"O capítulo em que rola a batalha do GoT 9, está sob o nome de Catelyn. (Cada trecho do livro é visto sob a ótica de um dos personagens principais e leva seu nome. Não há divisão em números ou algo assim).
Quando rolar umas reticências na vertical, eu to pulando uns trechos menos importantes, que descrevem o cenário, o passado, coisas assim.
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- Já não deve demorar, senhora – disse Hallis Mollen. Pedira a honra de protege-la durante a batalha que vinha aí; era seu direito, como capitão da guarda de Winterfell, e Robb não lhe recusara. Tinha trinta homens ao seu redor, encarregados da tarefa de mantê-la segura e leva-la a salvo até Winterfell se a luta corresse mal. Robb quisera cinqüenta; Catelyn insistira que dez seriam suficientes, que ele necessitaria de todas as espadas para a luta. Tinham chegado aos trinta, nenhum deles satisfeitos com o resultado.
- Chegará quando chegar – disse-lhe Catelyn. Sabia que, quando chegasse, significaria a morte. Talvez a morte de Hal... ou a sua, ou a de Robb. Ninguém estava a salvo. Nenhuma vida era certa. Catelyn estava satisfeita por esperar, por escutar os murmúrios nos bosques e a tênue música do regato, por sentir o vento morno nos cabelos.
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A noite estava quente, mas pensar em Correrio era o suficiente para faze-la estremecer. Onde estão eles?, perguntou-se. Poderia o tio ter-se enganado? Tanta coisa dependia da verdade do que lhes tinha dito. Robb dera ao Peixe Negro (Sor Brynden Tully) trezendos homens com lanças e os enviara à frente para ocultar sua marcha.
- Jaime não sabe – dissera Sor Brynden quando regressara. – Aposto nisso minha vida. Nenhuma ave lhe chegou, meus arqueiros certificaram-se disso. Vimos alguns de seus batedores, mas os que nos viram não sobreviveram para ir lhe contar. Ele deveria tê-los mandado em maior número. Não sabe.
- De que tamanho é a sua tropa? – pergunta o filho de Catelyn.
- Doze mil homens a pé, espalhados em torno do castelo em três acampamentos separados, com os rios entre eles – respondera o tio, com o sorriso assimétrico de que se lembrava tão bem. – Não há outra forma de montar cerco a Correrio, mas, mesmo assim, isso será a ruína deles. Dois ou três mil homens a cavalo.
- O Regicida tem três homens contra cada um dos nossos – dissera Galbart Glover.
- É verdade - dissera Sor Brynden -, mas há uma coisa que falta a Sor Jaime.
- Sim? – perguntara Robb.
-Paciência.
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- Tenho de percorrer a fileira, mãe – ele disse. – Meu pai diz que devemos deixar que os homens nos vejam antes das batalhas.
- Então vá – disse ela. – Deixa que te vejam.
- Isso lhes dará coragem – disse Robb.
E quem dará coragem a mim?, ela perguntou a si mesma, mas manteve o silêncio e obrigou-se a sorrir. Robb virou o grande garanhão cinzento e afastou-se lentamente dela, com Vento Conzento a seguir-lhe os movimentos como um sombra. Atrás dele, a guarda de batalha entrou em formação. Quando forçara Catelyn a aceitar seus protetores, ela insistira que ele também fosse guardado, e os senhores vassalos tinham concordado. Muitos de seus filhos tinham clamado pela honra de acompanhar o Jovem lobo, como tinham começado a chamá-lo. Torrhen Karstark e o irmão Eddard encontravam-se entre os trinta, tal como Patrek Mallister, Pequeno-Jon Umber, Daryn Hornwood, Theon Greyjoy, não menos que cinco dos muitos descendentes de Walder Frey, bem como homens mais velhos, como Sor Wendel Manderly e Robin Flint. Um de seus companheiros era até mesmo uma mulher: Dacey Mormont, a filha mais velha da Senhora Maege e herdeira da Ilha dos Ursos, uma esguia mulher de um metro e oitenta a quem fora dada uma maça de armas numa idade em que à maioria das mulheres eram oferecidas bonecas. Alguns dos outros senhores resmungavam a esse respeito, mas Catelyn não queria ouvir suas queixas.
- Isso não tem nada a ver com a honra de suas Casas – dissera-lhes. – Tem a ver com manter meu filho vivo e inteiro.
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Vêm aí, pensou Catelyn.
