Breaking Bad: De Que Lado Estamos Mesmo?
Por que nos importamos tanto com Walter White e Jesse Pinkman? De onde vem toda essa empatia com um sujeito que produz uma droga capaz de acabar com a vida do usuário de forma tão brutal, como mostra a foto abaixo do projeto
Faces of Meth? Ora, Walter é produtor de droga, traficante, assassino, mentiroso, traidor, mesquinho, egoísta e por aí vai. Jesse também não é lá flor que se cheire e, além de matar e traficar, vive em ritmo de festa com seu dinheiro da forma mais pródiga e irresponsável possível. Não é fácil gostar deles, pois eles não têm causas “nobres” como a de Dexter Morgan, por exemplo, que é um assassino convicto, mas que procura usar seus impulsos para o bem, tirando o lixo das ruas. Pelo contrário.
Walter e Jesse são a escória, diretamente responsáveis por muita desgraça e indiretamente culpados por muito mais, como deixar o próprio cunhado paraplégico e até mesmo derrubar um avião comercial no centro da cidade. Por que então torcemos por eles? Por que Walter tem câncer, um filho paraplégico e Jesse é um
loser total? Não, isso é circunstancial e nem de longe desculpa para admirar tanta ruindade. Gostamos deles por algo muito mais simples: por que o roteiro de Vince Gilligan sabe utilizar o fenômeno da identificação. Focando a narrativa sob o ponto de vista de Walter e de seu fiel parceiro, o espectador é transferido para aquela realidade em que os vemos vulneráveis, e assim nós também ficamos.
O crítico
Pablo Villaça explica em seu curso que “
temos a tendência, como seres humanos sujeitos à empatia e à compaixão, a nos identificarmos com personagem em situações que expõem sua vulnerabilidade. Assim, não precisamos gostar (nem devemos!) de Hitler ou Tony Montana para que fiquemos aflitos com suas dificuldades em As Últimas Horas de Hitler e Scarface“. Vince Gilligan sabe usar este artifício com muita competência. E mesmo ao vermos, por exemplo, Walter colocando tudo a perder por vaidade, quando afirma para Hank que o verdadeiro Heisenberg (ele) ainda está vivo, tememos por ele mesmo tendo, ao mesmo tempo, vontade de socá-lo.
Ora, o certo era torcermos por Hank, não? Ele é o verdadeiro herói de
Breaking Bad, que sacrificou suas próprias pernas na caça ao traficante mais perigoso do Novo México. Não. Dane-se a moral, os bons costumes e a legalidade. Torcemos para que Walter seja o chefão da droga. Viva a mentanfetamina cristal! Queremos que Hank morra com suas pedras (minerais, digo!) e que os lindos cristaizinhos azuis sejam distribuídos por aí como balas e a grana devidamente lavada pela nova “
good wife” do pedaço, Skyler. E o grande destaque da temporada até agora fica com Gus. Da mesma forma que temos empatia pelos protagonistas, a inteligência fria e calculista do chefão do Los Pollos Hermanos desperta uma estranha admiração, ainda mais depois do plano brilhante e meticuloso para tirar Jesse da auto destruição pessoal (e de toda a operação) fazendo-o se sentir importante. Foi de arrepiar.
Breaking Bad está sempre num nível dificilmente alcançado até mesmo por grandes séries e olha que a temporada não está nem na metade!