Postado originalmente por
brunoarbo
Postado originalmente por
Cezar Teixeira
Postado originalmente por
Picinin
A questão da propriedade intelectual vai muito além de pirataria de entretenimento. Isso é o menos importante, imo. Especialmente no caso da música, que existe há milhares de anos e somente de um século pra cá e que começou a ser gravada.
O problema é maior quando se trata de inovação e patentes. Quem vai gastar mais de dez anos e milhões de reais desenvolvendo um medicamento, ou uma determinada tecnologia, pra lançar e ser copiada em poucas semanas?
Acho que já discutimos esse assunto em outro tópico, na minha concepção o próprio conceito de propriedade intelectual e patentes moldou o mercado da forma como ele funciona e nos cegou das infinitas possibilidades de modelos de formação de mercado.
Eu não falo isso apenas pra me beneficiar de um possível fim das patentes, como o Sopro deu a entender sobre a pirataria. Eu trabalho em um mercado que faz produtos pra construção civil que também se beneficia disso e mesmo sendo prejudicado por essa mudança, eu seria favorável. É perceptível a maneira de atuação, existe um investimento alto no desenvolvimento de um produto (as vezes até maior do que algo economicamente equilibrado) justamente pela possibilidade de sentar em cima dele por 15 ou 20 anos sem se preocupar com concorrência.
Muita gente assim como você se pergunta se o desenvolvimento não seria barrado por uma situação dessas e eu particularmente acho que é o inverso, a proteção fornece uma segurança tão grande que as empresas podem acertar uma única vez e depois não precisam se preocupar mais em inovar, já que aquele acerto no alvo garante a sobrevivência dela por mais de uma década.
O fim das patentes, primeiramente iria forçar um uso mais equilibrado dos recursos e iria forçar as empresas a desenvolver meios de produção mais eficientes tendo em vista que qualquer empresa poderá fabricar qualquer produto.
Eu não sei exatamente como o mercado se organizaria em torno de inovações na área médica que parece ser sua preocupação, mas me parece aceitável acreditar que parte do desenvolvimento poderia acontecer de maneira colaborativa entre empresas, trocando descobertas pontuais e acelerando ainda mais o seu lançamento.
Aliás, isso é um efeito colateral que ninguém percebe, muitas empresas podem estar trabalhando em medicamentos equivalentes sendo que nenhuma delas tem o interesse de compartilhar suas descobertas já que isso permitiria que outro player saísse na frente na comercialização dos medicamentos. Imagina quantos medicamentos já não poderiam existir e não existem justamente pq a lei da propriedade intelectual força os players do mercado a manter suas descobertas sob sigilo?
Destaquei esses pontos pq IMO não fazem muito sentido.
O trecho dizendo que a empresa poder sentar em cima de um produto por 15-20 anos sem se preocupar com mais nada, em primeiro lugar, falando da área médica por exemplo, leva em torno de 10 anos pra uma indústria farmacêutica desenvolver um determinado medicamento, e estima-se que de cerca de 10 mil compostos testados inicialmente em estudos pré-clínicos, só 1 vai chegar até nós como um medicamento. Obviamente, um volume enorme de dinheiro é gasto em todo esse processo, e esse período da patente serve, supostamente, pra que a indústria tenha tempo de tentar recuperar o dinheiro investido ao longo desse período de desenvolvimento do medicamento. Após esse período, a patente cai e qualquer laboratório pode sintetizar esse composto como um medicamento genérico. Logo, pra que essa indústria se mantenha rentável, é crucial que ela trabalhe de forma contínua pra botar novos medicamentos no mercado, caso contrário, a indústria vai falir depois que cair a patente desse medicamento que ela "acertou". Além disso, fazendo uma analogia simples, a tua análise (levando em consideração só o medicamento que eles "acertaram") é mais ou menos aquela que se faz no poker dizendo que "Fulano tem 5kk dólares em prizes" como se isso fosse = lucro.
Analisando de maneira bastante simples e liberal a questão de como o mercado se comportaria com uma hipotética perda das patentes, o que provavelmente aconteceria seria algo oposto ao que tu colocou: ao invés de "trocar descobertas e acelerar o desenvolvimento" de medicamentos, o que poderia ocorrer é simplesmente os acionistas das empresas procurarem outros negócios mais rentáveis e mudarem de ramo. Ganha mais e se incomoda menos.