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Btw, to só esperando o segundo turno terminar pra pedir desculpa pras pessoas que foram influenciadas por mim a votar no Ciro.
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* fim do segundo turno
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Cade os esquerdistas? eu sinceramente tenho duvidas em dois caminhos, ou o bolsonaro ganhar e de fato termos uma direita que vai liberalizar a economia e salvar o pais da falencia, ou deixar a esquerda continuar pro brasil falir e o povo todo se lascar, inclusive esses lacaios sem noção que apoiam a esquerda em troca de nada so pra depois ri da cara de todos. Seria muito bom a esquerda continuar no poder o brasil falir totalmente e gente como esse peba vermelho ficar desempregado e jogado no lixo pelos esquerdas chefes e passar fome e se ferrar todo, pra ver se aprende a parar de ser um sujeito sem noção, um sujeito que acha que todos são idiotas, um sujeito egoista. Duvida cruel
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vc teve sorte cara, o bolsonaro com o paulo guedes vão salvar o brasil da falencia e vcs ai continuarão a fazer o mi mi mi de sempre de oposição e mantera o teu servicinho ai de sindicato ou privado indicado por esquerdista conhecido, mas sei la, as vezes seria bom o brasil falir totalmente, isso virar um caos e na hora do vamos ver gente como vc ser jogada no lixo, quer dizer, vc apoiou a vida toda um grupo de gente safada que tomou todo o poder e vc seria jogado no lixo , e iria passa fome, desempregado e sem dinheiro, imagina so hein? gente como vc que se preocupa apenas com interesses pessoais e interesses do propio grupinho e dane se o resto, merecem isso mesmo, se ferrar, se lacar, passar fome, aguentar fila de hospital e quase morrer e etc etc
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@PebaVermelho, @Fonteles, @Picinin e cia. Pergunta honesta e sincera, agradeço se alguém puder responder:
Todos concordamos sobre as atrocidades cometidas por ditaduras fascistas e comunistas, certo? Então porque existe uma repulsa ao fascismo e uma tolerância ao comunismo? Porra, temos uma candidata a vice presidente, com chances reais de vencer, do partido COMUNISTA do Brasil.
A apologia ao comunismo deveria ser tratada como crime, da mesma forma a apologia ao nazismo. Ou to viajando?
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Carlos Pereira: "A democracia brasileira corre risco zero"
O eleitor de centro, moderado, não desapareceu do Brasil. Tanto Bolsonaro quanto Haddad representam extremos na eleição, mas terão de contemplar esse eleitor para conseguir governar, segundo o cientista político da Fundação Getulio Vargas
1.Qual é sua avaliação das eleições até agora?
Quanto à eleição presidencial, já se esperava um segundo turno polarizado entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Não houve surpresa aí. A surpresa é a extensão da vitória de Bolsonaro, especialmente a capacidade dele de conseguir o que a ciência política americana chama de “presidential coattails”. Quando um candidato à Presidência é popular nos Estados Unidos, ele leva um número expressivo de deputados no rabo de seu fraque, o “coattail”. A ciência política brasileira argumentava que aqui não havia “presidential coattails”. A eleição revelou uma grande influência do candidato a presidente sobre a eleição legislativa. Foram surpreendentes os resultados dos partidos que apoiam Bolsonaro e dos candidatos que fizeram campanha defendendo a Operação Lava Jato.
2.Como explicar o desempenho eleitoral de Bolsonaro? Podemos falar em bolsonarismo?
Ainda não podemos falar em bolsonarismo, mas não resta dúvida de que Bolsonaro conseguiu aglutinar as forças da direita brasileira. Pela primeira vez, o Brasil tem uma direita que não é envergonhada, mas ideologicamente coesa em cima de uma agenda conservadora e competitiva eleitoralmente. É importante lembrar que essa direita cresceu muito ancorada no antipetismo. Vários eleitores não comungam com a totalidade da agenda conservadora nos costumes representada por Bolsonaro, mas os erros do PT foram tão grandes que a população desenvolveu uma rejeição enorme ao partido.
