
Postado originalmente por
JoseIrineu

Postado originalmente por
Picinin
Muitas das ressalvas que você fez estão no meu post.
Eu começo falando que a esquerda tem PARTE da culpa. Nunca falei que é a principal culpada. Os principais culpados são os defensores do Bolsonaro, é óbvio.
Também não falo que pauta identitária tenha partido do PT. Eu falo que o Lula quem começou o "nós contra eles" e que o PT escolheu deliberadamente levar o Bolso pro segundo turno (pra não falar no que fizeram com a Marina em 2014; aquilo foi o embrião do gabinete do ódio). Depois falo da esquerda identitária, sem associá-la ao PT.
Eu falo que a esquerda tem um parte da culpa porque foi ela quem começou a tratar quem discorda de suas ideias como fdp. Não concorda com cota? É racista! Não concorda com politicamente correto? É facista! Boa parte da população que apoia os populistas de direita é gente apolítica, que acabou virando torcedor de política por causa desse estímulo.
Sobre a questão identitária, eu acho que sua abordagem parte de princípios errados. Não vejo sentido em acreditar na possibilidade uma igualdade material fictícia, ou de que as pessoas são neutras. É absolutamente impossível imaginar que as pessoas não vão fazer juízo de valor sobre quase tudo. Como eu já disse aqui um milhão de vezes, todo ser humano raciocina por associação. É por isso que as pessoas são preconceituosas. Mas o preconceito só é nocivo se essa associação deixar de ser uma primeira impressão para se tornar um dogma, ou se a associação não se sustenta nos fatos.
Ou seja, é um problema se você vai mantiver essa impressão por associação mesmo que ela seja contrariada pelas informações que você tem quando conhece a pessoa. Ou se você cria um estereótipo que não guarda relação com a realidade (é o exemplo do judeu ávaro e rico retratado pelos nazistas, sendo que os que os primeiros a serem perseguidos eram judeus pobres da Polônia).
Por outro lado, as pessoas têm preferências. A absoluta maioria dos pais preferirá que seu filho seja estudioso e vire médico, do que seu filho seja boêmio e vire músico ou poeta. Assim como vai preferir que o filho seja hétero e não gay. Faz parte, as pessoas têm o direito de ter sua preferência. Mas se ela trata o filho pior porque não fez as escolhas que os pais fizeram, ele é um babaca.
E não, a pauta do identitarismo não é ter direitos iguais. Esses direitos já existem. Quem pede cota não tá pedindo direito igual, tá pedindo tratamento diferenciado.
Eu não acredito em parte de culpa quando alguém exalta torturador. O discurso agressivo do identitarismo não é antidemocrático, ele é apenas babaca. Bolsonaro foi eleito com um discurso antidemocrático. Você não precisa partir desse princípio, mas ai vamos ficar discutindo de maneira não produtiva, porque pra mim, o movimento antidemocrático do Jair é óbvio.
Ressaltando, por mais agressivo que seja esse movimento de rotular quem discorda, isso nunca chegou numa discussão de fechar congresso e eliminar opositores e na verdade ele acabou escancarando uma porcentagem significativa de brasileiros que são de fato racistas, machistas e homofóbicos e essas pessoas são a que estão na base do Jair até agora, mesmo depois de tudo isso.
Po Picinin, não me tira pra menos po! :P Eu não acredito em tabula rasa, ou qualquer coisa que o valha. A questão é justamente essa, porque em 2020 uma sociedade democrática, ocidental, capitalista ainda associa mulheres, negros, pobres e homossexuais a uma coisa menor? E esse é justamente o ponto aonde eu não acredito que o estado deva agir criando leis, mas políticas afirmativas, que devem ser por definição transitórias, não com a pretensão de transformar a realidade num curto prazo, mas de transformar essas associações a partir das próximas gerações.
O preconceito é nocivo no Brasil, isso não deveria ser uma discussão, tanto quanto terra plana ou nazismo de esquerda.
A outra alternativa é o estado não fazer absolutamente nada e é nessa possibilidade que eu me descolo da ideia de estado mínimo. Eu não acredito que o estado deva gastar mão de obra em vigilância, julgamento e punição, mas também não acredito em sentar e não fazer nada.
O direito igual a todo ser humano é previsto na constituição, tanto quanto o salário mínimo é previsto como uma renda que garanta o mínimo de civilidade, a questão é a prática.
Aí se vc insistir que na prática o estado brasileiro trata todo mundo igual, sendo advogado, vai ser incoerente.