoza é muito mais moderna do que pós-moderna.
    E, assistindo de novo essa aula, vejo que ainda estou vacilando.
    Eu não consigo dar conta dos verdadeiros impasses que o pensamento pós-moderno filosófico realmente encontra com o paradigma antigo.
    Essa tarefa é muito difícil.
    Faz tempo que eu nào me dedico a pesquisa na Filosofia.
    E mesmo que não tivesse interrompido o meu percurso, ainda acho que estaria vacilante entre esses paradigmas.
    Conhecer bem esses dois paradigmas é muito difícil. Principalmente o pós-moderno!


    Te digo uma coisa sem hesitar: esse cara que está dando essa aula saca demais a complexidade dessas questões.
    Tudo o que ele diz, eu te garanto: ele diz com propriedade.
    É muito raro você encontrar um professor desses de filosofia.


    Retomando, eu estou te indicando esse vídeo porquê sei que você curte Filosofia, e essa aula, mesmo que você não entenda, é muito boa para ser afetado.
    Quando eu vou atrás de assistir um filme, ou assistir uma aula de filosofia, o que me move no fundo nem é entender o mundo, nem buscar respostas ou querer confirmar as que eu já tenho.
    O que me move é fazer pensar!
    Isso, o movimento pós-moderno consegue de uma forma incrível.
    Fazer pensar não é buscar mais conhecimentos com as categorias que eu domino.
    Fazer pensar é te tirar do lugar.
    É vislumbrar uma outra ordem do pensamento da qual você nunca saiu e talvez nem perceba que pertence.
    A maioria de nós não percebe isso.
    A gente crê que o pensamento está se desenvolvendo, de sorte que ele está no caminho próprio dele, do qual a gente apenas está aqui e ali apreendendo-o e somando.
    Somando, somando, somando pensamento, a gente acredita que está cada vez mais próximo da realidade.
    E se essa somatória não for mais do que apenas uma ordem do pensamento que apenas está se autojustificando desde de Sócrates?
    É isso que os pós-modernos dizem, principalmente o Foucault, que é muito deturpado por esses pensadores da tradição (ou dessa ordem única) que ainda são a maioria esmagadora.
    No entanto Foucault é um dos pensadores mais estudados hoje em dia.
    Fiz uma pesquisa sobre citações de pensadores em artigos e verifiquei que Foucault está em quarto numa lista de qualquer pensador de qualquer área do pensamento no mundo atualmente:
    669 Highly Cited Researchers (h>100) according to their Google Scholar Citations public profiles | Ranking Web of Universities
    Eu já tinha idéia disso.


    Só pra te dar uma idéia do que eu estou dizendo sobre está outra ordem (ou paradigma) do pensamento.
    Não quero dizer com isso que é um pensamento irracional.
    Apenas estruturalmente outro.
    É lógico que as ciências produzem conhecimento.
    Mas quem reivindica essa mudança de paradigma, acredita que as ciências mesmas talvez estivessem muito mais avançadas do que a gente imagina se tivesse largado de mao o Socratres.
    Ah, lembrei de uma discussão aqui sobre o papel da inteligência artificial no futuro!
    Nunca que a inteligência artificial vai se autodesenvolver.
    Ela é apenas cálculo de conceitos, mas ela nunca vai conseguir ser produçào de conceitos, mesmo que esse conceito seja "consciência".
    Consciência é o conceito mais difícil de tentar significar porquê ele é constitutivo de nós mesmo de uma forma brutal e profunda, que eu pesnso que nunca tem fim.
    Existem inúmeras teorias sobre a consciência, e o certo é que parece que isso nunca vai acabar por causa da natureza mesma dela.


    Falando um pouco dessa aula.
    Nela, imo, o que mais mexeu comigo e acho que pode mexer com outros pessoas, é a análise que ele faz da consciência.
    A consciencia seria apenas marcas.
    Toda a nossa vida é formada por isso e a gente nao consegue e nunca vai conseguir fugir disso.
    A tua escola, tua religião, tua família, teu país, o ensino da ciencia, a cultura ... são marcas que a gente só tem consciencia enquanto marca mesma, mas dificilmente como constituidora do que somos e nos tornamos.
    Um simples conceito como célula, ou átomo, guarda em si tudo isso em nós enquanto consciencia.
    Será que a significação desses termos (principalmente os da ciencias duras, porque eles transmitem a idéia de impessoalidade, ou qualquer inexistencia de lastro cultural) não estão tão contaminados assim pela nossa forma de pensar (a tradicional, que vem de Sócrates)?