3. O antipetismo é prejudicial ao equilíbrio político brasileiro?
Não necessariamente. Faz parte do jogo político. No entanto, especialmente se for derrotado, o PT precisa rever suas posições. Já há insatisfações dentro do próprio partido. Ele precisa dialogar consigo mesmo, reencontrar-se. Imagino que, num futuro próximo, vai reconhecer seus erros, como a corrupção, a má gerência econômica, a intervenção excessiva do Estado na economia e a irresponsabilidade fiscal. Hoje em dia, tudo isso é sinônimo de PT. No início do governo Lula, o PT se mostrou um partido capaz de ofertar inclusão social com responsabilidade. Mas o segundo mandato de Lula e o governo Dilma foram marcados por irresponsabilidades sem tamanho, que colocaram o país numa situação trágica. De uma economia azeitada, passamos à recessão. Ainda hoje continuamos patinando graças ao erros das gestões petistas — para além da corrupção.
4. Dada a composição do novo Congresso, o próximo presidente terá condições de governar?
Depende de como o novo presidente vai gerir sua coalizão. Bolsonaro teria mais condições prévias, dado que seus aliados conquistaram um número expressivo de cadeiras no Legislativo e que seu partido é muito conservador, próximo da mediana do Congresso. Bolsonaro teria a aquiescência do Congresso para sua agenda, uma vez que eles compartilham das mesmas preferências. Já Haddad e o PT estão muito distantes da mediana do Congresso. O PT tem uma tradição de governar de forma muito unilateral, sem compartilhar poder e recursos com parceiros. Bolsonaro, por sua vez, ameaça não governar com a coalizão, mas com notáveis. Se ele fizer isso, eu vislumbro uma relação muito tensa com o Congresso. No caso de Haddad, a governabilidade dependeria da capacidade dele de montar uma coalizão majoritária — o que é difícil —, de governar em direção à mediana do Congresso e se comprometer. Se, em algum momento, Haddad restringir os poderes do Ministério Público ou da Polícia Federal, haverá conflitos catastróficos para a governabilidade.
5. Com exceção de Ciro Gomes (PDT), os candidatos centristas — Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) — tiveram votações inexpressivas. A radicalização da política brasileira esvaziou o centro?
O centro ficou órfão, mas não acabou. Os eleitores centristas não desapareceram, apenas se comportaram estrategicamente no primeiro turno. Preferiram apostar no voto útil, num extremo mais próximo deles do que em candidatos de centro pouco competitivos. Os dois presidenciáveis não terão condições de ignorar essas pressões do centro. Se assim o fizerem, diminuirão suas condições de governabilidade.
6. Como Bolsonaro e Haddad podem conquistar o voto do eleitorado centrista?
É fundamental que os dois presidenciáveis aproveitem o segundo turno para buscar o eleitor mediano e com ele construir compromissos críveis em cima de uma agenda de moderação, e não mais de polarização. O segundo turno forçará ambos os candidatos à moderação do discurso e à construção de pontes firmes e seguras com grupos medianos da sociedade. Para cativar o eleitor de centro, tanto Bolsonaro como Haddad precisarão de mais do que discursos. O PT precisa se comprometer a respeitar as instituições, a desistir das tentativas de soltar o ex-presidente Lula e a implantar uma política econômica diferente do governo Dilma Rousseff. O PT precisa assumir uma série de compromissos que inspirem uma credibilidade proporcional aos custos em que o partido incorrerá se não cumpri-los. Bolsonaro precisa dar sinais críveis de que respeitará a Constituição, os procedimentos e as rotinas legislativas, que não governará de forma unilateral e que não tratará o Congresso como um adversário. O eleitor de centro estará muito atento para ver até que ponto os candidatos serão capazes de firmar esses compromissos. Se eles forem incapazes de dar sinais de credibilidade, o eleitor centrista poderá migrar em bloco para o voto nulo.
7. Qual deve ser a prioridade do próximo governo?
Independentemente de quem ganhar, a prioridade deve ser o equilíbrio fiscal, o controle das contas públicas e as reformas da Previdência e tributária. O próximo presidente, seja ele quem for, desfrutará uma lua de mel com o Congresso Nacional e terá fortes chances de fazer essas agendas avançar ainda no começo do governo.
