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Tópico: [Política] - O andamento e as decisões de nossos governantes

  1. #2551
    Ljc
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    Essa residência não agrega muito porque ela é uma repetição do currículo da graduação. Não é uma residência que acrescenta novas coisas, ela só aperfeiçoa o que vc já viu, basicamente. Vc tá me julgando levianamente, mesmo porque esse é o ramo de maior interesse meu na medicina, eu sou fundador de uma liga academica de saúde coletiva e pretendo fazer residência em MCF
    Quando se julga outra pessoa com base em deduções se corre o risco de cometer erros. Por favor, recebe minhas desculpas sinceras.

    Sobre a sua valoração da residência em MFC eu continuo discordando. Você diz que ela aperfeiçoa o que se viu na faculdade, para mim só isso revela sua importância, pois ela aperfeiçoa aquele conhecimento com um direcionamento para a saúde da família/coletiva. Ter médicos com uma formação voltada para essa área sem dúvida pode fazer a diferença. Eu também não sei se as residências em MFC no Brasil são de qualidade. Como se dá pouca importância eu não duvido que seja fracas, o que de forma alguma retira a importância de existir uma residência de qualidade nessa especialidade.
    Eu não tô falando da importância da residência em termos absolutos.

    Eu tô falando no contexto do médico recém-formado:

    Vc com um diploma de médico na mão e um carimbo do crm pode atuar em QUALQUER area da medicina. Pode fazer cirurgia plástica tanto quanto atuar no psf, por ex.

    Agora, um cara não sai da faculdade sabendo fazer cirurgia plástica estética muito bem. Mas sai da faculdade sabendo atuar razoavelmente bem na atenção básica.

    Nesse contexto, a residência de cirurgia geral e depois em cirurgia plástica é muito mais importante para um futuro cirurgião plástico que a residência em MFC para alguém que quer atuar no psf. Entendeu? Isso enfraquece a demanda pela residência.
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  2. #2552
    Ljc
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    Você não entendeu, cara. Eu disse que o seu dado é falseado. Você quer provar um ponto alegando que a demanda pela residência em MFC é baixa. E eu tô dizendo que ela é baixa porque não ela existe estimulo para se fazer ela, tendo em vista que vc entra na atenção básica à saúde com ou sem a residência. E sua explicação para a não exisgência tá correta, é isso mesmo. Mas não tira o fato que é errado usar um dado falseado para provar um ponto, mesmo que sua tese esteja correta, o que de fato está (ou seja, de fato faltam médicos na atenção básica a saúde.
    Foi você que não entendeu minha crítica. O que eu quis destacar com a imagem é a baixa valorização que existe no Brasil à saúde coletiva e à prevenção em saúde.

    Essas especialidades são vistas como especialidades "menores" e se elas são vistas dessa forma é porque dão menos dinheiro. Os médicos seguem o dinheiro, e como não existem muitos eles vão procurar especialidades médicas que os permitam ganhar mais e viver com o maior conforto nas grandes cidades. Como eu disse antes, se não faltassem tantos médicos certamente o Estado estaria em condições de exigir formação em MFC, mas hoje é impossível exigir isso porque a dificuldade de atrair os médicos para a atenção básica já é enorme, então qualquer exigência a mais poderia piorar o quadro que já é horrível.

    É aí onde eu vejo a importância de trazer os médicos estrangeiros, especialmente os cubanos. Eles tem uma formação e uma cultura médica muito mais voltada à saúde coletiva, à saúde da família e à prevenção. Certamente os cubanos podem causar um enorme alívio para as populações mais carentes, especialmente as do interior do Brasil onde existe carência de médicos e se precisa bastante desse tipo de acompanhamento.
    A vinda dos cubanos podem melhorar a situação no sentido de atender uma demanda imediata de médicos.

    Mas quando esses médicos aposentarem, morrerem ou evadirem o problema continuará lá. A não ser que se perpetue uma política de importação de médicos, o que seria uma solução bizarra - sem entrar nos outros méritos dessa questão.

    Por isso a crítica de que essa é uma solução tapa buraco. Nada contra, mas isso é nada perto do que tem que ser de fato feito.

