Entrevista com Felipe Mojave, o melhor jogador de Omaha do país | Revista Alfa
Quando se pensa em pôquer, automaticamente o Texas Hold’em vem à cabeça. Mas nos último anos, uma outra modalidade ainda mais feroz e mais agressiva que o Texas tem conquistado espaço nas mesas de jogo: o Omaha.
E no Brasil, ninguém domina tão bem o Omaha quanto Felipe Mojave Ramos.
“Sou o único jogador do mundo que já fez mesa final nos cinco principais torneios de Omaha do circuito”, disse Mojave a Alfa. Entre as suas mesas finais, estão a da World Series of Poker (WSOP) e a do PokerStars World Championship of Online Poker (WCOOP). Não foi uma surpresa, portanto, quando Mojave foi eleito o melhor jogador de Omaha do país no Prêmio Flop, o Oscar do pôquer brasileiro.
Aos 27 anos, Mojave já faturou mais de um milhão de dólares em torneios. Isso sem contar seu lucro nos cash games, em que valores reais são apostados à mesa.
“Já ganhei um pote de mais de 100 mil dólares no Bobby’s Room”, diz. Para quem não sabe, o Bobby’s Room é a sala de pôquer mais famosa (e cara) do mundo. Fica dentro do cassino Bellagio, em Las Vegas. Na jogada em questão, de Omaha, Mojave tinha uma trinca alta e uma pedida de seguida; seu adversário tinha uma trinca média e uma pedida de flush. O flush não bateu e Mojave puxou todas as fichas.
Nascido em São Bernardo do Campo, Mojave trabalhou por seis anos no BankBoston antes de se profissionalizar no pôquer. “Comecei a ganhar mais dinheiro com o pôquer do que como gerente do banco”, diz. Decidiu viver das cartas.
Em junho de 2009, Mojave assinou um contrato de patrocínio com o PartyPoker, o terceiro maior site de pôquer do mundo. Tornou-se, assim, o embaixador do PartyPoker no Brasil. Mas na última sexta-feira (24 de setembro), ele anunciou no Twitter que a parceria terminara. “Tenho uns cinco sites interessados [no meu passe]”, diz.
Alfa – Sua parceria com o PartyPoker acabou recentemente. Você está negociando com algum novo patrocinador?
Felipe Mojave Ramos – Quando meu contrato com o PartyPoker terminou, eu decidi não renovar. Com isso, agora estou aberto a negociação com novos sites. Mas ainda não fechei nada. Estou vendo o que será melhor para mim.
Alfa – Pode contar os sites que estão na jogada?
Mojave – Prefiro não comentar, ainda. Só quando fechar o contrato. Tenho cerca de cinco sites interessados, o que mostra que o mercado brasileiro está sendo observado bem de perto. Isso é excelente para todos nós.
Alfa – No Twitter, você afirmou que “ter um grande patrocinador é mais que vital na carreira de um jogador” de pôquer. Por quê?
Mojave – Imagine que você é um atleta de alto nível de triathlon no Brasil. Você é um dos melhores do mundo, muito bom no que faz. Caso do meu amigo Guto Antunes. Só que não existe investimento do governo, muito pouco investimento privado e pouco reconhecimento da sociedade no triathlon. Nenhum apoio. Para se manter, é capaz que você precise de um outro emprego paralelo.
Com o pôquer é parecido. Então, o patrocínio permite você se dedicar 100% ao esporte, te dá tranquilidade e o suporte que você precisa, inclusive para reduzir o impacto da variância do jogo, no caso do pôquer. Para ser bem honesto, isso funciona em quase todos esportes em nosso país. Essa ainda é a nossa realidade.
Alfa – Como funcionava o seu contrato com o PartyPoker?
Mojave – Eu recebia uma remuneração e a inscrição de vários torneios. Em troca, eu representava a marca em eventos e em ações promocionais. Não posso contar mais detalhes.
Alfa – Antes de se profissionalizar, você trabalhou numa multinacional, não?
Mojave – Sim, trabalhei por seis anos no BankBoston. Eu era gerente de relacionamento do mercado de empresas.
Alfa – Como foi a decisão de deixar um cargo de executivo, num grande banco, para viver das cartas?
Mojave – Foi uma decisão complicada, mas nem tanto quanto as pessoas pensam. Eu já jogava pôquer havia um ano, e meus resultados estavam cada vez melhores. Em quatro horas de pôquer por dia, estava ganhando mais do que em 10 horas diárias como gerente. Me sentia desmotivado para trabalhar, para ser honesto. Isso inclusive estava atrapalhando o meu rendimento. Foi uma decisão natural.
Alfa – E sua família, como reagiu?
Mojave – No começo, foi difícil, porque eu tinha toda uma carreira planejada. Minha família sempre foi muito humilde, de verdade. Mas meu pai nunca deixou faltar nada em casa. E quando eu era criança, queria ser músico. Meu pai falou: “Primeiro você estuda, faz faculdade e começa a trabalhar. Depois, vai salvando um dinheirinho para investir na música.” E era isso o que eu estava fazendo. Minha mãe sempre cuidou muito bem da nossa família, também. Devo tudo a eles.
