Postado originalmente por
JoseIrineu
Eu li essa parada umas 3 vezes pra chegar a seguinte conclusão.
Eu tinha um amigo negro na faculdade e a gente conversava muito sobre racismo e como os poucos negros que estavam na faculdade se comportavam e tipo igual esse cara tinha um apelido, capitão do mato.
Capitão do mato era os caras que entravam na faculdade e ignoravam completamente a cultura negra e se comportavam de maneira muito semelhante ao resto da faculdade, como se os caras tivessem sido brancos a vida inteira. Parece que tem alguns negros que ao ascender na vida começam a achar a cultura uma coisa inferior, como se o cara não tivesse vindo daquilo. Não sei se o cara associa tipo eu era pobre e ouvia samba, agora que sou rico vou ouvir joao gilberto, mas o fato é que isso acontece.
Eu particularmente acho que não dá pra vc esquecer suas raízes, faz parte de quem você é, não que todo negro tem que gostar de samba, saber dançar samba, rap whatever, mas tem que respeitar, inclusive o funk, eu detesto, mas respeito a cultura e até tento curtir quando surge uns caras que nem aqueles leleks lá que não tem um conteúdo sexual.
Sobre o programa.
Você pode ter várias opiniões, a regina casé é oportunista, o programa é uma bosta, eu não gosto da música que toca lá, mas uma coisa é inegável é o unico programa na televisão aberta ou fechada (pelo menos do que eu sei) que é voltado a cultura da periferia, aquilo é a cultura da periferia, quer a gente goste ou não, é funk, samba, rap, dança roupa curta, gírias diferentes e isso faz bem pra periferia.
Uma coisa que quem não é negro dificilmente entende é que o maior problema do racismo não é um ataque direto, isso é fácil se defender o maior problema do racismo é você não se reconhecer em outras camadas da sociedade que não a da sua origem. Você vai no médico, nenhum é negro, você não nenhuma personalidade na televisão sem ser músico e atleta (e atualmente nem músico direito) que te represente, isso mina sua autoconfiança, andar em ambientes em que só existe branco é cansativo e eu falo isso com uns 25 anos de experiência, pq estudei em escola com mais branco que negro, joguei basquete que tinha mais branco que negro, faculdade, poker e posso dizer pra vcs que não é fácil, tanto é que eu tenho dois irmãos e mais um monte de amigo que não frequentam os mesmos lugares que eu pq não se sentem bem e da pra entender o pq. Aliás esse é o objetivo das cotas, mas não vou estender mais o texto.
Inclusive meu irmão gosta pra kct desse programa e eu já conversei com ele sobre isso. O texto fala em reforçar esteriótipo, o que ele quer? Fantasia? O programa retrata o que existe, a novela retrata o que existe, embora pudesse fazer a mesma campanha positiva que se faz pra gay e ai eu entendo o texto, pq eu nunca me reconheço em nada na televisão, nem no esquenta e nem na novela.
A impressão que o cara passa é de que o que vale é a cultura que ele consome e dane se o resto, eu diria que ele no mínimo não entende muito sobre a própria raça, o que originava o apelido de capitão do mato que meu amigo dava pra alguns caras na facul.
Então não, eu não concordo que seja um programa racista, muito longe disso, eu concordaria se tivesse alguns programas estilo fresh prince of belair, cosby e esse programa, ai eu poderia até entender o reforçar esteriótipo, agora em uma tv que não dá espaço pra negro e PRINCIPALMENTE cultura negra, eu aplaudo um programa como o esquente, mesmo ele sendo péssimo e mesmo ele sendo apresentado pela regina casé, que pra mim (e posso estar errado pq eu não conheço ela) é só uma oportunista.
As vezes eu tenho a impressão que a classe média acha que a evolução do brasil passa pela extinção da periferia e da cultura fora dela. Eu tenho essa impressão que o ideal de um Brasil melhor é a classe média no brasil inteiro, com uma cultura massificada e igual no país. Pra mim o Brasil vai se fortalecer quando a gente parar de ser gringo wannabe e reconhecer como genuína todas as manifestações culturais brasileiras e eu falo isso por mim mesmo, as vezes eu tenho a impressão que eu conheço mais de cultura americana do que brasileira.
P.S.
Lembrei de um programa na tv cultura acho, manos e minas, que fala sobre rap basicamente e é um programa muito melhor que o esquenta, anos luz a frente, mas passa na cultura né? Acho difícil um programa como aquele passar na globo/record