8. Geraldo Alckmin teve apenas 4,76% dos votos. Como explicar o encolhimento do PSDB?
O PSDB foi muito atingido por escândalos de corrupção e teve muita dificuldade de se livrar de figuras como o senador Aécio Neves, de Minas Gerais. Houve também denúncias de corrupção no estado de São Paulo, governado por Alckmin. Apesar das denúncias de corrupção, o PSDB também teve muita dificuldade de abandonar o governo Michel Temer (MDB). Tudo isso abalou a imagem do partido, que não conseguiu se apresentar ao eleitor como uma alternativa real ao PT. Bolsonaro preencheu esse espaço. O PSDB definhou também por ter um candidato pouco carismático, embora esforçado. E o eleitor quis, ainda, punir os partidos tradicionais, o que atingiu em cheio o PSDB. Todos os partidos tradicionais foram vítimas do sentimento anticorrupção e pró-renovação que paira na sociedade brasileira.
9. A democracia brasileira está ameaçada?
Zero. A democracia brasileira corre zero risco. As instituições democráticas no Brasil são muito sólidas. Meu receio não é nem que o próximo presidente possa diminuir o poder das instituições de controle — como o Poder Judiciário, o Ministério Público, os tribunais de Contas, a imprensa livre e independente —, mas a reação da sociedade ao perceber que o governo possa atentar contra essas instituições. Existe um alinhamento grande entre essas instituições de controle e a preferência do eleitorado. Quando a população percebe essas instituições em risco, a sociedade pega fogo. Eu temo as reações da sociedade às potenciais ameaças a essas instituições num eventual governo Bolsonaro ou Haddad. Mas, não, a democracia brasileira não está em risco. Pelo contrário: a democracia está mais firme do que nunca. A democracia segue firme e forte, a despeito de namoros de algumas personalidades, de ambos os lados, com o iliberalismo. Interpretar impeachment como golpe é iliberalismo. Assim como é iliberalismo tentar controlar a mídia, as agências reguladoras e o Ministério Público. Ou desrespeitar o Congresso Nacional.
https://epoca.globo.com/carlos-perei...n=compartilhar
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vi isso agora, mais uma da senhorita hipocrisia
insiram suas risadas
quando o barco tá afundando não existe mais ateu
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Essa já é uma visão divergente da minha, de cunho socialista, mas, indiferentemente a isso, respeitável. Vale a pena ser lida por todos.
“Quando você não acerta suas contas com a história, a história te assombra”
Em entrevista à agência Pública, o filósofo Vladimir Safatle aponta relação direta entre sucesso de Bolsonaro nas urnas e a ditadura “que não terminou”
O Brasil pode entrar em uma “noite sem fim” dependendo do resultado das eleições à presidência. É o que defende o filósofo Vladimir Safatle, professor livre-docente da Universidade de São Paulo. Para ele, há um golpe militar em marcha no país, com características próprias, que pode acontecer a qualquer momento: “O Brasil vai viver os próximos meses e os próximos anos com essa espada de Dâmocles na cabeça, [o golpe] pode acontecer a qualquer momento”. Em entrevista à Agência Pública, o filósofo falou sobre o apagamento do PSDB nessas eleições, a latente necessidade de ruptura política por parte da população, a ascensão do fascismo no mundo e sobre o espectro de uma ditadura militar escondida no subterrâneo das estruturas de poder: “O Brasil é a prova mais cabal de que quando você não acerta suas contas com a história, a história te assombra”.
Qual é sua análise do primeiro turno? Os resultados te pegaram de surpresa? E aí falando não só dos 46% do Bolsonaro mas sobre a composição da Câmara e do Senado? O PSL chegar a 52 deputados.