    Estudar o paradigma do pensamento é a coisa mais difícil que existe porque a gente está necessariamente ligado umbilicalmente a isso.
    É árduo e desconfortável pensar uma outra ordem.
    Mesmo tentando problematizá-la a gente nào tem certeza se está já nela ou ainda está usando a antiga.


    Repetindo: assiste essa aula, talvez voce seja afetado de uma forma que mude a sua vida.
    Qualquer coisa, me pergunta aqui.
    Eu adoro trabalhar essas questões para me forçar a tentar compreende-las melhor.


    Abraço, mano!

    Ah já ia esquecendo.
    Nessa aula tem uma passagem muito boa em que o Claudio critica essa nossa forma de pensar no nivel da familia e, infelizmente, a gente vê muito isso aqui.
    Voce já foi criticado por isso.
    E eu o vejo como uma cara verdadeiramente preocupado com a liberdade, para alem dessa forma de pensar.
    Nesse sentido, voce já saca coisas que o Claudio disse.

    Ele diz assim em 1:13:42:

    Voce procura qualquer tipo de familia que voce queira encontrar, e toda a questao da familia é produzir uma criança sadia e forte no campo economico e ter sucesso.

    Olha o nível da provocacao que ele faz a nossa mediocridade?!
    Porra!
    Demais isso!


    Última edição por Sam Farha - Spinoza; 20-07-2015 às 06:50.
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  7. #137
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    Numa parte dessa aula, um aluno pergunta ao Claudio o que seria essa invenção de um campo semiotico de intensidades, que estava sendo discutido com o exemplo de uma sociedade delimitada numa época na França onde a prática do adulterio, entao muito usada pelas mulheres dali, nada tinha ver com qualquer espécie de transgressao.
    Era mais que isso.
    Tratava-se de uma nova forma de se tentar fazer da vida mais intensa e alegre.
    Ou seja: estava para alem da moral.
    Era uma construcao a despeito disso, para a vida mesma.
    Retornando, uma aluno pergunta se A Bela da Tarde, do Bunuel, retrava isso.
    Ele afirma que sim.
    Porra, eu me lembro desse filme.
    E é isso que mesmo me vem a cabeça.
    Olha só como um filme pode tratar essa questao, de uma forma bem construida, sem a gente se dá conta do tanto da profundidade guardada dentro dela, como conceito.
    Porra, por isso que esses caras sao foda.
    Nao se esquecam que a personagem da Catherine Deneuve nao está preocupada em trasgredir, e sim viver melhor.
    Ta aí a sacada!

    Ta aqui o filme.
    Rola assistir em 720p, é só mudar a resolucao no player do video.

    Filmoteca Online: A Bela da Tarde (Belle de Jour)

    Edit:

    Se bem que esse filme é de um surrealista, logo guarda muito da teoria freudiana.
    Eu diria que o meio do filme contem essa ideia que o Claudio diz.
    Só no fim mesmo do filme, parece que o Bunuel adota a linha freudiana do martirio que a gente se autoimpõe, segundo Freud, sem muita chance de conseguir escapar
    Última edição por Sam Farha - Spinoza; 20-07-2015 às 07:30.
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  8. #138
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    @Yves que coisa inusitada.
    Eu estava falando ontem de liberdade, afetos e a sua relação com a potência do ser humano em realizar-se. E exatamente agora, de forma muito contente e inesperada, me deparo com uma belíssima palestra exatamente sobre isso.

    Essa palestra aconteceu há uma semana atrás.
    A propósito: favorita esse canal, pois eles estão atualizando nele todas essas palestras desse programa da TV Cultura.
    Esse programa é muito bom e tem ótimas palestras.