    A solução para esse problema virá ao longo de anos, com a mudança do mindset dos médicos e da população usuária do sistema de saúde. E isso é uma tendência mundial. A especialdiade em MFC é apontada como A especialidade médica do futuro. Mas para que isso ocorra é preciso que haja uma série de mudanças estruturais, desde coisas complexas como na educação dos profissionais da saúde e estruturação das UBS até coisas simples, como planejamento das carreiras dos profissionais da saúde.
    Última edição por Ljc; 20-07-2013 às 23:04.
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  3. #2553
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    Nesse contexto, a residência de cirurgia geral e depois em cirurgia plástica é muito mais importante para um futuro cirurgião plástico que a residência em MFC para alguém que quer atuar no psf. Entendeu? Isso enfraquece a demanda pela residência.
    Cara, eu já abordei essa questão várias vezes e você nunca pega o ponto onde eu desenvolvo ela. É claro que isso enfraquece a demanda, mas enfraquece sobretudo em um cenário onde já existe escassez de médicos.

    Pega, por exemplo, a demanda por professores universitários. Há 20 anos atrás você entrava numa universidade sem pós-graduação nenhuma. O meu pai que é professor universitário, por exemplo, já lecionava há anos quando foi fazer mestrado. Na época em que ele ingressou no serviço público, nos anos 70, não existia a demanda atual por um cargo de professor efetivo, pois havia muito menos gente no país com grau superior, que dirá com mestrado ou doutorado.

    Em muitos cursos hoje em dia mestrado e doutorado são etapas praticamente obrigatórias depois da graduação e ninguém entra mais numa instituição federal sem ter no mínimo mestrado, que hoje em dia já é considerado pouca coisa.

    Vou te dar um exemplo ligado à minha área. Hoje no Brasil se você quer ser juiz ou promotor você tem que se conformar na maior parte dos casos em começar a carreira no interior porque as varas das capitais já estão preenchidas. É completamente diferente do que ocorre com a medicina. Se o cara não quiser começar trabalhando no interior ele não começa, aí ele grinda uma residência e já começa atendendo nas grandes cidades mesmo, tanto no serviço público como na iniciativa privada. Se existisse no Brasil um contingente maior de médicos isso empurraria muito mais caras que tão começando a carreira pro interior, porque a demanda nas grandes cidades estaria saturada.

    A partir daí se o grau de saturação fosse ainda maior é óbvio que os médicos iam ter que se especializar e até mesmo os que atendem na atenção básica teriam que passar pela residência em MFC pra se diferenciar dos que não tem residência nenhuma.

    Só que hoje em dia é easy game, pra ser médico da família você não precisa ter feito residência em nada porque a carência por médicos é tão alta que as prefeituras não tem como escolher contratar um médico mais especializado nessa área que a gente tá discutindo, sob pena de perder aquele profissional sem especialização pra outras prefeituras.
    Última edição por PebaVermelho; 20-07-2013 às 23:21.
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  4. #2554
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    @PebaVermelho, se possível gostaria de ouvir sua opinião sobre essa entrevista:



    Em quais pontos vc mais discorda da opinião do médico e por quê?
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  5. #2555
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    Citação Postado originalmente por Ljc Ver Post
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    Você não entendeu, cara. Eu disse que o seu dado é falseado. Você quer provar um ponto alegando que a demanda pela residência em MFC é baixa. E eu tô dizendo que ela é baixa porque não ela existe estimulo para se fazer ela, tendo em vista que vc entra na atenção básica à saúde com ou sem a residência. E sua explicação para a não exisgência tá correta, é isso mesmo. Mas não tira o fato que é errado usar um dado falseado para provar um ponto, mesmo que sua tese esteja correta, o que de fato está (ou seja, de fato faltam médicos na atenção básica a saúde.
    Foi você que não entendeu minha crítica. O que eu quis destacar com a imagem é a baixa valorização que existe no Brasil à saúde coletiva e à prevenção em saúde.

    Essas especialidades são vistas como especialidades "menores" e se elas são vistas dessa forma é porque dão menos dinheiro. Os médicos seguem o dinheiro, e como não existem muitos eles vão procurar especialidades médicas que os permitam ganhar mais e viver com o maior conforto nas grandes cidades. Como eu disse antes, se não faltassem tantos médicos certamente o Estado estaria em condições de exigir formação em MFC, mas hoje é impossível exigir isso porque a dificuldade de atrair os médicos para a atenção básica já é enorme, então qualquer exigência a mais poderia piorar o quadro que já é horrível.