Acho que a grande surpresa acontece depois das manifestações de sábado retrasado quando ele [Bolsonaro] começa numa linha de ascensão muito forte. E estava claro que esse descolamento da extrema direita em relação à direita tradicional iria arrebentar com a direita. O MDB e o PSDB viraram partido médios. O MDB e o DEM, que eram a base da direita brasileira, perderam brutalmente sua relevância. Embora – o que é engraçado nesse processo -, do ponto de vista dos votos na Câmara, os partidos de esquerda não tiveram impacto negativo. O PT manteve sua bancada, o Psol quase dobrou, o PSB e o PDT aumentaram suas bancadas, então aconteceu mesmo um descolamento. É um fortalecimento de uma extrema direita que não tinha representação, a não ser uma representação caricata, dentro do Congresso. Mas ficou claro que essa campanha foi uma anticampanha completa, montada pra que os espaços públicos de debate implodissem. Do ponto de vista das garantias que a democracia liberal dava pra um certo jogo democrático, isso tudo acabou. A campanha foi montada ao redor de um candidato que, quando a campanha efetivamente começa, desaparece, porque toma uma facada e se aproveita disso para ficar um mês sem aparecer até o ponto de fazer aquilo que ele fez no último debate: ele não vai e faz uma entrevista à parte para demonstrar seu desprezo ao espaço de debate. Outra característica foi a organização da campanha a partir de fake news. Foi uma campanha digna de um Goebbels nos trópicos. As manifestações [#elenão], a gente ficou dias sem entender o que estava acontecendo. Porque não é possível: uma manifestação popular forte, com muita gente na rua, que o mundo inteiro viu e só a mídia brasileira não viu, e ele sobe! Aí vieram essas explicações estapafúrdias ‘ah mas esse movimento das feministas despertou uma reação forte’ como se estivessem culpabilizando o movimento feminista pelo simples fato de elas terem tomado a frente de um processo de revolta e de resistência. Uma coisa completamente insana. Mas aí começou a ficar claro o que aconteceu. O Brasil está na rota de uma lógica de extrema direita internacional na qual você não opera mais no espaço aberto, você opera no espaço obscuro, virtual, utilizando dados da Cambridge Analytica, como os caras fizeram, para direcionar mensagens de maneira muito específica, criando esses vídeos… Eu vi os vídeos em que eles misturavam imagens das manifestações com imagens de mulheres profanando símbolos religiosos, imagens feitas para chocar a classe média brasileira. É claro, a esquerda não estava preparada pra isso, ninguém está preparado pra isso. Foi uma lógica de outro tipo de campanha que a gente nunca tinha visto. E uma campanha feita em cima do desprezo do embate no espaço público.
Você disse algumas vezes que nós temos um golpe militar em marcha e que nós não teríamos eleições. Pode falar um pouco sobre isso?
Quando o impeachment estava claro como a luz do sol e a gente dizia ‘olha vai ter o impeachment, o governo vai cair’, vários setores da esquerda diziam: ‘não, nossa democracia é sólida, é resistente, o PSDB não vai entrar nessa aventura’, não vai ser a primeira vez que eles vão tomar seus desejos por realidade. Agora, a ideia do golpe em marcha: o Brasil vai viver os próximos meses e os próximos anos com essa espada de Dâmocles na cabeça, [o golpe] pode acontecer a qualquer momento. Ele [Bolsonaro] é alguém que, se for eleito e tiver a primeira dificuldade com o Congresso, a probabilidade de ele dar um autogolpe é enorme. Ele já falou, ninguém pode dizer que ele não expressa o que ele pensa, está tudo muito claro. A primeira coisa que ele fala quando passa para o segundo turno é: ‘nós vamos acabar com esses ativismos’. Ele promete união nacional e promete acabar com os ativismos. Parece uma contradição mas não é; ele vai criar uma união nacional baseada no cadáver de todos os ativistas, daqueles que não concordam com ele. Não é uma união nacional, é uma brutalidade social que a gente só tinha visto na ditadura. A gente sabe que vai ter um governo que, na verdade, é um governo de setores das Forças Armadas misturados com fundamentalismo evangélico, que é o pior cenário possível. Um governo militar teocrático feito pra implementar um programa ultra neoliberal. De pauperização extrema, de aumento dos conflitos sociais, de precarização e vulnerabilização absolutas, de desprezo com os setores mais vulneráveis da sociedade ou seja, uma bomba que não é nem uma bomba relógio, é uma bomba armada, que pode estourar literalmente a qualquer momento. A primeira revolta que tiver, você vai ter uma situação de brutalidade social que pode muito bem levar a uma situação de exceção.
Nós temos, pela primeira vez desde a abertura, os militares se aproximando da presidência. O que isso significa?