- Vêm aí, senhora – segredou Hal Mollen. Estava sempre pronto a afirmar o óbvio. – Que os deuses nos acompanhem.
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Parecia durar uma eternidade. Os sons tornaram-se mais altos. Ouviu mais risos, uma ordem gritada, o respingar de água quando atravessaram e voltaram a atravessar o pequeno córrego. Um cavalo resfolegou. Um homem praguejou. E então o viu por fim... só por um instante, enquadrado entre os ramos das árvores enquanto olhava para o fundo de vale, mas sabia que era ele. Mesmo a distância, Sor Jaime Lannister era inconfundível. O luar tornara prateados sua armadura e dourados seus cabelos, e transformara o manto carmesim em negro. Não trazia elmo.
Estivera ali e voltara a desaparecer, com a armadura prateada escondida de novo pelas árvores. Outros seguiam atrás dele, em longas colunas, cavaleiros, espadas juramentadas e cavaleiros livres, três quartos da cavalaria Lannister.
- Ele não é homem para ficar sentado em uma tenda enquanto seus carpinteiros constroem torres de cerco – prometera Sor Brynden. – Já por três vezes acompanhou os cavaleiros em investidas, para perseguir atacantes ou assaltar uma fortaleza obstinada.
Meneando, Robb estudara o mapa que o tio lhe desenhara. Ned ensinara-lhe a ler mapas.
- Ataquem-no aqui – dissera, apontando. – Algumas centenas de homens, não mais. Estandartes Tully. Quando vier atrás de vocês, estaremos à espera – o dedo movera-se uma polegada para a esquerda – aqui.
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E Vento Cinzento atirou a cabeça para trás e uivou.
O som pareceu atravessar Catelyn Stark, e ela deu por si tremendo. Era um som terrível, um som assustador, mas também havia música nele. Por um segundo, sentiu algo semelhante à piedade pelos Lannister lá embaixo. Então é assim que soa a morte, pensou.
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O bosque sussurrante deixou escapar todo seu fôlego de repente, quando os arqueiros que Robb escondera nos ramos das árvores dispararam suas setas e a noite entrou em erupção com os gritos de dor de homens e cavalos. A toda volta dela, os cavaleiros ergueram as suas lanças, e a terra e as folhas que tinham coberto as cruéis pontas cintilantes caíram e revelaram o brilho do aço afiado. Uviu Robb gritar “Winterfell” no momento em que as setas voltaram a suspirar. Afastou-se dela a trote, levando os homens para baixo.
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Mas quando ergueu os olhos para a vertente oposta, viu os cavaleiros de Grande-Jon emergirem da escuridão sob as árvores. Vinham em uma longa linha, uma linha infinita, e quando jorraram da floresta, houve um instante, a menor parte de um segundo, em que tudo que Catelyn viu foi o luar refletido nas pontas de suas lanças, como se um milhar de fogos-fátuos descessem a vertente, enfeitados pelas chamas prateadas.
Então piscou, e eram apenas homens, correndo para matar ou morrer.
Mais tarde, não poderia afirmar que vira a batalha. Mas a ouviu, e o vale ressoou com ecos. O crac de uma lança quebrada, o tinir das espadas, os gritos de “Lannister”, “Winterfell” e “Tully! Correrio e Tully!”. Quando compreendeu que nada mais havia para ver, fechou os olhos e escutou. A batalha ganhou vida à sua volta. Ouviu a batida dos cascos, botas de ferro chapinhando em água pouco profunda, o som de madeira de espadas batendo em escudos de carvalho e o raspar de aço contra aço, os silvos das setas, o trovejar dos tambores, os gritos aterradores de mil cavalos. Homens berravam pragas e suplicavam por misericórdia, e a recebiam (ou não), e sobreviviam (ou morriam). As vertentes pareciam fazer truques estranhos com o som. Uma vez, ouviu a voz de Robb, tão claramente como se estivesse em pé a seu lado, gritando “A mim! A mim!”. E ouviu seu lobo gigante, rosnando e rugindo, escutou o estalar daqueles longos dentes, o rasgar da carne, gritos de medo e de dor tanto de homem como de cavalo. Haveria apenas um lobo? Era difícil dizer com certeza.