    Voltando ao assunto, nessa palestra Giacoia (um nietzscheano importante da nossa intelectualidade) vai trabalhar o Spinoza, aproximando-o com Nietzsche.
    Antes eu gostaria de te dizer algumas coisas.
    Eu tive experiência com a vida acadêmica em Filosofia e acho interessante ressaltar algumas coisas.
    1) A Filosofia no Brasil e no mundo estuda e dá maior valor a uma linhagem tradicional de pensamento. Portanto saiba que o que Giacoia está dizendo vai de encontro oposto com a maior parte das pessoas que trabalham com Filosofia.
    Ao contrário do que pode parecer, se você for a uma faculdade, verá que os spinozistas e nietzscheneanos não são a maioria.
    A Filosofia, enquanto Academia, é careta mano!
    Não se iluda!
    2) A aproximação entre Spinoza e Nietzsche é algo recente. Nietzsche mesmo, apesar de elogiar Spinoza (e isso é algo a se destacar porquê Nietzsche não é de elogiar ninguém, pelo contrário), ele ainda o critica muito por o identificar um pouco com a vertente racionalista tradicional da Filosofia.
    Mas isso foi um equívoco do Nietzsche que não aprofundou muito sua leitura do Spinoza.
    Hoje em dia muitas pessoas ficam embasbacados com as semelhanças.
    O cara que foi o maior e principal autor dessa aproximação deles se chama Deleuze.
    Portanto a partir disso voce também precisa saber que existem nietzscheneanos que não engolem Spinoza.
    Também existem spinozistas que não tocam em Niezsche, como por exemplo a Marilena Chaui, que prefere trabalhar Karl Marx.
    Marxistas e nietzscheneanos também não se bicam muito. hehehehe
    Só te disse isso pra você ter um panorama mais palpavel de como funciona a parada.
    A esquerda na universidade nem é tão junta e uniforme assim.
    Existem vertentes antagonicas até dentro de uma linha marginal (e não tradicional) na Filosofia mesma.
    É uma miscelanea!

    Mas voltando ao ponto.
    Giacoia é um cara muito foda.
    Essa palestra foi muito boa e novíssima.
    Vale a pena ver se você gostar do assunto.
    Era só isso.




    Mudando de assunto.
    Quando voce disse que eu estava era sendo ultra didático em passar idéias tão difíceis de forma relativamente esquemática e simplificada, eu percebi uma coisa que ainda não tinha notado.
    Eu inclusive estava me sentindo muito mal ultimamente com essa pecha que geral aqui estão me taxando ultimamente.
    Ora,refletindo um pouco eu percebi que você estava certo quando disse que era exagero dessas pessoas, afinal o assunto que eu abordo é dificílimo (e bem estanho e não familiar pra maioria) mesmo, logo a tendencia natural é essa mesma.
    Pouquíssimas pessoas no mumdo tiveram contato com Filosofia.
    Se eu sou complicado, que dirá todos essas palestras que eu coloco aqui!?
    Tenho certeza que a maioria aqui não absorve um décimo do conteudo real delas.
    Agora isso é motivo pra descartar de vez a possibilidade desse encontro com esse tipo de discurso?
    Lógico que não!
    Mesmo que absorvam um décimo, o encontro com eles com certeza vai gerar muito mais possibilidades do que essa postura estática, comoda e sem sentido do senso comum que está muito presente aqui também.
    Quem aqui detesta filme cult?
    A maioria!
    O que isso proporciona?
    Estagnaçào total!
    Ninguem sai do lugar provando um só tipo de arte, conhecimento, prática ... a vida inteira.
    Quem nao gosta de entrar num ambiente desconhecido, pra provar e conhecer coisas novas, é apenas um acomodado e preguiçoso.
    Eu sei que pode ser dificil ouvir uma musica completamente diferente. Assistir um filme totalmente sem sentido ou chato. Ver uma palestra repleta de palavras e conceitos nunca antes visto.
    Eu sei que é incomodo!
    Mas o incomodo existe em tudo na vida!
    Todo mundo que começou a aprender algo novo sentiu incomodos.
    Resta saber até onde vai a dificuldade mesma, ou a preguiça completa, não é?!


    Valeu velho!
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  9. #139
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    @Sam Farha - Spinoza: o que você acha dos escritos do Roger Scruton sobre o Spinoza?
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  10. #140
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    Citação Postado originalmente por diegoholiveira Ver Post
    @Sam Farha - Spinoza: o que você acha dos escritos do Roger Scruton sobre o Spinoza?
    Eu acho que ele só escreveu um livro de bolso introdutório sobre Spinoza.
    Eu já li esse livro, mas não lembro de nada demais.
    Basicamente falava da história do Spinoza e um esboço das suas obras.

    Se ele se diz spinozista, deve ser o mais diferente de todos, pq quase todo spinozista é avesso ao conservadorismo.
    Vou explicar.
    Uma das coisas mais fundamentais no pensamento do Spinoza diz respeito exatamente a questão da liberdade e da democracia como uma criação ininterrupta de valores, onde forças nunca vão (até pq é impossível) tender a um establishment harmonioso.
    Pra você ter uma idéia, pra Spinoza direito é poder. Tem direito quem tem poder.
    A maioria das idéias conservadoras vêm de Kant que dizia que a ação mais sublime do ser humano é aquela que se faz por um dever a uma ordem moral transcendente.
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