Eu acho que no fundo a gente está retornando ao horizonte de 1964 porque nós não conseguimos terminar com a ditadura. A ditadura se acomodou a um horizonte de democracia formal mas no subterrâneo ela estava lá, presente e conservada. As polícias continuaram [a ser] polícias militares, os torturadores continuaram nas polícias, as Forças Armadas continuaram intocadas, nenhum torturador foi preso, você não obrigou os setores fascistas da sociedade a se culpabilizar pelo apoio que eles deram, você preservou os grupos políticos ligados à ditadura. Claro que isso era uma bomba relógio, que iria estourar em algum momento. Quando o pacto da Nova República se mostrasse em seu esgotamento e sua exaustão, isso iria voltar. O Brasil é a prova mais cabal de que quando você não acerta suas contas com a história, a história te assombra. E ela está assombrando o Brasil como em nenhum outro país da América Latina. Uma situação na qual nossas liberdades vão ser completamente dizimadas. A esquerda teve oportunidades muito claras de retirar do cenário politico brasileiro todos aqueles que de uma certa forma eram os filhotes da ditadura. O governo Lula chegou a ter 84% de aprovação. Nunca mais na historia desse país alguém vai conseguir 84% de aprovação. E, no entanto, nada foi feito. Agora a gente paga esse preço.
Você já vinha falando desse apagamento do PSDB, que se concretizou, relacionando esse fato a um deslocamento da direita para a extrema direita. Pode falar um pouco sobre isso?
A direita brasileira, devido ao peso da ditadura, só podia aparecer dentro de um consórcio no qual o gestor era um ator transformista pelo PSDB. O PSDB não vinha dos grupos ligados à ditadura. Eram setores sócio-liberais, sociais democratas, que foram paulatinamente ocupando essa nova função, mas que não eram organicamente vinculados à pauta conservadora. Tanto é que eles eram conservadores na economia e liberais nos costumes. Mas vem a polarização, hoje faz quase dez anos que a gente está percebendo que a politica mundial está indo para os extremos. A questão é muito simples: as pessoas perceberam que o centro é incapaz de transformação então elas vão para os extremos. E faz anos que a gente fala ‘olha, o problema não é que você tem uma extrema direita, [o problema] é que você não tem uma extrema esquerda então você não consegue operar uma balança’. Dentro desse processo, um partido como o PSDB perde sua função. Mas o dado é que o Brasil vai passar por uma catástrofe econômica. Você vai impor um plano de ajuste hiper neoliberal que vai prejudicar todas as camadas populares que conseguiram uma certa ascensão. A carteira verde amarela, por exemplo, retira FGTS, 13o e férias. As pessoas não vão ter dinheiro para gastar. Você vai ter um mercado interno em colapso em uma situação em que o mercado externo também está em colapso. Vai se ter um pouco de dinheiro porque vai vender todas as estatais, só que esse dinheiro não vai ser utilizado para fazer politicas de combate às desigualdades, vai ser entregue diretamente ao mercado financeiro porque eles são os detentores da dívida pública. Mas você vai abater 20% da dívida pública, não vai ter mais nada pra vender, então você vai ter que negociar essa dívida pública. E, mais do que isso, o Estado não vai ter mais capacidade de indução de ascensão social. Em suma, você vai ter um Estado brutalmente pauperizado. Se esses empresários tivessem um mínimo de inteligência não seriam suicidas nesse nível; o máximo que eles vão conseguir fazer é pegar o que têm e ir morar em Miami porque aqui vai ficar insuportável.
Existe uma ideia de que os eleitores do Bolsonaro votam nele por uma espécie de falta de esclarecimento, uma manipulação, uma impossibilidade de enxergar suas contradições ou seus verdadeiros objetivos. Você acredita nisso? Acha que os eleitores do Bolsonaro estão sendo enganados?
