Postado originalmente por
bueno09
E outra coisa que eu achava sem sentido é o pessoal da esquerda querer o pessoal que chegou depois fora das ruas, falando que eles chegaram depois no movimento, que tão indo no embalo da mídia e tal, aqui um texto de um amigo meu que concordo muito sobre isso
"Eu li o texto da Lola e, mesmo gostando de muita coisa que ela escreve, acho que, dessa vez, ela e mta gente que desde hoje de manhã manifestou esse receio de "tranformação da manifestação em cansei reloaded" estão seguindo um caminho ruim para qualquer esquerda: o do medo excessivo. É claro que eu não gosto que a galera do meu lado levante um cartaz a favor da redução da maioridade penal; é claro que temos que nos preocupar com os rumos dessas manifestações, e com a forma como os reaças querem ressignificar as coisas. Mas daí tentar ficar com medo de gente na rua defendendo algo diferente do que eu penso, com medo do que elas possam vir a falar ou reinvindicar, aí acho mesmo muito complicado, porque praticamente significa defender democracia como algo que tem valor somente se produzir um resultado que acho desejável, e não como um processo em si valioso. Uma pessoa de esquerda não pode achar bom termos um país em que os rumos a serem tomados são definidos em gabinetes e nas instituições do Estado, ainda que os interesses progressistas estejam ganhando a queda de braço contra o conservadorismo. Bem ou mal, acho que muitas pessoas que hoje trabalham no governo aceitaram que, se alguns objetivos progressistas estão sendo alcançados, então não tem problema se a sociedade civil não está participando fortemente desse processo, se as pessoas comuns estão participando pouco desse processo. A esquerda não pode ter medo de gente debatendo, de pessoas na rua, não pode ter medo de golpismo desse porte, principalmente se o "golpismo", que tanto assusta, não envolve militares com armas na rua para depor o governo, mas sim e apenas gente incomodada com alguma coisa (muitas delas, aliás, que ainda NÃO sabem com o quê estão incomodas!). Sei lá, acho que talvez devêssemos olhar para o que está acontecendo não com medo, mas como uma oportunidade política para desinficarmos nossa democracia, melhorar o debate público, fazer essas pessoas incomodadas começarem a discutir mais, a ter que se justificarem, terem que ouvirem mais etc. Com isso, talvez possamos socializar um pouco as decisões e os problemas que, hoje, parecem estar sendo geridos por acordos entre bancadas, por poucos em gabinetes e em instituições, de forma apartada das pessoas comuns e muitas vezes sensivelmente opaca. Não sei se vc leu o texto assim também, mas esse discurdo de "golpismo", que para mim aparece no último parágrafo e, principalmente, aparece na fala de mta gente hoje nas redes sociais, não pode nos levar a ter medo de gente na rua, medo de democracia, medo de falar com as pessoas e de tentar convencê-las de nossos pontos de vista. Quando a esquerda tem medo de democracia porque ela pode vir a perder lá na frente, é porque, na verdade, a derrota já veio, e ela só não percebeu ainda."