    É aí onde eu vejo a importância de trazer os médicos estrangeiros, especialmente os cubanos. Eles tem uma formação e uma cultura médica muito mais voltada à saúde coletiva, à saúde da família e à prevenção. Certamente os cubanos podem causar um enorme alívio para as populações mais carentes, especialmente as do interior do Brasil onde existe carência de médicos e se precisa bastante desse tipo de acompanhamento.
    A vinda dos cubanos podem melhorar a situação no sentido de atender uma demanda imediata de médicos.

    Mas quando esses médicos aposentarem, morrerem ou evadirem o problema continuará lá. A não ser que se perpetue uma política de importação de médicos, o que seria uma solução bizarra - sem entrar nos outros méritos dessa questão.

    Por isso a crítica de que essa é uma solução tapa buraco. Nada contra, mas isso é nada perto do que tem que ser de fato feito.

    A solução para esse problema virá ao longo de anos, com a mudança do mindset dos médicos e da população usuária do sistema de saúde. E isso é uma tendência mundial. A especialdiade em MFC é apontada como A especialidade médica do futuro. Mas para que isso ocorra é preciso que haja uma série de mudanças estruturais, desde coisas complexas como na educação dos profissionais da saúde e estruturação das UBS até coisas simples, como planejamento das carreiras dos profissionais da saúde.
    Concordo com cada linha do que você escreveu aí, só tenha em mente que para a população essa medida tem um impacto enorme. Que ela não resolve estruturalmente o problema isso é óbvio.
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  6. #2556
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    Citação Postado originalmente por oaeoz Ver Post
    @PebaVermelho, se possível gostaria de ouvir sua opinião sobre essa entrevista:



    Em quais pontos vc mais discorda da opinião do médico e por quê?
    Agora não to com tempo de te responder. Eu devia era estar terminando uma ação que tenho que ajuizar na segunda-feira. hehehehe

    Mas se quiser fazer um resumo dos argumentos dele quando sobrar um tempo posso dar uma opinião.
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  7. #2557
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    Citação Postado originalmente por Ljc Ver Post
    A especialdiade em MFC é apontada como A especialidade médica do futuro.
    Eu não duvido que já fosse apontada como a especialidade médica do futuro quando o SUS foi criado, há 25 anos, pela Constituição de 1988.
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  8. #2558
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    Citação Postado originalmente por PebaVermelho Ver Post
    Citação Postado originalmente por Sam Farha Ver Post
    Já importar engenheiros é ok!
    A classe médica é sinistra!
    O ser humano é que é escroto, cara, e a sociedade capitalista agrava essa escrotidão. É por isso que mesmo o governo tendo culpa na situação às vezes tem que atuar pra corrigir distorções.
    É por isso que eu te dou crédito aqui, mesmo imaginando que eu vá discordar de você em outros pontos.

    Você realmente acredita num projeto para a sociedade.
    O teu discurso é consistente e demonstra uma preocupação clara com o conjunto da sociedade.
    O mesmo não pode ser dito, tão facilmente, dos liberais desse forum.
    Pelos meus pots, você já deve imaginar qual é a minha posição em relação a atual conjuntura política.
    Eu acredito numa reforma política radical e apesar de não estar ligado a nenhum partido, tenho simpatia pelo PSOL.
    Mas eu nunca vou discutir o projeto político petista ou psdbistas nos moldes como vejo aqui por alguns liberais (que na verdade não reflete em si suas ideologias, mas sim: ignorância ou má fé).
    Apesar de discordar de você, eu posso tranquilamente fazer isso sabendo que existe de fato uma preocupação real e comum com o conjunto da sociedade por ambos.

    Concordo com você sobre a natureza das relações humanas, hoje em dia, por causa do atual sistema sócio-econômico.
    Gostaria de ver mais o que você pensa sobre isso lá no tópico do PRISM.
    No meu útimo post lá eu falei em reforma do mercado, mas, na verdade, o termo mais próprio mesmo é regulação.