Você tem uns 20% que [já] estavam com ele antes dessa subida que é o eleitorado protofascista. Que a gente está vendo se manifestando com a violência, a agressividade que eles têm. Hoje [ontem] uma pessoa foi assassinada por ter feito uma defesa de um candidato opositor, então imagina o que vai acontecer quando eles estiverem no poder. Então sim, há uma parcela fascista e, se tem uma pessoa nesse mundo hoje que poderia ser analiticamente classificado como fascista, é o senhor Jair Bolsonaro. Não tem nenhum político no mundo – talvez o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte – os dois únicos no mundo que podem ter um discurso classicamente classificado como fascistas. Todas as características estão lá: culto à violência, um sujeito cujo sinal da campanha é uma arma apontada; um culto ao nacionalismo paranoico em um país como o Brasil, fundado a partir do genocídio indígena, do genocídio negro, quer dizer, ser nacionalista no Brasil é realmente mostrar sua carteira de identidade. E num desprezo explícito a grupos vulneráveis da sociedade, como foi com os judeus um dia, com as mulheres, com a população LGBT. Esses três elementos são fundamentais para a classificação de qualquer discurso como fascista. Sem contar um recurso contínuo a um universo religioso completamente farsesco, constituído por pastores com ficha na polícia, da pior espécie, e o caráter de racionalidade cínica disso. Ele é capaz de falar tudo o que fala e, como fez ontem, falar: ‘não é pra levar muito a sério o que eu falo, eu sou um comediante’. Adorno, quando vai analisar o fascismo, fala que o cerne da adesão ao fascismo é que, na verdade, ninguém acreditava no que era enunciado. Você ironiza a violência enquanto trucida todo mundo. Porque, se fosse pra assumir uma ética da convicção, ninguém iria suportar. Essa face cômica é constitutiva de todo discurso autoritário. Hoje em dia você percebe a comicidade do Berlusconi, do Trump, do Sarkozy e, agora, do Bolsonaro. Isso está longe de ser uma coisa que humaniza, simplesmente mostra o caráter autoritário do poder. Então você tem uma parcela da população que é fascista e deve ser nomeada como tal. E você tem uma parcela, que deve ser mais ou menos metade, que entrou porque quer uma ruptura e está disposta a pagar o preço que for por essa ruptura. Esse que foi o caráter dramático, esse que foi o problema. Permitir que as pessoas que querem essa ruptura, que tem um discurso anti-institucional, fossem para a direita.
Então você acha que está acontecendo mais ou menos como diz que aconteceu em 2013, em que em uma hora muito crítica a esquerda não se radicalizou e foi a direita quem fez isso?
Desde o 18 de Brumário de Luis Bonaparte do Marx a gente sabe que toda revolta popular produz um sujeito politico emergente capaz de ser o ator de transformações sociais e um sujeito reativo. Sempre foi assim. Não tem uma revolta popular em que você não abra para uma possibilidade de transformação e para um retorno. 2013 foi o único momento na história brasileira em que a população mostrou sua energia negativa contra o poder. A gente teve momentos em que a população em Brasília vai para o Congresso, quase quebra o Congresso, a polícia empurra as pessoas pro lado e elas tocam fogo no Palácio do Itamaraty. Olha que engraçado, depois disso começaram a surgir discursos de ordem. Por que? Porque eles queriam ordem ou porque você teve um setor da população que ficou com medo dessa revolta popular? Começou a se pedir ordem, está faltando um punho forte, mão firme e aí voltam todos esses fantasmas que assombram a sociedade brasileira desde sua instauração. Nesse horizonte a resposta possível era a esquerda mostrar à população que há um outro destino para essa recusa radical do poder, que é tomar o poder para si. Não é entregar o poder para alguém “honesto”, “correto” e “forte”.
Que “vai acabar com tudo isso”…
Que vai acabar com tudo isso, exatamente. E que normalmente vai acabar é com você, termina sempre assim. Mas, transferir o poder para a soberania popular, a esquerda não foi capaz de fazer isso. A esquerda, com sua patologia dirigista, não foi capaz de entender que era isso que era necessário. Vocês não querem representação? Tudo bem, a gente pode defender um tipo de democracia cada vez mais direta e mais próxima. Mas isso nunca apareceu na pauta da esquerda no Brasil.
Qual é o papel da esquerda agora e daqui pra frente?
Bom, primeiro ganhar as eleições. Tem 20 dias pra ganhar, não é uma operação impossível, a rejeição ao Bolsonaro é enorme e tende a não cair e a esquerda já demonstrou algumas vezes nesses últimos dias que tem a maioria dentro de um segundo turno. É claro que isso implica um tipo de mobilização e trabalho que a gente perdeu. Retomar o trabalho de base, ir pra rua conversar com as pessoas, ao invés de ficar brigando com a sua tia no Facebook. E se perder, que perca de muito pouco, isso a gente tem condição de garantir. Que seja de 48 a 52%, isso vai ser muito importante porque permite um grupo de resistência muito mais forte. Ao menos garantir que seja uma derrota por muito pouco, que é a tendência natural. E isso vai ser importante porque a violência deles vai ser imediata, já no primeiro dia. Quem espera um governo de conciliação, o Trump mostrou o contrário. Todo mundo dizia ‘ele falou muita bravata mas depois vai ser melhor’ e foi muito pior do que ele falou. Então vai ser pior do que essas bravatas. E ter metade da população brasileira mobilizada e em vigilância vai ser fundamental para sobreviver.