Só que, de repente, o pôquer entrou no lugar da música. Quando eu ainda trabalhava no banco, comecei a ter bons resultados e fui campeão brasileiro [no BSOP]. Jogava poucas horas depois do trabalho e aos finais de semana. Depois que cheguei em casa com o troféu, meu pai e minha mãe começaram a se interessar mais pelo assunto.
Meus resultados foram melhorando, até que recebi em 2007 uma proposta de patrocínio do site Best Poker. Eu seria remunerado e ganharia a inscrição em torneios na Europa. Em troca, representaria o site no Brasil. Não dava mais para conciliar o banco e o pôquer. E, com o contrato do Best Poker, seria uma transição mais tranquila. Meu pai me apoiou 100%. “Se é isso que você quer, deve mesmo correr atrás”, ele disse.
Mojave – Quando eu estava no 3º colegial, treinava futebol no Palmeiras e no São Caetano. Muitas vezes, tinha que faltar na aula para treinar. Como queria muito entrar na faculdade, depois do treino eu ia para o cursinho. Um dia, fui entrar na aula, passei no corredor e um amigo gritou: “Mojave!” Não entendi nada. Depois percebi que era a marca dos meus óculos. Como havia vários Felipes na sala, ganhei o apelido de Mojave.
Quando entrei no meu primeiro torneio de pôquer, não quis colocar o nome verdadeiro, Felipe Ramos. Existia um preconceito ligado pôquer, e todo mundo no banco sabia meu nome. Então, coloquei Felipe Mojave. E pegou.
Alfa – Você já ganhou mais de um milhão de dólares ao vivo e na internet, segundo os sites PokerPages e PocketFives. Como gasta o seu dinheiro? Comprou algum carrão?
Mojave – Dificilmente gasto meu dinheiro com alguma coisa luxuosa. Sou uma pessoa simples. Gasto com viagens, conhecendo lugares novos, jantando em restaurantes legais. Não tenho nenhum carrão.
Aliás, é bom notar que, quando analisamos valores no pôquer, os números altos não vem muito ao caso. Por exemplo: um jogador pode ganhar 10 milhões em torneios, mas tendo gastado 9,5 milhões. O importante, mesmo, é o índice de retorno. [No pôquer, assim como nas finanças, isso é chamado de ROI, retorno sobre o investimento.] O meu está próximo dos 100% ao ano.
Alfa – Você joga cash game?
Mojave – Sim. Quando mudei para os Estados Unidos, foi exatamente para aprimorar o meu cash game. Joguei muito em Las Vegas e em Los Angeles.
Alfa – Qual foi sua sessão mais lucrativa até hoje?
Mojave – Já ganhei um pote de 100 mil dólares no Bobby’s Room. Era uma mão de Omaha. Tinha a top set [trinca mais alta] e uma pedida de seguida com duas pontas. O outro jogador tinha a trinca do meio e uma pedida de flush. Fomos para o all-in no flop. Eu já estava ganhando a mão e ainda acertei uma sequência no turn. Como o flush dele não veio no river, ganhei.
Alfa – Você tremeu muito nessa jogada? Afinal, eram 100 mil dólares!
Mojave – Para ser sincero, não. Já estou acostumado a lidar com esse tipo de pressão.
Alfa – Alguma outra jogada marcante na sua carreira?
Mojave – Tenho mais histórias tristes do que felizes, quando falamos de jogadas marcantes. Situações em que eu estava na reta final do torneio, para obter um resultado fantástico, e perdi numa bad beat tremenda [azar grande]. A maior foi na final da WSOP do ano passado. Estávamos em seis jogadores na mesa final [do evento 35, US$ 5.000 Pot Limit Omaha]. Fui para um all-in em que era favorito 3-1 antes do flop. Depois do flop, era favorito 10 para 1! Eu tinha par de ases e pedida de flush; meu oponente tinha quatro undercards [cartas mais baixas que o par de Mojave], sem nada conectado com o bordo. Ou seja: mesmo que batesse o par dele, eu ganharia. Mas ele acabou acertando uma sequência runner runner [nas duas últimas cartas] e que ainda não podia ser do meu naipe. Enfim, me senti um atacante que chutou a bola na direção do gol, bateu num morrinho, na trave e saiu para a linha de fundo.
Alfa – Cruel mesmo… Falando em Omaha, você foi eleito no Prêmio Flop o melhor jogador de Omaha do país. Qual é o seu jogo preferido: Texas Hold’em ou Omaha?
Mojave – Sou um jogador bastante completo, não tenho preferência. Gosto igualmente de todos: Hold’em, Omaha, mixed games… Esse é um diferencial para mim. Mas é óbvio que tenho um carinho especial pelo Omaha, por todos os meus resultados. Sou o único jogador do mundo que tem mesa final nos cinco principais torneios de Omaha no circuito mundial de poker: WSOP (World Series of Poker), WSOP Europa, EPT (European Poker Tour), FTOPS (Full Tilt Online Poker Series) e WCOOP (PokerStars World Championship of Online Poker).
Alfa – Onde você esta morando atualmente: São Paulo, Las Vegas ou Los Angeles?
Mojave: Morei nos Estados Unidos por um bom tempo. Mas quando meu relacionamento [com Marianela Pereyra] acabou, mudei de lá. Na verdade, hoje não estou morando em lugar nenhum. Fico viajando para jogar o circuito. Estou pensando em passar um tempo na Tailândia, jogando pôquer online e, quem sabe, aprendendo artes marciais! [rs]
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