    Quando a gente quer de fato discutir idéias, elas parecem se tornar mais dinâmicas e o seu desenvolvimento se faz de forma autônoma e até, em certo ponto, independente de nós mesmos.
    Lah no tohpico do PRISM, chegamos em um ponto chave: vantagens e desvantagens de um mercado livre.
    Eu tenho um tesao imenso de discutir isso com pessoas como voce.
    A chance de eu mudar de ideia aumenta proporcionalmente a medida que a minha percepcao na clareza, sentido e honestidade das ideias eh mutuo.
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  9. #2559
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    Nesse contexto, a residência de cirurgia geral e depois em cirurgia plástica é muito mais importante para um futuro cirurgião plástico que a residência em MFC para alguém que quer atuar no psf. Entendeu? Isso enfraquece a demanda pela residência.
    Cara, eu já abordei essa questão várias vezes e você nunca pega o ponto onde eu desenvolvo ela. É claro que isso enfraquece a demanda, mas enfraquece sobretudo em um cenário onde já existe escassez de médicos.
    Você que não tá entendendo o fluxo da discussão, cara.

    Não só vc tá certo, como isso que vc disse é condição para que o que eu disse esteja certo. Vc tá falando de um ponto anterior ao meu. A confusão surgiu porque o que tava em pauta antes não era a questão em si, mas a qualidade da imagem que vc postou enquanto argumento. Entendeu? (confesso que eu tô confuso um pouco, mas acho que é isso ai).
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  10. #2560
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    Nesse contexto, a residência de cirurgia geral e depois em cirurgia plástica é muito mais importante para um futuro cirurgião plástico que a residência em MFC para alguém que quer atuar no psf. Entendeu? Isso enfraquece a demanda pela residência.
    Cara, eu já abordei essa questão várias vezes e você nunca pega o ponto onde eu desenvolvo ela. É claro que isso enfraquece a demanda, mas enfraquece sobretudo em um cenário onde já existe escassez de médicos.
    Você que não tá entendendo o fluxo da discussão, cara.

    Não só vc tá certo, como isso que vc disse é condição para que o que eu disse esteja certo. Vc tá falando de um ponto anterior ao meu. A confusão surgiu porque o que tava em pauta antes não era a questão em si, mas a qualidade da imagem que vc postou enquanto argumento. Entendeu? (confesso que eu tô confuso um pouco, mas acho que é isso ai).
    É que você interpretou a crítica da imagem de forma diversa da qual eu quis expressá-la.

    Pelo que eu entendi, você interpretou que a imagem aponta a escassez de médicos na atenção básica como efeito da baixa demanda por duas especialidades médicas. Só que na verdade eu penso exatamente o contrário, para mim a escassez de médicos não é efeito, mas uma das causas que contribui para essa baixa demanda nas especialidades de MFC e MPS, resultando numa pressão de demanda sobre algumas especialidades bem mais e$pecializada$$$ (com o perdão do pleonasmo). Como já exaustivamente argumentado, eu entendo que num cenário de maior oferta de médicos essas especialidades seriam mais procuradas pois não daria pra todo mundo trabalhar apenas nas especialidades que são mais concorridas hoje.

    A outra causa que eu aponto para a baixa demanda é a própria mentalidade que desvaloriza a saúde coletiva e preventiva, tanto por parte da gestão como da própria classe médica. A imagem que existe é que o grande médico é o neurocirurgião capaz de operar o cérebro de uma pessoa, enquanto que o outro com uma bagagem fodona de MFC e/ou MPS, que pode provocar um impacto social muito mais amplo com o exercício da sua medicina, é visto como um médico de menor grandeza.

    Não vou dizer que o neurocirurgião, na média, não deva receber mais. Acho que deve receber mais sim, até porque o conhecimento que ele adquire tende a ser mais complexo do ponto de vista científico e exige mais tempo de estudo e formação, além de enorme perícia. Não por isso passa a ser aceitável a baixa valorização de especialidades que são mais importantes para o sistema público público de saúde em sua dimensão coletiva.

    Em suma, minha imagem tinha o propósito de servir como retrato dessa realidade de escassez de médicos aliada à crítica a uma carreira médica individualista que não atende as necessidades do povo, porque é totalmente baseada na valorização da pessoa do médico e não da saúde pública.

    É o cenário que se abstrai daquela imagem que impõe com a maior urgência uma medida como o Programa Mais Médicos, já que nenhuma outra medida que se adote a curto e médio prazo seria capaz de enfrentar os efeitos perversos que esse quadro tem impingido ao povo pobre. Não dá pra dizer, sem uma dose cavalar de egoísmo, que essa medida não seja necessária. E que bom que serão cubanos os médicos a trazerem esse alívio pro nosso povo, até porque eles já praticam há 50 anos o que nós mal começamos a fazer.

