Texto de Rafael Rosset
"Um mexicano que cruze ilegalmente a fronteira dos EUA com o México hoje, através de Tijuana, por exemplo, pode tirar carteira de motorista, trabalhar em qualquer profissão que não exija um registro especial (imigrantes ilegais são 4% da população total e cerca de 5% da força de trabalho hoje nos EUA), contratar seguro, adquirir um imóvel e até ter um número de seguridade social. 60% dos imigrantes ilegais hoje nos EUA estão lá há mais de 10 anos (a maioria dos quais casou-se e teve filhos), e desde que não cometam nenhum crime ou infração vão viver com quase toda a liberdade de um cidadão norte-americano médio.Lembrando que o mexicano do nosso exemplo não é um refugiado, não entrou fugindo de uma ditadura nem nada parecido.
Uma venezuelana que ingresse ilegalmente hoje no território brasileiro através de Roraima não pode trabalhar porque não tem uma CTPS. Não pode tirar CPF porque não tem um documento de entrada e não pode tirar CNH ou abrir conta num banco porque não tem um CPF nem um RG. Também não pode alugar um imóvel porque além de não ter os documentos acima também não tem um fiador nem meios de contratar um seguro. Ela legalmente só pode pedir esmola (a partir de 2009, porque antes disso mendigar era contravenção penal no Brasil). Nem vender o próprio corpo ela pode, porque prostituição é profissão regulamentada no Brasil (Classificação Brasileira de Ocupação n. 5198).
Diferentemente do mexicano do exemplo acima, a venezuelana em questão vem fugindo de um regime violento, que fecha jornais, assassina manifestantes contrários e prende opositores. Se o PT ainda ocupasse a Presidência da República, até pedir asilo seria arriscado - quem não se lembra dos dois pugilistas cubanos que foram sumariamente deportados durante o Pan de 2007 porque estavam tentando escapar do regime sanguinário da ilha-prisão?
Mas, de alguma forma, o Brasil tem fama de país acolhedor e gentil com estrangeiros, ao passo que os EUA passam por xenófobos e preconceituosos.
Pouco importam os fatos - a narrativa é tudo."