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Robb regressou para junto dela em outro cavalo, montando um malhado castrado em vez do garanhão cinzento com que descera o vale. Metade da cabeça de lobo no seu escudo tinha sido despedaçada, vendo-se madeira nua, onde profundos sulcos tinham sido abertos no carvalho, mas o próprio Robb parecia não estar ferido. No entanto, quando se aproximou, Catelyn viu que sua luva de cota de malha e a manga de sua capa estavam negras de sangue.
- Está ferido – disse.
Robb ergueu a mão, abriu e fechou os dedos.
- Não. Isto é ... sangue de Torrhen, ou... – balançou a cabeça. – Não sei.
Uma multidão de homens seguia-o ao longo da vertente, sujos, amassados, e sorridentes, com Theon e Grande-Jon à cabeça. Entre os dois, arrastavam Sor Jaime Lannister. Atiraram-no ao chão em frente do cavalo de Catelyn.
- O Regicida – anunciou Hal, sem necessidade.
O Lannister levantou a cabeça.
- Senhora Stark – disse, de joelhos. Corria-lhe sangue por uma face, de um golpe no couro cabeludo, mas a luz pálida da aurora devolvera-lhe o brilho do ouro aos cabelos. – Ofereceria à senhora minha espada, mas parece que a perdi.
- Não é sua espada que desejo, sor – disse-lhe ela. – Dê-me o meu pai e meu irmão Edmure. Dê-me as minhas filhas. Dê-me o meu marido.
-Temo que os tenha perdido também.
- Uma pena – disse Catelyn friamente.
- Mate-o, Robb – pediu Theon Greyjoy. – Arranque-lhe a cabeça.
- Não – respondeu o filho de Catelyn, enquanto tirava a luva sangrenta. – Ele é mais útil vivo que morto. E o senhor meu pai nunca perdoou o assassinato de prisioneiros após uma batalha.
- Um homem sensato – disse Jaime Lannister – e honroso.
- Leve-o e acorrente-o – disse Catelyn.
- Faça como diz a senhora minha mãe – ordenou Robb – e trate para que haja uma guarda forte à volta dele. Lorde Karstark quererá sua cabeça num espeto.
- Isso sem dúvida – concordou Grande- Jon, gesticulando. O Lannister foi levado para ser tratado e acorrentado.
- Por que motivo Lorde Karstark o quer morto? – perguntou Catelyn.
Robb afastou os olhos para a floresta, com a mesma expressão pensativa que Ned fazia com freqüência.
- Ele... ele os matou...
- Os filhos de Lorde Karstark – explicou Galbart Glover.
- Os dois – disse Robb. – Torrhen e Eddard. E Daryn Hornwood também.
- Ninguém pode acusar o Lannister de falta de coragem – disse Glover. – Quando viu que estava perdido, reuniu seus vassalos e abriu caminho pela vertente acima, esperando chegar a Lorde Robb e abate-lo. E quase conseguiu.
- Perdeu a espada no pescoço de Eddard Karstark, depois de arrancar a mão de Torrhen e de abrir o crânio de Daryn Hornwood – disse Robb. – E todo o tempo gritava por mim, Se não tivessem tentado detê-lo...
- ...Eu estaria agora de luto em vez de Lorde Karstark – disse Catelyn. – Seus homens fizeram o que juraram fazer, Robb. Morreram protegendo seu suserano. Chore por eles. Honre-os pelo valor demonstrado. Mas agora não. Não há tempo para o luto. Pode ter cortado a cabeça da serpente, mas três quarto do corpo ainda estão enrolados ao redor do castelo de meu pai. Ganhamos uma batalha, não a guerra.
- Mas que batalha!! – disse Theon Greyjoy com ardor. – Senhora, o reino não viu tamanha vitória desde o Campo de Fogo. Garanto, os Lannister perderam dez homens para cada um dos nossos que caíram. Capturamos perto de cem cavaleiros, e uma dúzia de senhores vassalos. Lorde Westerling, Lorde Banefort, Sor Garth Greenfield, Lorde Estren, Sor Tytos Brax, Malor, o Dorneano ... e três Lannister, além de Jaime, sobrinhos de Lorde Tywin, dois dos filhos da irmã e um do irmão morto...
- E Lorde Tywin? – interrompeu Catelyn. – Terá por acaso capturado Lorde Tywin, Theon?
- Não – respondeu Greyjoy.
- Até que o faça, esta guerra está longe do fim.
Robb ergueu a cabeça e afastou o cabelo dos olhos.
- Minha mãe tem razão. Ainda temos Correrio.
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