    Eu não sei aonde você vive, mas como médico certamente você deve saber o que um médico representa numa cidade do interior. Tem cidade aqui no nordeste onde as pessoas levam meses para ver um médico (veja bem, eu não falei se consultar, eu falei VER). Nesses lugares o médico é exatamente o que está imediatamente abaixo de Deus. Imagine só a disparidade em relação ao que existe em Cuba, onde as pessoas recebem visitas periódicos do seu médico familiar simplesmente pra perguntar como elas estão se sentindo. LOL isso é uma realidade ainda tão impensável aqui no Brasil que se você contar isso pra um popular no interior do Brasil o cara não vai acreditar que isso deva existir em alguma parte do mundo, porque pra ele o médico é uma espécie de ser superior e benemérito que aparece apenas de tempos em tempos.

    Meus pais nasceram em uma cidade do interior aqui do Estado que conta com uma população de pouco mais de 10k habitantes. Há alguns anos atrás um médico picareta se elegeu lá. Como a cidade tinha carência histórica de médicos ele percebeu que dando uma atençãozinha maior a cada um seria eleito prefeito com o pé nas costas. A campanha do cara simplesmente foi feita com uma caneta. Na época ele fazia residência em neurocirurgia em Recife, ou seja, outro estado (LOL). Durante a campanha dele pra prefeito, ele chegava de Recife na cidade dos meus pais e simplesmente invadia a casa de um eleitor random (que, óbvio, o recebia de braços abertos) e a partir dali improvisava um consultório dentro da casa do cidadão. Imediatamente se formava uma fila gigantesca de pessoas pra serem consultadas que virava a madrugada. Na hora do atendimento ele "examinava" o cidadão, prescrevia qualquer remédio e se despedia com um abraço e um pedido de voto. Muitas pessoas que aguardavam na fila por horas pela "consulta" não tinham nenhuma queixa quanto à saúde, na hora inventavam qualquer pretexto pois tudo o que queriam era ser consultadas e abraçadas pelo doutor. Depois dessas maratonas de atendimento o cara pegava o carro e voltava pra Recife onde morava e fazia residência médica. O resultado é que ele foi eleito prefeito com ampla margem e nunca morou na cidade, as vezes demorava vários dias pra dar as caras na cidade e quando aparecia demorava poucas horas pra assinar uns papéis e GG. Quando acabou o mandato ele já tinha acabado a residência (ou tava pra acabar), aí deu GG na cidade sem nem aparecer direito pra apoiar o candidato dele à sucessão, que acabou derrotado. Apesar de tudo isso todos os analistas políticos diziam que se ele tivesse tentado a reeleição ele teria tido êxito facilmente, desde que tivesse adotado a mesma estratégia de fazer consultas em massa à população. Por esse relato você já pode tirar o tamanho da carência dessas pessoas.

    E pra encerrar o megapost só mais uma história breve. Eu tenho um amigo médico que sempre tá criticando no twitter essa iniciativa do governo de trazer os médicos estrangeiros. Ele é oftalmologista é em um tweet criticou a figura dos optometristas que atuam nas cidades do interior em parcerias escusas com pequenas óticas como se fossem médicos. Só que em nenhum momento ele para pra refletir sobre a falta de médicos. Porra, é bizarro mesmo que um optometrista faça exames de vista pra vender óculos, mas se a população não tem médico nem pra atenção básica como é que vai sonhar com um oftalmologista? É óbvio que se o cara tá com dificuldade de enxergar e tem lá um optometrista que faz um exame catrupe e receita um óculos que ele compra e passa a enxergar melhor ele vai ficar satisfeito. Eu não to defendendo a atuação do optometrista, mas se eu fosse o cara lá da zona rural da cidade dos meus pais eu provavelmente recorreria a um cara desses. Será que esse meu amigo que critica o programa do governo se predisporia a trabalhar como oftalmologista na cidade dos meus pais? Com certeza não.

    Quem critica a iniciativa do governo em trazer os médicos estrangeiros ou não se coloca no lugar dos pobres, ou até se coloca, mas ao fazê-lo pensa algo como: "ah, foda-se ele, eu sou bem nascido!".
    Última edição por PebaVermelho; 21-07-2013 às 01:46.
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