Postado originalmente por
Fonteles
O que temos visto desde os anos 1990 e particularmente desde 1999 – quando o tripé do câmbio flutuante/metas de inflação/metas inflacionárias passou a ser uma exigência do FMI – é, a rigor, uma política de controle inflacionário, baseada na abertura financeira e comercial. Essa política impõe a perigosa combinação de câmbio valorizado e juros reais elevados. Câmbio valorizado é mortal para um país periférico que tenha alguma pretensão de fortalecer a sua indústria local. Combinado com uma política monetária baseada em juros reais elevados e abertura comercial, o resultado é o que temos assistido: a indústria brasileira, largamente transnacionalizada, regride para um papel de montagem de peças e componentes importados. Como, portanto, defender esse tipo de política e, ao mesmo tempo, o fortalecimento da indústria e de um processo de inovações tecnológicas?
Não sem razão, o Brasil hoje se defronta com um sério problema de financiamento das suas contas externas. O dito tripé macroeconômico em questão faz com que as despesas com importações, as remessas de lucros, o pagamento de juros e outras despesas de serviços tenham uma trajetória de gastos ascendentes. Frente a esse quadro, as receitas de exportação passam a ser vitais, ao menos para amenizar o desequilíbrio das contas correntes do país (transações de comércio e de serviços).
Desse modo, o favorecimento e incentivo às atividades do agronegócio e à exportação mineral passam a ser estratégicos e funcionais à manutenção do modelo de economia que temos. Como, portanto, com o setor de commodities agrícolas e minerais assumindo essa importância, poderemos falar em desenvolvimento sustentável? Todos sabemos que o modelo agrícola voltado às exportações, usa e abusa de toneladas de venenos tóxicos, defensivos agrícolas e sementes transgênicas. Sem deixar de lembrar também que a produção mineral, a exploração e exportação de minérios e petróleo, por exemplo, está longe de se constituir em atividades adequadas à defesa do meio-ambiente. Como então defender a compatibilidade do tripé do FMI com o polêmico e demagógico conceito de eco-capitalismo?
Por fim, não podemos deixar de lembrar o elevado custo financeiro do irresponsável, antinacional e subalterno modelo econômico em curso. O crescimento da dívida bruta em títulos do governo é a melhor tradução para a verdadeira deformação macroeconômica que vivemos. As elevadas taxas reais de juros com que essa dívida é administrada faz com que atualmente quase a metade do Orçamento Geral da União seja consumida com o pagamento de despesas financeiras. A tradução cotidiana desse descalabro é demonstrada especialmente para as condições degradantes das políticas estratégicas para o bem estar do povo. Não sem razão, há uma crise sistêmica na educação pública, no Sistema Único de Saúde, na infraestrutura urbana de transportes de massa, sem falar na infraestrutura de transportes de cargas.
Dilma Rousseff parece desconhecer por completo essa realidade quando, ao mesmo tempo, faz a sua profecia de fé no tripé ao gosto dos bancos e multinacionais e acena, também, com as ilusões de um hipotético desenvolvimentismo e a promessa de elevar a taxa de investimento na economia. Ela sabe, na verdade, que essas são promessas que não se compatibilizam. E a melhor prova disso foi a patética reunião em que, recentemente, ela implorou, junto a fina flor da especulação internacional, em reunião organizada pelo Goldman Sachs, em Nova York, por investimentos e “capacidade de gestão” dos gringos. Investimentos que, diga-se de passagem, poderão ser financiados pelo sempre generoso BNDES e estimulados por incentivos fiscais.
É esse dramático quadro que faz, também, com que Dilma rompa com seus compromissos de campanha – quando denunciou José Serra como “privatista” e prometeu que o pré-sal seria o nosso “passaporte para o futuro”. Ela, agora, muda o seu discurso e insiste no propósito de entregar, através de leilão, o campo de Libra, campo de petróleo descoberto pela Petrobrás, com reservas estimadas pela própria ANP entre 8 e 12 bilhões de barris de petróleo, podendo até mesmo ter uma riqueza que supere esse volume.
em meio a uma conjuntura de muitas incertezas – no plano econômico, mas principalmente no plano político – o único caminho para um verdadeiro passaporte para o futuro, que não seja o do subdesenvolvimento e da dependência externa, é o rompimento com o modelo dos bancos e multinacionais e o seu nefasto tripé.