O UFC é benevolente com a selvageria?
Sidney Rezende | Sidney Rezende | 03/04/2011 12h31
Chegou a hora do torcedor brasileiro pensar melhor sobre as condições que são impostas aos lutadores de MMA que participam de "desafios" como os oferecidos pelo UFC, do organizador Dana White.
Afinal, é o espectador que prestigia, compra pay-per-view da transmissão e comparece aos locais de exibição. Ele é quem diz o que quer ver. E tem mais, no dia 27 de agosto teremos uma rodada no Brasil, no HSBC Arena, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. O momento não poderia ser mais oportuno.
Fala-se que no instante em que os ingressos forem colocados à venda a procura deverá esgotá-los em menos de duas horas, tal o frisson que o "esporte" vem despertando no mundo. Pode ser.
Mas por que o torcedor deve refletir? Porque as regras das lutas não impedem agressões desumanas, como as submetidas ao lutador Shogun Rua no seu último confronto contra Jon Jones. Até o americano vencedor saiu com a mão machucada. A luta não poderia ter ido tão longe, mas o juiz permitiu. E isto está conceitualmente errado.
Logo aparecerão os que argumentarão que os praticantes são adultos, vacinados, treinados, experientes e têm o direito de decidir seus destinos. Ok, compreendo e respeito o argumento. Mas penso que é justamente para "atletas" assim - e para cidadãos civilizados -, é que existem regras coletivas aceitas por todos.
O UFC está massacrando seres humanos como máquina de moer carne. Se alguns aparecerem com lesões irreversíveis, dane-se, a fila de novos concorrentes é longa. Tudo pelo dinheiro, meu caro, Watson. E que os "doentes" fiquem por aí pelos cantos...
O brasileiro Ricardo "Cachorrão" Almeida, de apenas 34 anos, acaba de anunciar aposentadoria do MMA. Com um cartel de 13 vitórias e cinco derrotas, ele deu uma declaração sincera e, ao mesmo tempo, intrigante:
- O MMA é um esporte grande, mas também física e mentalmente imperdoável. É uma tarefa perigosa entrar no octógono, especialmente se seu foco não está 100%. Depois de muito pensar após minha luta no UFC 128, resolvi me afastar do esporte como lutador.
Outro dia, um lutador entrou no octógono se valendo de doping. Para não ser flagrado, ele trocou sua urina pela de um animal. Foi pego e o caso está sob análise. As barbaridades como estas e outras precisam ser coibidas. A recomendação mais sensata não é acabar com lutas, que existem desde que o ser humano passou a viver em grupo, mas impôr regras absolutamente dignas e que impeçam a destruição da vida humana sadia.
Em breve teremos jovens com lesões cerebrais, ossos quebrados e conectados apenas por pinos, mãos trêmulas pelo chamado "mal de Parkinson" e rostos e corpos disformes.
Basta de selvageria! Voltemos a prestigiar o esporte sadio.