Você fala que a política é antes de mais nada relacionada a circuitos de afetos. O que isso significa? E como se relaciona com o momento atual?
Eu desenvolvi isso em um livro que no fundo era sobre a situação brasileira. Havia uma discussão sobre a politica estar sendo marcada pelo ódio e eu estava tentando insistir: veja, eles também pensam que a gente é marcado pelo ódio, começa por aí. Então algo como ‘mas eles são irracionais’ é uma péssima descrição. A questão era saber que tipo de afeto os move e cria formas de vida. Porque o embate é sobre formas de vida, isso é muito claro. Não é só sobre programa econômico, não é só sobre questões ligadas à segurança, é sobre formas de vida. Você tem grupos para os quais a nossa forma de vida é um insulto. Tanto que eles misturam questões ligadas à sexualidade, misturam questões ligadas a formas de trabalho, a modelos de sociedade, a acolhimento ou não de refugiados, é todo um tipo de vida social que está sendo colocado em questão. Mas isso significa que essas vidas sociais são suportadas por certos afetos e é claro que um elemento decisivo para alguém como Bolsonaro é o medo como afeto político central. Não é alguém que vai garantir que você tenha um futuro melhor, mais próspero, mais livre. Não. É algo como “eu vou estar seguro” e “não vai ter ninguém corrompendo” que são duas ideias completamente equivocadas. Alguém como ele não garante uma sociedade menos corrupta porque a corrupção vem sempre de par com o autoritarismo. Como alguém que endeusa um regime corrupto pode ser contra a corrupção? Como alguém que fala sobre o setor militar como um horizonte ideal pode ser contra a corrupção? Afinal a ditadura militar foi um dos regimes mais corruptos que o Brasil já conheceu. Todas essas grandes empreiteiras que corromperam o estado da Nova República foram formadas no regime militar. O regime militar é cheio de casos de corrupção: Coroa Brastel, Capemi, Projeto Jari, Petropaulo, eu poderia passar o resto da entrevista falando desses casos. Foi um regime que se alimentou dos políticos mais corruptos que já existiram. Antonio Carlos Magalhães, Jose Sarney, Paulo Maluf foram herdeiros da ditadura. E o senhor Bolsonaro se aliou a figuras corrompidas, a começar pelo pastor Edir Macedo, que foi parar na cadeia por corrupção, o pastor Silas Malafaia. São figuras que estão muito mais para a página policial do que outra coisa. Sem contar os casos próprios dele [Bolsonaro]. Por outro lado, é alguém que promete segurança mas não vai dar segurança nenhuma porque vai criar um país de conflito social aberto, de pauperização, que vai aumentar a violência social porque essa violência não vem do nada, ela vem do fato de a desigualdade no Brasil ser um insulto à humanidade. Então a raiva contra essa situação pode gerar algum tipo de violência direta. Quem diz que o regime militar teve paz social, claro, só para quem mora nos bairros nobres. Mas e o que acontecia nas favelas? Os esquadrões da morte, a brutalização absoluta, veja os números. Tudo isso é uma ficção, uma falácia que rapidamente vai ser demonstrada na sua inverdade.
Você já falou sobre o que a gente pode esperar caso o Bolsonaro seja eleito. O que a gente pode esperar caso o Haddad se eleja na sua opinião?
Não dá pra dizer que não vai ser turbulento. Mas isso é até mesmo irrelevante diante da possibilidade de impedir o Brasil de entrar em uma noite sem fim. Porque o Bolsonaro é alguém pior do que a ditadura militar. No governo ditatorial, eles não precisaram mobilizar de maneira explícita todo esse sistema de violência social contra grupos vulneráveis que o Bolsonaro mobiliza a todo momento. Então você pode imaginar o nível de violência que virá. Ele tem esse elemento a mais, precisou mobilizar. A ditadura militar não tinha associação com grupos evangélicos, religiosos. A participação da igreja católica não era direta, não tinha padre prefeito, parlamentar. E na época diga-se de passagem a igreja católica estava mais progressista do que conservadora. Então é ainda pior. Qualquer coisa que vier já é insuperavelmente melhor do que uma vitória do Bolsonaro.
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